PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
África: Mais um ano se foi com mãos vazias
Dakar- Senegal (PANA) – Com o sonho da sua unifica-ção encalhado entre a hipocrisia de uns e a indiferença de outros, África fecha mais um ano esbanjado, com mais recuos que progressos, à entrada, mais uma vez, dum novo ano despido de qualquer luz no fundo do túnel.
Talvez à espera de milagres para encontrar as receitas apropriadas para curar os seus males, o chamado novo continente, que caminha porém a passos largos para a velhice, termina assim mais um ano sem qualquer sinal visível de ruptura com os seus maus vícios de sempre.
Pelo contrário, a reincidência no desperdício de oportunidades para mudar o rumo da sua História foi uma constante, também em 2008, ano iniciado com a tragédia pós-eleitoral queniana e encerrado com um novo golpe de Estado na Guiné-Conakry, em jeito de “prenda de Natal”, depois de duas tentativas falhadas na vizinha Guiné-Bissau.
Tudo isso, numa tal cadeia de disfunções que, em vez de emagrecer, engordou mais ainda com o surto de novas catástrofes humanas no Zimbabwe e na RD Congo, entre outros, onde a irresponsabilidade dos homens mutilou e custou a vida a milhares de pessoas.
Fala-se em centenas de milhares de crianças, mulheres e homens inocentes perecidos, deslocados ou desonrados nos últimos quatro meses de 2008, no leste da RD Congo, fruto da nova rebelião lançada pelo general Laurent Nkunda cujas reivindicações são dificilmente perceptíveis.
Consta que, no total, esta sofrida região oriental do gigante da África Central estará já na ordem dos cinco milhões e 500 mil vidas ceifadas pela guerra civil dos últimos anos que a Igreja Católica congolesa já apelidou de “o maior drama mundial desde a II Guerra mundial”.
Como se não bastasse, um pouco mais ao sul, o Zimbabwe de Robert Mugabe mergulhou numa agonia voluntária.
Quase desgovernado, o país não foi capaz de impedir que uma evitável epidemia de cólera levasse para a cova, em apenas dois meses, perto de mil filhos seus, enquanto mais de 20 mil outros ficavam à beira da mesma sorte.
Mas, pouco antes, Mugabe foi capaz de impedir a prevalência da vontade do seu povo que suplicava a sua partida do poder que ele exerceu sozinho desde a independência do país, em 1980, e que promete não largar “até que Deus o queira”, uma situação que parece criar premissas para o seu derrube pela força.
E, infelizmente, o Zimbabwe não foi o único exemplo neste paradigma, pelo que tudo leva a crer que o continente está a caminhar para a legitimação da força militar como meio privilegiado para a mudança de regimes políticos e do despotismo como recurso para conservar o poder uma vez conquistado, legal ou ilegalmente.
Casos como a Mauritânia, que, só nos últimos dois anos, sofreu dois golpes de Estado, embora fundados em premissas diferentes, e agora a Guiné-Conakry, onde os militares parecem mais heróis do que golpistas, encaixam-se perfeitamente nesta linha de legitimação do direito da força.
Assim, os poucos progressos verificados aqui e acolá, como a tendência optimista do processo de paz na Côte d’Ivoire, a gradual consolidação de democracias emergentes como Cabo Verde, Gana e Moçambique, entre outros, foram como que uma simples gota no oceano de conflitos armados permanentes e apegos ao poder.
Outra triste constante foi a omnipresente impassividade e impotência da comunidade internacional num Mundo onde os interesses económicos de indivíduos, grupos ou mesmo de países continua(ra)m a suplantar todos os demais valores incluindo o da vida humana.
Desde a arrasada Somália, há décadas desestadualizada e na iminência de desaparecer do mapa pela sucessão crónica de secessões, à hecatombe darfuriana no Sudão, passando pelos caos do Tchad e da RD Congo, entre outros, as intervenções do exterior não estiveram à altura das exigências.
A chacina na RD Congo passou-se “nas barbas” de uma missão de manutenção da paz das Nações Unidas que mais se assemelha a uma missão de manutenção da guerra, diante da sua impotência para travar a progressão da rebelião de Nkunda e salvar vidas humanas.
A chamada força híbrida das Nações Unidas e da União Africana em Darfur, no Sudão, também se revelou incompetente para acudir ao sofrimento das populações ávidas do seu retorno à normalidade.
O mesmo se diz da missão da União Africana na Somália, um país que se despede assim do ano de 2008 com a demissão geral do Governo Federal de Transição, incluindo do seu Presidente, por dificuldades para repor a legalidade e a normalidade nacionais.
A ilha comoriana de Anjouan foi pelo menos o único caso digno de registo, em 2008, de uma intervenção séria e bem sucedida da comunidade internacional, através da União Africana, que, sem pestanejar, conseguiu repor a ordem e a legalidade depois da autoproclamação do coronel Mohamed Bacar como Presidente.
