Vítimas da oposição foram a enterrar em Conakry
Conakry, Guiné (PANA) - Os 11 jovens militantes da oposição conakry-guineense, mortos recentemente durante manifestações de rua organizadas pela Frente Nacional para a Defesa da Constituição (FNDC), foram enterrados esta segunda-feira à tarde, no cemitério de Bambéto, arredores de Conakry, constatou a PANA no local.
Estes jovens, cuja idade varia entre 15 e 28 anos, foram mortos durante manifestações decorridas de 14 a 16 de outubro último, convocadas pela FNDC, para protestar contra uma eventual modificação da Constituição para permitir ao atual Presidente, Alpha Condé, disputar um terceiro mandato depois do segundo e último quinquénio que termina em outubro de 2020.
Os membros da FNDC e os seus aliados, nomeadamente líderes de partidos da oposição, artistas, sindicalistas, entre outros, rumaram massivamente para a morgue do Centro Hospitalar e Universitário (CHU) de Ignace Deen, o maior do país, para retirar os restos mortais, mas foram confrontados com uma recusa dos poderes públicos.
Vinte e quatro horas antes do apelo da FNDC para retirar os corpos e encaminhá-los para o cemitério, o Governo divulgou um comunicado, anunciando que as autópsias, que deveriam permitir conhecer as razões profundas da morte dos 11 jovens militantes, ainda não terminaram.
Os corpos foram transferidos para a morgue do hospital sino-guineense, mais próximo do cemitério de Bambéto, bastião da União das Forças Democrática da Guiné (UFDG), o maior partido da oposição, invadido por numerosas pessoas, das quais líderes políticos, todos supervisionados pelas forças da ordem desdobrados em grande número no local.
Diante dos parentes das vítimas, bem como um público numeroso, o antigo alto representante do chefe de Estado, líder da União das Forças Repúblicanas (UFR) e antigo primeiro-ministro, Sidya Touré, convidou os Guineenses a unirem-se para combater o regime instituído.
"Todos estes jovens foram abatidos porque queriam defender a Constituição, para evitar um terceiro mandato ao Presidente da República”, disse, acrescentando que isso explica a forte presença de todos para prestar uma última homenagem “aos jovens mártires”.
Exortou o povo guineense a continuar o combate para a instauração de uma verdadeira democracia na Guiné-Conakry.
A oração mortuária pelas 11 vítimas, todas de confissão muçulmana, ocorreu na mesquita de Bambéto, na presença de uma multidão impressionante que participou na sua inumação, no cemitério que serviu de local de sepultura a numerosas outras vítimas durante as manifestações inicialmente pacíficas mas que assumiram contornos de violência e de pilhagens.
O líder da UFDG e antigo primeiro-ministro, Mamadou Cellou Dalein Diallo, tem lembrado que são 104 pessoas, na sua maioria militantes do seu partido, mortas pelas forças da ordem desde a chegada de Condé ao poder, em 2010.
A FNDC decidiu adiar a manifestação pacífica desta segunda-feira para enterrar as 11 vítimas, e prometeu organizar, quinta-feira, uma nova manifestação de protesto contra o terceiro mandato de Condé.
-0- PANA AC/BEH/MAR/IZ 04nov2019