PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
Viúva de Nino Vieira mantém silêncio sobre morte do marido
Bissau- Guiné-Bissau (PANA) -- A exposição em câmara ardente, segunda- feira, do corpo do finado Presidente João Bernardo “Nino” Vieira da Guiné-Bissau foi a primeira aparição pública de Isabel Romano Vieira, a viúva, que, desde o brutal desaparecimento do esposo a 2 deste mês, evita quaisquer pronunciamentos públicos sobre este misterioso infortúnio familiar.
Os restos mortais do general Nino Vieira foram expostos em câmara ardente, na noite de segunda-feira e véspera do seu enterro, numa das salas da sede da Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento) em Bissau, onde a imprensa e o público tiveram o primeiro acesso às imagens da esposa.
Senão, durante os primeiros sete dias do óbito, Isabel Vieira, actualmente sob a protecção da Embaixada de Angola para onde se dirigiu a seu pedido depois de recolhida pelas Nações Unidas no fatídico dia, isolou-se completamente da sua sociedade e chumbou terminantemente todas as solicitações da imprensa para ouvir a sua voz e a sua versão.
“A senhora está muito chocada, abalada e deprimida.
Ela não quer falar à imprensa nem receber visitas estranhas à excepção dos seus familiares e outras pessoas da sua confiança porque o que ela viu é inédito, foi muita selvajaria”, indicou um próximo seu que acabava de a visitar.
Segundo fontes concordantes, a principal explicação para este silêncio releva, em primeiro lugar, da necessidade de salvaguardar a segurança do que sobrou da sua família, incluindo ela própria.
“Ela praticamente acompanhou tudo e está em condições de identificar os algozes do marido porque viu-os todos, a menos que tenham sido pessoas vindas de longe”, disseram.
Com efeito, observam as mesmas fontes, a senhora testemunhou os primeiros cenários até à sua libertação pelos atacantes que “tiveram o desplante” de a acompanhar até à casa da mãe, vizinha à sua, depois de despojarem o casal de todos os artigos de valor que ostentavam, incluindo telemóveis e bijutarias, antes de “extorquirem” dinheiro a um dos tios da viúva que encontraram no domicílio materno.
Assim, tendo ela vivido ou sobrevivido a um tal episódio, ela está melhor posicionada para desfazer o mistério artificialmente criado em torno do assassinato do marido, apesar de se acreditar que existam potencialmente mais testemunhas na vizinhança mas que não terão tido o contacto directo com os agressores, coisa de que estes últimos e os seus mandantes estariam bem conscientes.
A ser esse o quadro, não terão certamente faltado ameaças à viúva contra qualquer tentativa de denúncia sob pena de a raiva e a vingança selvagens descarregadas sobre o marido se alastrarem aos demais membros da família, desde os mais próximos aos mais distantes, o que poderia mergulhar o país num novo derramamento de sangue.
Por isso, nota-se uma certa unanimidade entre alguns sectores da população bissau-guineense, desde os círculos políticos, da imprensa ao mais comum dos cidadãos de que os militares “conhecem perfeitamente” os assassinos de Nino Vieira porque se tratou de uma morte que “convinha a muita gente”.
Segundo os relatos de alguns populares vizinhos do ex-Presidente, os cenários que se seguiram à sua morte muito se assemelhavam a uma festa.
“Muito rapidamente, apareceram pessoas que começaram a saquear a casa levando quase tudo, só deixando coisas pesadas que não facilitavam a sua transportação imediata.
Outros desataram a beber as cervejas e outras bebidas aí encontradas, que ofereciam também a quem passasse enquanto cantavam e dançavam”.
Como se não bastasse, prosseguem os mesmos testemunhos, os elementos da Polícia Militar que apareceram muito tardiamente no local para “travar” o saque transformaram-se praticamente em “continuadores da festa” pois eles chegaram mesmo a utilizar a cozinha do defunto para prepararem comida de que se serviram tranquilamente sem remorsos.
“Prender? Quem ousaria prender quem?”, interroga-se uma das testemunhas diante da curiosidade “ingénua” de se querer saber por que a Polícia não deteve ninguém entre os saqueadores, reforçando que “é tudo entre eles e eles se conhecem muito bem”.
Nas especulações da imprensa local, insiste-se no facto de que a morte de Nino Vieira foi nitidamente uma vingança contra o assassinato, na véspera, do então chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, tenente-general Batista Tagmé Na Waié, porque, para os militares fiéis a este último bem como familiares e amigos, sobretudo os rotulados como gente possuída por um espírito de "ódio e vingança viscerais", o primeiro é o único responsável pelo desaparecimento do seu chefe e ente querido e tinha de “pagar pelo que fez”.