Definitivamente, o ano de 2008 para África foi, sem dúvida, mais fértil em dissabores e pouco produtivo em sabores.
Talvez à espera de milagres para encontrar as receitas apropriadas para curar os seus males, o chamado novo continente, que caminha porém a passos largos para a velhice, termina assim mais um ano sem qualquer sinal visível de ruptura com os seus maus vícios de sempre.
Pelo contrário, a reincidência no desperdício de oportunidades para mudar o rumo da sua História foi uma constante, também em 2008, ano iniciado com a tragédia pós-eleitoral queniana e encerrado com um novo golpe de Estado na Guiné-Conakry, em jeito de “prenda de Natal”, depois de duas tentativas falhadas na vizinha Guiné-Bissau.
Tudo isso, numa tal cadeia de disfunções que, em vez de emagrecer, engordou mais ainda com o surto de novas catástrofes humanas no Zimbabwe e na RD Congo, entre outros, onde a irresponsabilidade dos homens mutilou e custou a vida a milhares de pessoas.
Fala-se em centenas de milhares de crianças, mulheres e homens inocentes perecidos, deslocados ou desonrados nos últimos quatro meses de 2008, no leste da RD Congo, fruto da nova rebelião lançada pelo general Laurent Nkunda cujas reivindicações são dificilmente perceptíveis.
Consta que, no total, esta sofrida região oriental do gigante da África Central estará já na ordem dos cinco milhões e 500 mil vidas ceifadas pela guerra civil dos últimos anos que a Igreja Católica congolesa já apelidou de “o maior drama mundial desde a II Guerra mundial”.
Como se não bastasse, um pouco mais ao sul, o Zimbabwe de Robert Mugabe mergulhou numa agonia voluntária.
Quase desgovernado, o país não foi capaz de impedir que uma evitável epidemia de cólera levasse para a cova, em apenas dois meses, perto de mil filhos seus, enquanto mais de 20 mil outros ficavam à beira da mesma sorte.
Mas, pouco antes, Mugabe foi capaz de impedir a prevalência da vontade do seu povo que suplicava a sua partida do poder que ele exerceu sozinho desde a independência do país, em 1980, e que promete não largar “até que Deus o queira”, uma situação que parece criar premissas para o seu derrube pela força.
E, infelizmente, o Zimbabwe não foi o único exemplo neste paradigma, pelo que tudo leva a crer que o continente está a caminhar para a legitimação da força militar como meio privilegiado para a mudança de regimes políticos e do despotismo como recurso para conservar o poder uma vez conquistado, legal ou ilegalmente.
Casos como a Mauritânia, que, só nos últimos dois anos, sofreu dois golpes de Estado, embora fundados em premissas diferentes, e agora a Guiné-Conakry, onde os militares parecem mais heróis do que golpistas, encaixam-se perfeitamente nesta linha de legitimação do direito da força.
Assim, os poucos progressos verificados aqui e acolá, como a tendência optimista do processo de paz na Côte d’Ivoire, a gradual consolidação de democracias emergentes como Cabo Verde, Gana e Moçambique, entre outros, foram como que uma simples gota no oceano de conflitos armados permanentes e apegos ao poder.
Outra triste constante foi a omnipresente impassividade e impotência da comunidade internacional num Mundo onde os interesses económicos de indivíduos, grupos ou mesmo de países continua(ra)m a suplantar todos os demais valores incluindo o da vida humana.
Desde a arrasada Somália, há décadas desestadualizada e na iminência de desaparecer do mapa pela sucessão crónica de secessões, à hecatombe darfuriana no Sudão, passando pelos caos do Tchad e da RD Congo, entre outros, as intervenções do exterior não estiveram à altura das exigências.
A chacina na RD Congo passou-se “nas barbas” de uma missão de manutenção da paz das Nações Unidas que mais se assemelha a uma missão de manutenção da guerra, diante da sua impotência para travar a progressão da rebelião de Nkunda e salvar vidas humanas.
A chamada força híbrida das Nações Unidas e da União Africana em Darfur, no Sudão, também se revelou incompetente para acudir ao sofrimento das populações ávidas do seu retorno à normalidade.
O mesmo se diz da missão da União Africana na Somália, um país que se despede assim do ano de 2008 com a demissão geral do Governo Federal de Transição, incluindo do seu Presidente, por dificuldades para repor a legalidade e a normalidade nacionais.
A ilha comoriana de Anjouan foi pelo menos o único caso digno de registo, em 2008, de uma intervenção séria e bem sucedida da comunidade internacional, através da União Africana, que, sem pestanejar, conseguiu repor a ordem e a legalidade depois da autoproclamação do coronel Mohamed Bacar como Presidente.
Definitivamente, o ano de 2008 para África foi, sem dúvida, mais fértil em dissabores e pouco produtivo em sabores.