Agência Panafricana de Notícias

ONU alerta para ataques de outros grupos armados em Ituri

Genebra, Suíça (PANA) - O aumento dos ataques de outros grupos armados em Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo (RDC) faz temer o pior, alertou o coordenador humanitário da Organização das Nações Unidas (ONU) para o país, Bruno Lemarquis.

Paralelamente, a ofensiva dos rebeldes do Movimento de 23 (M23) prossegue no leste da RDC, precisamente nas províncias de Kivu-Norte e Sul, assinalou Lemarquis durante uma reunião em Genebra (Suíça) com os Estados membros sobre a situação humanitária naquele país.

Ele menifestou-se “preocupado com a evolução da situação em Ituri, onde grupos armados , como as Forças Democráticas Aliadas (ADF) e a Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (CODECO), que, a seu ver, são ”os mais violentos e os mais mortíferos na RDC" e que se aproveitam da dispersão das forças de segurança nacionais para intensificarem os seus ataques contra civis.

"Sem uma ação imediata e determinada para inverter esta dinâmica, Ituri poderá afundar-se rápido numa catástrofe humanitária à grande escala", advertiu Lemarquis.

Desde janeiro último, prosseguiu, mais de 200 civis fpram mortos e mais de 100.000 pessoas fugiram dos seus lares na província, que já tinha  1.400.000 pessoas deslocadas no interior do seu país.

Já explosivas, estas tensões intercomunitárias são agora perigosamente exacerbadas pelo desdobramente de milhares de soldados ugandeses, desde fevereiro último, e cuja presença se estende para além das zonas inicialmente  definidas no quadro da operação Shujaa, uma ação militar levada a cabo conjuntamente pela RDC e pelo Uganda contra estes grupos armados ativos na região, segundo o responsável, segundo o humanitário.

Fez questão de deixar claro que, atendendo à amplitude dos riscos atuais, o potencial de escalada da violência interrétnica é alarmante”, advertiu o coordenador humanitário.

Na sua ótica, a situação atual não  é simplesmente a agravação de uma crise prolongada.

“Trata-se de uma verdadeira policrise, alimentada por vários fatores desestabilizadores maiores, dos quais esta espiral de violência que se propaga para todo o leste da RDC”, exclamou-se.

Além de Ituri, mencionou igualmente civis das províncias vizinhas de Kivu-Norte e Sul, expostos a uma ofensiva do M23 desde janeiro último, e confrontados com riscos externos.

Desde a tomada, pelos mesmos rebeldes, da cidade de Goma, a capital de Kivu-Norte, a 27 de janeiro último, e a de Bukavu, a capital de Kivu-Sul, a 16 de fevereiro, mais de um millhão de pessoas foram forçadas a deslocar-se.

Combates em diferentes regiões impediram centenas de milhares de civis de terem acesso à ajuda humanitária.

“Fugindo da violência, cada vez mais pessoas procuram refúgios nas províncias vizinhas de Maniema, Tshopo e Tanganyika, onde as capacidades de respostas são muito limitadas”, lamentou Lemarquis.

Em todas estas províncias, a escalada do conflito causou graves violações do direito humanitário, nomeadamente mulheres e meninas confrontadas com níveis aterrorizadores de violência sexual, e crianças cada vez mais expostas a graves abusos, incluindo o recrutamento forçado para operações militares, de acordo com a mesma fonte.

“Os que tentam protegê-los pagam igualmente um preço alto. Desde janeiro ultimo, 11 colegas humanitários perderam a vida, ou seja, mais do que durante o ano de 2024”, deplorou  Lemarquis.

No terreno, acrescentou, o impacto destes atos nas operações humanitárias e na vida diária da população é profundo e multiforme.

Sublinhou que o acesso às pessoas necessitosas é muito complexo.

Esta deterioração da situação humanitária surge num contexto de crise mundial de financiamento da ajuda humanitária, pois o Plano de Resposta Humanitária 2025 para a RDC só é provido a 8,3 por cento, segundo um relatório de 25 de março corrente.

Certos parceiros tiveram que suspender as suas atividades, e, em resposta, atores humanitários levam a cabo atualmente uma campanha de reprogramação de emergência, coordenada pelo Escritório da Coordenação da Ajuda Humanitária (OCHA), a fim de reforçarem recursos disponívveis, em termos de assistência vital aos mais vulneraveis,

Segundo Lemarquis, esta mudança radical de modo operatório é inevitável, tendo em conta a amplitude do défice.

“Porém, sem financiamento suplementar, milhões de pessoas vulneráveis estarão privadas de assistência essencial, sujeitas a uma deterioração dramática das suas condições de vida e da sua dignidade”, preveniu

Informou que, em 2024, perto de 1.300.000.000 de dólares americanos, dos quais 70 por cento doados pelos Estados Unidos, foram mobilizados para socorrer mais 7.000.000 de pessoas necessitosas.