O semanário privado local “Gazeta de Notícias” cita informações que dão conta de que um grupo de militares fiéis a Tagmé Na Waié deixou na noite do dia anterior o seu quartel de Mansoa, no norte do país, para vir a Bissau onde cercaram imediatamente o palácio presidencial.
Mas, outros círculos da imprensa acreditam também na possibilidade de os agressores terem saído mesmo da capital do país.
“Em todo o caso, seja qual for a origem desses militares o ponto comum e incontornável é que se tratou de homens fiéis ao general (Na Waié) que, uma vez no terreno, contaram com a conivência e pronta colaboração de alguns membros da Guarda presidencial”, nota-se.
Enquanto isso, algumas personalidades políticas que exigiram o anonimato consideram um “absurdo” imputar directamente a morte de um ao outro porque, prosseguem, apesar das conhecidas divergências que os dois homens nutriam, ambos sabiam que precisavam-se um do outro e que qualquer desgraça surgida no campo contrário seria sempre atribuída ao outro lado.
Daí que essas mesmas figuras acreditem na possibilidade da existência de um terceiro campo que estaria interessado pela eliminação dos dois, aproveitando-se da perspectiva latente de a opinião pública se apressar a responsabilizar um pela morte do outro.
“O cenário foi minuciosamente preparado para convencer as pessoas que foi Nino (Vieira) que matou o outro.
Mas repare que a reacção é automática, porque, neste país, tudo que acontecesse ao general (na Waié) sobrava para o Presidente e os que o mataram podem até nem ter esperado por ordens de ninguém mas agirem de forma automática”, insistiram.
Aparentemente, quem não gostou da forma como as coisas foram geridas depois destes incidentes trágicos foi o Partido da Renovação Social (PRS), o principal partido da oposição, que, na semana passada, abandonou uma sessão parlamentar para protestar contra a decisão de os deputados discutirem o assunto à porta-fechada.
O PRS, partido do ex-Presidente Kumba Yalá, pretendeu, em vão, que o debate parlamentar em torno da questão fosse aberto ao público, uma intenção gorada depois de a decisão final ser submetida à votação num hemiciclo onde esta formação política é minoritária.
O principal partido da oposição manifestou igualmente a sua indignação contra a “pressa” com que se empossou o novo Presidente da República, o então Presidente da Assembleia Nacional Raimundo Pereira, numa cerimónia ocorrida quase 24 horas depois da morte de Nino Vieira.
Os restos mortais do general Nino Vieira foram expostos em câmara ardente, na noite de segunda-feira e véspera do seu enterro, numa das salas da sede da Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento) em Bissau, onde a imprensa e o público tiveram o primeiro acesso às imagens da esposa.
Senão, durante os primeiros sete dias do óbito, Isabel Vieira, actualmente sob a protecção da Embaixada de Angola para onde se dirigiu a seu pedido depois de recolhida pelas Nações Unidas no fatídico dia, isolou-se completamente da sua sociedade e chumbou terminantemente todas as solicitações da imprensa para ouvir a sua voz e a sua versão.
“A senhora está muito chocada, abalada e deprimida.
Ela não quer falar à imprensa nem receber visitas estranhas à excepção dos seus familiares e outras pessoas da sua confiança porque o que ela viu é inédito, foi muita selvajaria”, indicou um próximo seu que acabava de a visitar.
Segundo fontes concordantes, a principal explicação para este silêncio releva, em primeiro lugar, da necessidade de salvaguardar a segurança do que sobrou da sua família, incluindo ela própria.
“Ela praticamente acompanhou tudo e está em condições de identificar os algozes do marido porque viu-os todos, a menos que tenham sido pessoas vindas de longe”, disseram.
Com efeito, observam as mesmas fontes, a senhora testemunhou os primeiros cenários até à sua libertação pelos atacantes que “tiveram o desplante” de a acompanhar até à casa da mãe, vizinha à sua, depois de despojarem o casal de todos os artigos de valor que ostentavam, incluindo telemóveis e bijutarias, antes de “extorquirem” dinheiro a um dos tios da viúva que encontraram no domicílio materno.
Assim, tendo ela vivido ou sobrevivido a um tal episódio, ela está melhor posicionada para desfazer o mistério artificialmente criado em torno do assassinato do marido, apesar de se acreditar que existam potencialmente mais testemunhas na vizinhança mas que não terão tido o contacto directo com os agressores, coisa de que estes últimos e os seus mandantes estariam bem conscientes.
