Agência Panafricana de Notícias

África defende causa de seus países sem litoral

Addis Abeba, Etiópia (PANA) - Os países africanos  sem litoral enfrentam desafios múltiplos e únicos na prossecução do seu desenvolvimento sustentável, declarou esta quinta-feira, em Nova Iorque (Estados Unidos) a comissária da União Africana (UA), Josefa Correia Sacko.

Falando num painel de análise sob o lema "o desempenho dos países africanos menos desenvolvidos e dos países em desenvolvimento sem litoral em relação aos objetivos de desenvolvimento sustentável, Josefa Sacko afirmou que estes desafios resultam dos impactos persistentes dos conflitos, dos choques climáticos e da turbulência económica, que, a seu ver, agravaram as desigualdades existentes. 

A encarregada da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável da UA disse que a  atual situação geopolítica e macroeconómica mundial resultou num fraco progresso económico.

“Isto exacerbou os desafios estruturais dos países africanos menos desenvolvidos sem litoral, colocando-os fora do caminho para cumprir o programa de ação de Viena para os  paises menos desenvolvidos”, lamentou.

A diplomata angolana assegurou que este importante pacto internacional de Viena (Áustria) de desenvolvimento, assinado em 2014 para promover o desenvolvimento dos países em desenvolvimento sem litoral durante uma década que termina em 2024,  está virada para a erradicação da pobreza e da fome, bem como para a ação climática, paz, justiça e instituições sólidas, com vista a   parcerias para se atingir os objetivos sustentáveis.

Para os países em desenvolvimento em geral, referiu-se a um relatório sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável  de 2024, segundo o qual os progressos foram interrompidos e invertidos em várias frentes, agravando o poder de compra e o acesso a alimentos, com um impacto negativo na segurança alimentar e nos resultados nutricionais, apesar dos compromissos reafirmados.

Na sua opinião, para se alcançar os objetivos, são necessários esforços significativos para mitigarem os impactos das alterações climáticas, dos conflitos e da crise económica. 

Defendeu ações concretas  para acelerarem os progressos no sentido da Agenda 2030, tendo em conta as múltiplas crises enfrentadas pela  maioria destes países em África, que tiveram um desempenho fraco nas seis áreas-chave delineadas no programa de ação de Doha (Qatar). 

O programa de ação de Doha para os países menos desenvolvidos, abrange a década de 2022-2031, e foi adotado em 2022.

O mesmo, prosseguiu, centra-se em ajudar estes  a assegurarem uma recuperação sustentada e inclusiva e uma maior resiliência à pandemia da covid-19.

“Temos todos de trabalhar em conjunto para ajudarmos  estes paise africanos a cumprirem o programa de ação de Doha. É, por isso, fundamental um novo programa para os paises menos desenvolvidos, que deva tirar partido das lições aprendidas do passado e potenciar as sinergias com este pograma  a fim de aumentar a sua eficácia”, destacou a comissária da UA.

No seu entender, as  parcerias e a colaboração entre as partes interessadas podem acelerar a implementação da Agenda 2030, e ajudar a alcançar resultados animadores, dado que os países em desenvolvimento enfrentam um défice de investimento anual de 4.000.000.000 de dólares (americanos) para alcançarem os objetivos de desenvolvimento sustentável. 

Fez saber, no contexto de declínio da cooperação internacional e de aumento das tensões geopolíticas, que são  necessárias parcerias globais reforçadas para colmatarem as crescentes lacunas de financiamento, reforçarem a recuperação pós-pandemia e promoverem o desenvolvimento sustentável, em especial nos países menos desenvolvidos e noutros vulneráveis.

“Na cimeira dos objetivos de desenvolvimento sustentável, ocorrido em setembro de 2023, os chefes de Estado e de Governo comprometeram-se a fazer avançar a proposta de estímulo dos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) do Secretário-Geral (das Nações Unidas, Antório Guterres) de desbloquear anualmente 500.000.000.000. de dólares (americanos) em financiamento e investimento adicionais", defendeu a comissária.

Na sua ótica, devem  ser urgentemente implementadas medidas para concretizar este objetivo.

Trinta e três dos 45 países menos desenvolvidos e 16 dos 32 países em desenvolvimento sem litoral situam-se em África. 

Desde 1971, apenas três países africanos abandonaram este estatuto, designadamente Cabo Verde, Botswana e Guiné-Equatorial.

Desde então, nenhum país em desenvolvimento sem litoral em África passou do estatuto de país menos desenvolvido na última década, segundo a responsável.

-0- PANA JF/DD 11julho2024