PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
África e os desafios das TIC na corrida para o desenvolvimento
Túnis, Tunísia (PANA) - A instauração duma sociedade da informação em África, nomeadamente através do uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), constitui ainda uma miragem para a maioria esmagadora dos cerca de 1,3 bilião de cidadãos do continente, que regra geral se ilustra como "lanterna vermelha" em termos de indicadores de desenvolvimento em todos os domínios.
Apesar de possuirem 16 das 30 economias com maior crescimento económico no mundo em 2013 e 2014, segundo um relatório do Banco Mundial, os países africanos, nomeadamente a África Subsariana, ainda estão longe de traduzir estes ganhos em melhorias das condições de vida dos seus povos.
Contrariamente às outras regiões do mundo, África continua a registar atrasos significantes na luta contra a pobreza, dificultando assim o acesso da população às necessidades básicas (habitação, alimentação) e aos serviços essenciais (educação, saúde, luz elétrica, água) e consequentemente o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) adotados pelos 191 Estados membros das Nações Unidas em setembro de 2000.
Não obstante África ser a segunda região com crescimento mais rápido no mundo, a sua coerência e o ritmo de crescimento (inferior a 7 porcento) são insuficientes para atingir os ODM até 2015, indica um relatório de 2013 sobre a avaliação dos progressos em África para o alcance dos ODM elaborado pela Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), pela Comissão da União Africana (CUA), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
Este relatório sublinha que para que o crescimento reduza a pobreza ele deve ser mais inclusivo, assegurando a criação de empregos e que os pobres contribuam e beneficiem do processo de crescimento. Evidentemente, estas premissas estão ainda longe de constituir uma realidade nos países africanos.
Segundo o relatório, devido ao fraco ritmo de redução da pobreza, o número de pessoas que vivem na pobreza extrema (menos de 1,25 dólar américano por dia) aumentou na África Austral, Oriental, Central e Ocidental entre 1990 e 2010 de 289,7 milhões para 413,8 milhões.
Em termos de educação básica, o relatório diz que apesar de vários países africanos estarem no bom caminho para atingir a meta de matrícula no ensino primário, a baixa qualidade da educação produziu baixas taxas de conclusão, altas taxas de reprovação e baixos níveis de alfabestimos funcional.
Todavia, África não deve ser uma sociedade estática e ficar indiferente aos progressos tecnológicos em curso no mundo se quiser « apanhar o comboio do desenvolvimento » e recuperar o tempo perdido com conflitos, instabilidade, corrupção e má governação.
Deste modo, a pretensão dos países africanos de integrar as Tecnologias da Informação e da Comunicação na educação e na formação deve ter em conta todos os factores acima descritos para evitar fracassos prematuros e esforços inúteis.
Esta pretensão louvável e valiosa dos países africanos, que é objeto dum fórum ministerial em Túnis (capital da Tunísia), deve culminar, no entanto, em ações concretas, eficazes e realizáveis para o benefício do continente.
O papel crucial das TIC foi reconhecido pelo Banco Mundial no seu Relatório de Desenvolvimento no Mundo de 1998 e no Índice de Desenvolvimento Humano de 1991 elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), intitulado "Usando a Tecnologia para o Desenvolvimento Humano".
Segundo uma obra publicada pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA) intitulada "Infraestrutura Tecnológica e Uso das TIC na Educação em África: Visão Geral", as TIC oferecem oportunidades vastas e variadas para o crescimento económico, melhores serviços, melhoria dos serviços de saúde, e educação rápida, eficiente e globalmente acessível.
Ela afirma que a Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD) reconhece as TIC como prioridade chave nos esforços de desenvolvimento para o continente, tendo identificado como vantagens comparativas para o continente africano do uso intensivo das TIC o apoio à democratização e e à boa governação, a integração na sociedade da informação, a formação, o uso na pesquisa, o apoio a programa d ensino à distância e de saúde, a gestão de conflito e o controlo de epidemias através dum sistema de alerta precoce.
Todavia, o documento refere, citando os Indicadores Mundiais de Desenvolvimento de 2011 e dados do Banco Mundial de 2002, que o uso de telefone por mil habitantes era de 125 na África do Sul, 89,8 na Tunísia, 77 no Botswana, 75 no Egito, 10,3 no Quénia, 8 no Gana, 4 em Moçambique, 3,1 na Etiópia e 2,6 no Uganda, contra 709 na Noruega, 699 na Suíça e 664 nos Estados Unidos.
Relativamente ao rácio de computadores por mil habitantes, as mesmas fontes citadas na publicação indicam que era de 54,7 na África do Sul, 31 no Botswana, 15,3 na Tunísia, 12 no Egito, 6,4 na Nigéria, 4,2 no Quénia, 2,6 em Moçambique e 2,5 no Uganda,
comparativamente a 510,5 nos Estados Unidos, 461,9 na Suíça, e 446,6 na Noruega.
Apesar de serem dados remotos (datados de há 11 ou 12 anos), a realidade em África demonstra que houve apenas melhorias significativas no uso de telefones móveis e avanços tímidos foram registados em termos de acesso aos computadores e à internet.
África ainda tem um longo caminho a percorrer para resolver os seus problemas mais elementares que outros continentes já ultrapassaram e viraram hoje as suas atenções para outras prioridades, tais como as TIC, que constituem até agora um autêntico luxo para a maioria dos povos do continente negro.
Neste contexto, o conceito de sociedade da informação/conhecimento apenas poderá ser efetivo em África com a introdução de políticas eficazes e de vontade política forte e genuína contra os males endémicos do continente (corrupção, conflitos armados, pobreza, analfabetismo, baixas taxas de fornecimento de água, eletricidade, educação, saúde) para que o continente se posicione na linha da frente da corrida para o desenvolvimento, na qual as TIC jogam um papel preponderante.