A ser esse o quadro, não terão certamente faltado ameaças à viúva contra qualquer tentativa de denúncia sob pena de a raiva e a vingança selvagens descarregadas sobre o marido se alastrarem aos demais membros da família, desde os mais próximos aos mais distantes, o que poderia mergulhar o país num novo derramamento de sangue.
Por isso, nota-se uma certa unanimidade entre alguns sectores da população bissau-guineense, desde os círculos políticos, da imprensa ao mais comum dos cidadãos de que os militares “conhecem perfeitamente” os assassinos de Nino Vieira porque se tratou de uma morte que “convinha a muita gente”.
Segundo os relatos de alguns populares vizinhos do ex-Presidente, os cenários que se seguiram à sua morte muito se assemelhavam a uma festa.
“Muito rapidamente, apareceram pessoas que começaram a saquear a casa levando quase tudo, só deixando coisas pesadas que não facilitavam a sua transportação imediata.
Outros desataram a beber as cervejas e outras bebidas aí encontradas, que ofereciam também a quem passasse enquanto cantavam e dançavam”.
Como se não bastasse, prosseguem os mesmos testemunhos, os elementos da Polícia Militar que apareceram muito tardiamente no local para “travar” o saque transformaram-se praticamente em “continuadores da festa” pois eles chegaram mesmo a utilizar a cozinha do defunto para prepararem comida de que se serviram tranquilamente sem remorsos.
“Prender? Quem ousaria prender quem?”, interroga-se uma das testemunhas diante da curiosidade “ingénua” de se querer saber por que a Polícia não deteve ninguém entre os saqueadores, reforçando que “é tudo entre eles e eles se conhecem muito bem”.
Nas especulações da imprensa local, insiste-se no facto de que a morte de Nino Vieira foi nitidamente uma vingança contra o assassinato, na véspera, do então chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, tenente-general Batista Tagmé Na Waié, porque, para os militares fiéis a este último bem como familiares e amigos, sobretudo os rotulados como gente possuída por um espírito de "ódio e vingança viscerais", o primeiro é o único responsável pelo desaparecimento do seu chefe e ente querido e tinha de “pagar pelo que fez”.
O semanário privado local “Gazeta de Notícias” cita informações que dão conta de que um grupo de militares fiéis a Tagmé Na Waié deixou na noite do dia anterior o seu quartel de Mansoa, no norte do país, para vir a Bissau onde cercaram imediatamente o palácio presidencial.
Mas, outros círculos da imprensa acreditam também na possibilidade de os agressores terem saído mesmo da capital do país.
“Em todo o caso, seja qual for a origem desses militares o ponto comum e incontornável é que se tratou de homens fiéis ao general (Na Waié) que, uma vez no terreno, contaram com a conivência e pronta colaboração de alguns membros da Guarda presidencial”, nota-se.
Enquanto isso, algumas personalidades políticas que exigiram o anonimato consideram um “absurdo” imputar directamente a morte de um ao outro porque, prosseguem, apesar das conhecidas divergências que os dois homens nutriam, ambos sabiam que precisavam-se um do outro e que qualquer desgraça surgida no campo contrário seria sempre atribuída ao outro lado.
Daí que essas mesmas figuras acreditem na possibilidade da existência de um terceiro campo que estaria interessado pela eliminação dos dois, aproveitando-se da perspectiva latente de a opinião pública se apressar a responsabilizar um pela morte do outro.
“O cenário foi minuciosamente preparado para convencer as pessoas que foi Nino (Vieira) que matou o outro.
Mas repare que a reacção é automática, porque, neste país, tudo que acontecesse ao general (na Waié) sobrava para o Presidente e os que o mataram podem até nem ter esperado por ordens de ninguém mas agirem de forma automática”, insistiram.
Aparentemente, quem não gostou da forma como as coisas foram geridas depois destes incidentes trágicos foi o Partido da Renovação Social (PRS), o principal partido da oposição, que, na semana passada, abandonou uma sessão parlamentar para protestar contra a decisão de os deputados discutirem o assunto à porta-fechada.
O PRS, partido do ex-Presidente Kumba Yalá, pretendeu, em vão, que o debate parlamentar em torno da questão fosse aberto ao público, uma intenção gorada depois de a decisão final ser submetida à votação num hemiciclo onde esta formação política é minoritária.
O principal partido da oposição manifestou igualmente a sua indignação contra a “pressa” com que se empossou o novo Presidente da República, o então Presidente da Assembleia Nacional Raimundo Pereira, numa cerimónia ocorrida quase 24 horas depois da morte de Nino Vieira.