Agência Panafricana de Notícias

Rebeldes de Darfur chamados à união para discutir com Governo sudanês

Addis Abeba- Etiópia (PANA) -- Os rebeldes de Darfur (no oeste do Sudão) devem constituir uma frente unida durante as negociações com o Governo sudanês para a assinatura de um acordo político destinado a pôr termo ao conflito nesta conturbada região do país, estimou terça- feira em Addis Abeba Djibril Bassolé, medianeiro principal da ONU neste crise.
Numa entrevista exclusiva à PANA, Bassolé, que é igualmente medianeiro principal da União Africana no mesmo conflito, disse que os grupos rebeldes aceitaram iniciar um diálogo sustancial com o Governo sudanês, mas continuam divididos sobre a sua abordagem.
"Os rebeldes devem falar com uma só voz.
Eles lutam pela mesma causa, nomeadamente a melhoria das condições de vida da população de Darfur.
Combatem pela instauração da boa governação, pela inclusão económica e pela inclusão das mulheres na conduta dos assuntos públicos", sublinhou Bassolé, a margem da cimeira da UA iniciada domingo último com o término previsto para terça-feira.
O medianeiro lamentou que estes rebeldes de Darfur estejam dividos, sublinhando no entanto que a sua missão "consiste em apelar a todas as partes para se unirem a fim de iniciar o processo de mediação.
Contudo ele reconheceu excepcionalmente ter aceite conduzir o processo de mediação porque pensa que os rebeldes de Darfur têm uma causa válida a defender e declarou-se disposto a explorar a sua experiência militar para ajudar a resolver esta crise política.
"Aceitei o cargo de medianeiro porque penso que são precisas melhores condições de vida para pessoas que vivem nas aldeias africanas.
São estas questões que estão na origem dos conflitos e constituem as razões pelas quais os Africanos se combatem", informou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Burkina Faso.
Os primeiros combates eclodiram em Darfur em Fevereiro de 2003, alguns dias depois da assinatura de um acordo de paz global que punha termo a um conflito similar no Sul-Darfur, que ardia durante 21 anos, tornando-se assim no mais longo conflito civil do continente africano.
O acordo de paz global culminou na formação de um Governo de União para o Sudão e num Governo separado para o Sul-Sudão que goza de uma certa autonomia, com vista a favorecer a unidade política no Sudão.
Os peritos políticos declararam-se, na altura, persuadidos de que a resolução do conflito no Sul-Sudão permitirá uma resolução rápida do conflito sudanês.
No entanto, o conflito perdura e o Governo sudanês lançou uma nova ofensiva militar para tentar retomar o controlo de uma região de Darfur, recentemente sob o controlo dos rebeldes do Movimento para a Justiça e Igualdade (MJE).
O medianeiro de paz ONU/UA, que assumiu a sua nova missão em Agosto de 2008, depois de a sua nomeação ter sido aprovada pelos dirigentes africanos durante uma reunião no Egipto, disse que o diálogo de paz substancial em Darfur progride apesar das dificuldades manifestas.
Segundo ele, a divisão no seio dos grupos rebeldes em Darfur permanece um obstáculo a uma resolução pacífica do conflito e a retomada dos combates nesta região, onde a situação já é explosiva, ameaça minar os esforços já envidados para o regresso da paz.
Bassolé indicou finalmente que o processo político estava sob ameaças iminentes do anúncio alemajado do veredicto do Tribunal Penal Internacional (TPI), que poderá traduzir-se pela detenção do Presidente sudanês Omar El-Bashir "por crimes de guerra".