Agência Panafricana de Notícias

Quénia estabelece "modelo" de educação para paz em África

Kinshasa, RD Congo (PANA) – A experiência queniana em integrar a “educação para a paz” no sistema de ensino nacional suscitou um vivo interesse dos participantes na “Mesa Redonda” sobre o assunto que decorre em Kinshasa, na RD Congo, constatou a PANA quarta-feira no local.

Desde a sua abertura terça-feira, os debates têm sido marcados, entre outros, pela curiosidade dos participantes em saber mais sobre a forma como o Quénia desenvolveu a vertente “educação para a paz” nos seus programas educativos, na sequência da crise pós-eleitoral de 2008.

Segundo os participantes neste encontro promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA), a experiência queniana pode servir de exemplo, com as devidas adaptações, para os outros países africanos saídos de guerras civis ou crises similares à do Quénia.

A delegação queniana explicou que a tragédia pós-eleitoral de 2008 no seu país, que fez centenas de mortos entre a população civil e danos materiais incalculáveis, obrigou o Governo a estudar, em concertação com as demais forças vivas da nação, uma estratégia para prevenir a repetição duma catástrofe idêntica.

Este esforço conduziu ao lançamento de uma vasta campanha nacional de sensibilização de todos os intervenientes no processo educativo, desde educadores aos decisores, passando pelos líderes comunitários e pela sociedade em geral à necessidade de mudar as mentalidades, e inculcar no cidadão os princípios e valores de amor próprio e amor ao próximo.

Segundo esclarecimentos da delegação queniana, o processo arrancou com a formação de dezenas de formadores para supervisionar a implementação da nova política educativa, seguida da elaboração de manuais para os professores e os estudantes a todos os níveis de ensino com enfoque no cultivo do espírito de tolerância intra e intercultural e de convivência pacífica na diversidade.

Criou-se igualmente uma unidade de coordenação da educação para paz integrada por membros de todos os setores da vida nacional, incluindo da sociedade civil que tem, entre outras, a missão de mobilizar as comunidades, sobretudo rurais, e elaborar programas curriculares virados para o combate contra a violência e a intolerância política, étnica e religiosa.

“Ainda não temos uma cadeira pedagógica especificamente chamada 'Educação para a Paz”, mas foram integrados temas para transmitir conhecimentos e mensagens suscetíveis de influenciar os alunos e os lares a cultivar a paz e a não violência”, ressaltou Mary Kangethe, do Ministério queniano da Educação.

Mary Kangethe admitiu entretanto que esta abordagem enfrenta o desafio do conflito entre os princípios e os valores da educação para paz e as culturas e práticas comunitárias e familiares.

Por isso, concluiu, algumas questões pertinentes à instauração e à manutenção da paz ultrapassam o âmbito de responsabilidade do setor educativo isoladamente, mas relevam da política e do sistema nacionais como um todo.

A Mesa Redonda de Kinshasa sobre "Educação, Paz e Desenvolvimento" reúne educadores e outros técnicos ligados à elaboração de programas curriculares escolares de alguns países africanos saídos de conflitos armados ou outras situações de violência bem como outros especialistas do sector e parceiros da ADEA provenientes da Europa e dos Estados Unidos.

O encontro que encerra esta quinta-feira é organizado pela ADEA em colaboração com os Ministérios da Educação do Quénia e da RD Congo, e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

-0- PANA IZ 28julho2011