Por: António Pascoal Neto,
Enviado especial da PANA
-0- PANA TON 10dez2013
Apesar de possuirem 16 das 30 economias com maior crescimento económico no mundo em 2013 e 2014, segundo um relatório do Banco Mundial, os países africanos, nomeadamente a África Subsariana, ainda estão longe de traduzir estes ganhos em melhorias das condições de vida dos seus povos.
Contrariamente às outras regiões do mundo, África continua a registar atrasos significantes na luta contra a pobreza, dificultando assim o acesso da população às necessidades básicas (habitação, alimentação) e aos serviços essenciais (educação, saúde, luz elétrica, água) e consequentemente o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) adotados pelos 191 Estados membros das Nações Unidas em setembro de 2000.
Não obstante África ser a segunda região com crescimento mais rápido no mundo, a sua coerência e o ritmo de crescimento (inferior a 7 porcento) são insuficientes para atingir os ODM até 2015, indica um relatório de 2013 sobre a avaliação dos progressos em África para o alcance dos ODM elaborado pela Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), pela Comissão da União Africana (CUA), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
Este relatório sublinha que para que o crescimento reduza a pobreza ele deve ser mais inclusivo, assegurando a criação de empregos e que os pobres contribuam e beneficiem do processo de crescimento. Evidentemente, estas premissas estão ainda longe de constituir uma realidade nos países africanos.
Segundo o relatório, devido ao fraco ritmo de redução da pobreza, o número de pessoas que vivem na pobreza extrema (menos de 1,25 dólar américano por dia) aumentou na África Austral, Oriental, Central e Ocidental entre 1990 e 2010 de 289,7 milhões para 413,8 milhões.
Em termos de educação básica, o relatório diz que apesar de vários países africanos estarem no bom caminho para atingir a meta de matrícula no ensino primário, a baixa qualidade da educação produziu baixas taxas de conclusão, altas taxas de reprovação e baixos níveis de alfabestimos funcional.
Todavia, África não deve ser uma sociedade estática e ficar indiferente aos progressos tecnológicos em curso no mundo se quiser « apanhar o comboio do desenvolvimento » e recuperar o tempo perdido com conflitos, instabilidade, corrupção e má governação.
Deste modo, a pretensão dos países africanos de integrar as Tecnologias da Informação e da Comunicação na educação e na formação deve ter em conta todos os factores acima descritos para evitar fracassos prematuros e esforços inúteis.
Esta pretensão louvável e valiosa dos países africanos, que é objeto dum fórum ministerial em Túnis (capital da Tunísia), deve culminar, no entanto, em ações concretas, eficazes e realizáveis para o benefício do continente.
O papel crucial das TIC foi reconhecido pelo Banco Mundial no seu Relatório de Desenvolvimento no Mundo de 1998 e no Índice de Desenvolvimento Humano de 1991 elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), intitulado "Usando a Tecnologia para o Desenvolvimento Humano".
Segundo uma obra publicada pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA) intitulada "Infraestrutura Tecnológica e Uso das TIC na Educação em África: Visão Geral", as TIC oferecem oportunidades vastas e variadas para o crescimento económico, melhores serviços, melhoria dos serviços de saúde, e educação rápida, eficiente e globalmente acessível.
Ela afirma que a Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD) reconhece as TIC como prioridade chave nos esforços de desenvolvimento para o continente, tendo identificado como vantagens comparativas para o continente africano do uso intensivo das TIC o apoio à democratização e e à boa governação, a integração na sociedade da informação, a formação, o uso na pesquisa, o apoio a programa d ensino à distância e de saúde, a gestão de conflito e o controlo de epidemias através dum sistema de alerta precoce.
Todavia, o documento refere, citando os Indicadores Mundiais de Desenvolvimento de 2011 e dados do Banco Mundial de 2002, que o uso de telefone por mil habitantes era de 125 na África do Sul, 89,8 na Tunísia, 77 no Botswana, 75 no Egito, 10,3 no Quénia, 8 no Gana, 4 em Moçambique, 3,1 na Etiópia e 2,6 no Uganda, contra 709 na Noruega, 699 na Suíça e 664 nos Estados Unidos.
Relativamente ao rácio de computadores por mil habitantes, as mesmas fontes citadas na publicação indicam que era de 54,7 na África do Sul, 31 no Botswana, 15,3 na Tunísia, 12 no Egito, 6,4 na Nigéria, 4,2 no Quénia, 2,6 em Moçambique e 2,5 no Uganda,
comparativamente a 510,5 nos Estados Unidos, 461,9 na Suíça, e 446,6 na Noruega.
Apesar de serem dados remotos (datados de há 11 ou 12 anos), a realidade em África demonstra que houve apenas melhorias significativas no uso de telefones móveis e avanços tímidos foram registados em termos de acesso aos computadores e à internet.
África ainda tem um longo caminho a percorrer para resolver os seus problemas mais elementares que outros continentes já ultrapassaram e viraram hoje as suas atenções para outras prioridades, tais como as TIC, que constituem até agora um autêntico luxo para a maioria dos povos do continente negro.
Neste contexto, o conceito de sociedade da informação/conhecimento apenas poderá ser efetivo em África com a introdução de políticas eficazes e de vontade política forte e genuína contra os males endémicos do continente (corrupção, conflitos armados, pobreza, analfabetismo, baixas taxas de fornecimento de água, eletricidade, educação, saúde) para que o continente se posicione na linha da frente da corrida para o desenvolvimento, na qual as TIC jogam um papel preponderante.
Por: António Pascoal Neto,
Enviado especial da PANA
-0- PANA TON 10dez2013