Agência Panafricana de Notícias

Revolução Verde africana ignora danos de agricultura intensiva

Dar-es-Salaam, Tanzânia (PANA) – As lições tiradas da Revolução Verde asiática sobre os danos que pode causar a agricultura intensiva são ignoradas no quadro do movimento para ajudar África a ser autossuficiente no plano alimentar, avisou quinta-feira, em Dar-es-Salaam, Christian Aid, uma organização caritativa internacional.

Christian Aida deu este alerta num relatório publicado quinta-feira para marcar o Dia Mundial da alimentação que será celebrado a 16 de outubro corrente,

Técnicas agrícolas duradouras são marginalizadas a favor de uma solução milagre, nomeadamente variedades de sementes modernas de mais forte rendimento quando tratadas com adubos e pesticidas sintéticos.

Estes estrumes e sementes, que custam caro, devem ser frequentemente substituídos, sublinha o relatório.

Na Ásia, o uso de variedades de sementes modernas no âmbito de uma corrida para colheitas excecionais levou a uma aceleração da degradação dos solos, à destrução da diversidade das culturas e ao endividamento dos agricultores.

Enquanto África quer afastar o espectro da fome, alternativas duradouras suscetíveis de impulsionar a produção, os rendimentos e a segurança alimentar, ajudar a preservar solos e recursos hídricos e reforçar a resistência à mudança climática continuam a ser largamente negligenciadas.

O novo relatório "Colheitas sanas: benefícios de uma agricultura duradoura em África e na Ásia" sublinha que se não for preciso negar as realizações da Revolução Verde asiática no âmbito do melhoramento dos rendimentos e da redução da fome, estes progressos começaram a estagnar nos anos 90 devido a problemas que deverão levar Governros africanos a refletirem.
aux gouvernements africains.

Assim sendo, os fiascos notados vão da degradação dos solos para a vulnerabilidade acrescida a insetos nocivos, passando pelo endividamento dos agricultores, pela perda da experiência agrícola tradicional, pela desigualdade acrescida no seio das comunidades rurais, pela destrução da biodiversidade e pelo aumento das missões de gás com efeito de estufa da agricultura industrial.

Nestes últimos anos, as partes em causa, como o Banco Mundial, o Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID), a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), as Fundações Rockfeller e Gates e os Governos africanos fazem a promoção de uma Revolução Verde para a África e afirmam que esta evitará estes impactos negativos.

Enquanto os esforços destes patrocinadores contribuiram para concentrar a atenção dos decisores e dos doadores de fundos na necessidade de reforçar a segurança alimentar através da agricultura em África, soluções que eles recomendam tendem a muito privilegiar adubos e pesticidas sintéticos que causaram numerosos problemas na Ásia.

"Os Governos e os doadores de fundos devem seriamente rever a sua tendência a focalizar-se nas soluções milagres, exteriores e intensivas para recorrer a um apoio acrescido a abordagens agro-ecológicas duradouras", indica o relatório.

O relatório preocupa-se nomeadamente com numerosas iniciativas financiadas pela Aliança para uma Revolução Verde em África (AGRA), fundada em 2006 pelas Fundações Rockfeller e Bill e Melinda Gates, e apoiada pela DFID.

Presente em 12 países africanos, a AGRA financia grandes projetos que fazem a promoção das sementes melhoradas, da boa saúde dos solos, do acesso ao mercado dos agricultores e dos financiamentos.

Tem igualmente por objetivo aumentar a produtividade favorecendo o acesso dos agricultores a sementes principalmente híbridas – que fazem parte das variedades modernas - e produtos agrícolas como adubos químicos.

De acordo com o relatório, os distribuidores agrícolas financiados pela AGRA em oito países vendem "ainda mais produtos químicos aos agricultores e aumentam assim a sua dependência a esta matéria".

No Malawi, onde a AGRA atua, "os principais beneficiários destes esforços são os primeiros fornecedores destes estrumes, principalmente Monsanto", indica o relatório.

Ao mesmo tempo, a formação no Malawi dos distribuidores agrícolas em conhecimento da produção – uma parte preponderante do programa da AGRA – é assistida em parte pelos fornecedores dos mesmos, o que levou Christian Aid a saber se não usavam simplesmente esta formação para fazer a promoção dos seus próprios produtos.

Segundo o relatório, 70 porcento de cerca de um bilião de pessoas famintas no mundo são pequenos agricultores e rurais sem terras, isolados há muito tempo num ciclo de baixa produtividade, de ausência de bens e serviços e de um fraco poder de compra.

Hoje, estão igualmente confrontados a efeitos da mudança climática, à degradação dos solos e ao esgotamento das águas subterrâneas, segundo Christian Aid.

O relatório dá exemplos do que se pode realizar graças a técnicas agrícolas duradouras como a diversificação (cultivar uma larga variedades de culturas); a introdução de sistemas de exploração mistos (gado, aquacultura); o reforço da biodiversidade; a reciclagem (utilização das águas residuais de um sub-sistema como material agrícola num outro); o uso máximo de recursos renováveis disponíveis localmente (como sementes, adubo, estrume de canteiro, plantas que fixam os elementos nutritivos);  que permitem uma redução da dependência ou evitar completamente o uso dos adubos e pesticidas.

-0- PANA AR/SEG/FJG/TBM/SOC/CJB/DD 14out2011