Transportadora aérea cabo-verdiana sem data para retomada de voos
Praia, Cabo Verde (PANA) - A Cabo Verde Airlines (CVA) revelou que ainda não tem data para retomar voos comerciais, apesar da reabertura, segunda-feira, das fronteiras do arquipélago, encerradas desde de 19 de março último devido à covid-19.
A posição consta de uma mensagem divulgada pelo administrador da companhia aérea, privatizada há mais de um ano e meio e liderada desde então por investidores islandeses.
“A CVA está a envidar todos os esforços para assegurar que possamos regressar a operações eficientes e fiáveis com uma diferença, assim que o ambiente comercial e a situação pandémica tenham diminuído", escreve o presidente do CVA, Erlendur Svavarsson.
No entanto, Erlendur Svavarsson afirmou que os níveis de transmissão da covid-19, no país, reduzem o interesse turístico.
“É lamentável que, no mesmo dia em que é anunciada a abertura da fronteira [desde 12 de outubro], Cabo Verde registe o maior número de casos de covid-19 jamais registados no país num dia [11 de outubro, 159 casos].
"Isto irá reduzir o incentivo para turistas escolherem Cabo Verde como destino de férias”, alertou.
Segundo ele, a CVA considera a súbita abertura das fronteiras de Cabo Verde como um primeiro passo emocionante na longa viagem que se avizinha para revigorar a indústria do turismo e a economia nacional de Cabo Verde.
Frisou que a companhia aérea espera ser parte integrante dessa viagem, com passos cuidadosos e medidos, chegaremos ao fim desta tumultuosa expedição, ligando mais uma vez quatro continentes através do 'hub' (plataforma) das companhias aéreas na ilha do Sal.
Insistindo na tónica da “inesperada reabertura das fronteiras”, Svavarsson referiu que “lamentavelmente, podemos também constatar que a maioria dos nossos principais mercados e segmentos e grupos de passageiros tradicionalmente servidos ainda permanecem inacessíveis.
"A maioria destes passageiros abstém-se de reservar voos para Cabo Verde devido às elevadas taxas de infeção, tanto a nível mundial como local”, disse.
Neste sentido, ele adverte que, apesar da abertura da fronteira de Cabo Verde, outras fronteiras “permanecem em grande parte fechadas aos passageiros provenientes de Cabo Verde, independentemente da nacionalidade.”
“Os poucos destinos que atualmente têm fronteiras abertas têm, na sua maioria, requisitos de entrada e quarentena muito rigorosos. Isto significa que se prevê que o número de passageiros permaneça baixo até que estes países abram as suas fronteiras”, afirma ainda.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51 por cento da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhão de euros à Lofleidir Cabo Verde.
Esta empresa é detida em 70 por cento pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair), que ficou com 36 por cento da CVA, e em 30 por cento por por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15 por cento da quota de 51 por cento privatizada).
O Governo concluiu este ano a venda de 10 por cento das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39 por cento restantes, que deveriam ser alienados em bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo executivo devido aos efeitos da pandemia.
A administração da CVA já tinha admitido, antes da pandemia de covid-19, que necessitava de um empréstimo de longo prazo para viabilizar a sua atividade.
Entretanto, após suspender toda a atividade em março último, são conhecidas negociações desde maio último entre o Governo e investidores islandeses para um apoio financeiro estatal, ainda sem entendimento.
Entretanto, o ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, foi chamado ao Parlamento pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) principal forca da oposição do país, para responder à problemática dos transportes, enquadrada nas questões de política interna.
Em declarações à Radio de Cabo Verde (RCV), o lider da bancada parlamentar do PAICV, Rui Semedo, disse reconhecer que a situação do setor dos transportes do país é problemática, tanto a nível aéreo como marítimo.
“A nível aéreo, temos desafios muito graves. Neste momento em que se fala muito na abertura das nossas fronteiras e na possibilidade de ligação de frequência regular a nível aéreo, nós temos um único avião. E enfrentamos mais um problema, indefinições, uma falta de esclarecimentos.
"A situação laboral é complicada.”, explica Rui Semedo, que acrescenta que além dos trabalhadores que “não sabem dos seus futuros”, é preciso saber qual é a dívida, qual é a verdadeira situação do país.
O líder parlamentar frisa que o PAICV quer que, no debate com o membro do Governo que tutela o setor, sejam esclarecidas as saídas que o Executivo propõe para o fim da crise, a fim de serem partilhadas com os Cabo-verdianos.
O maior partido da oposição quer saber, em concreto, quais são os planos do Governo para garantir a conexão do arquipélago aos outros países e também a nível interno.
Contudo, a líder parlamentar do Movimento para Democracia (MpD), partido no poder, afirmou que a solicitação do debate é uma atitude “oportunista” por parte do PAICV, que pretende comparar a situação atual com a de 2016, quando a atual Governo entrou em funções.
“No mundo inteiro, as companhias aéreas estão a atravessar problemas. As maiores ainda nem sequer retornaram as ligações.
"A nossa dificuldade tem haver com a privatização da TACV a um ano e tal, veio a crise e todos tiveram a obrigação de parar toda a frota”, defende Joana Rosa que garante que agora é o período de “tomar medidas” dentro das “disponibilidades do país”.
-0- PANA CS/DD 14out2020