Agência Panafricana de Notícias

Pessoas comem ervas fervidas com cebola e sal para sobreviverem no Sudão, diz ONG

Port-Soudan, Sudão (PANA) - Famílias sudanesas comem ervas para sobreviverem a uma crise da fome que se agrava com níveis de desnutrição que se estendem à metade dos 18 Estados do Sudão, alertou Save the Children (Salve as crianças). 

Num comunicado publicado terça-feira, a organização caritativa internacional alertou para a fome que afeta doravante a metade destes Estados no Sudão.

Afirma que a taxa extrememamente elevada de desnutrição aguda global nas crianças menores dos cinco anos de idade em 19 localidades de nove Estados expõe as comunidades a um risco elevado de fome pela primeira vez desde o início da guerra, há mais de 18 meses.

O flagelo foi declarado no Campo de Deslocados de  Zamzam, no oeste do Sudão, que alberga cerca de 500.000 pessoas.

É pela terceira vez que a fome é oficialmente constatada desde a criação do sistema internacional de controlo da fome, há 20 anos.

 “Todavia, a crise afeta doravante uma grande população”, lamenta a organização.

Acrescentou que pelo menos  três inquéritos recentes revelaram taxas de desnutrição aguda global superiores a 30 por cento da população com menos de cinco anos de idade, o que, a seu ver, constitui uma medida chave do estado nutrimental de uma população e um dos indicadores de base que permitem avaliar a gravidade de uma crise humanitária.

Mais de 2.000.000 pessoas residentes nestas localidades, ou seja, cerca de quatro por cento da população, precisa com urgência de alimentos para sobreviverem, de acordo com Save the Children, que avisa que “cada dia que passa aproxima-as da morte por causa da fome e de problemas de desnutrição.”

Após ter analisado inquéritos sobre a desnutrição no Sudão, levados a cabo por um grupo de trabalho composto pelas Nações Unidas, pelo Ministério federal sudanês da Saúde e por Organizações Não Governamentais (ONG), das quais Save the Children, nos 18 Estados, a mesma instituição disse ter constatado “uma deterioração alarmante da situação nutrimental” em 19 localidades.

Considerados como limiar de fome, os 30 por cento destas taxas de desnutrição foram assinaladas nas localidades de Al Lait, At Tawisha e Um Kadadah, em Darfur-Norte (oeste do país). 

Mais da metade destes inquéritos revelaram que mais de 20 por cento das crianças sofrem de desnutrição aguda e que a prevalência de morbidade a mais elevada é de 74,2 por cento.

Segundo uma especialista em nutrição na Save the Children em Darfur, Sara, “são crianças de tenra idade, menores dos cinco anos, que mais sofrem deste mal.”

“Nos centros de saúde, vi crianças apresentarem um emagrecimento notável e complicações médicas como fortes febres, vómitos incessantes, inapetência e grande letargia”, indignou-se.

Nas suas casas, prosseguiu, as mães não têm outra escolha para darem de comer aos seus filhos, e algumas delas recorrem a mecanismos de adaptação drásticas.

Citou as localidade de Tawilla e El Fashir, onde pessoas comem ervas fervidas com cebola, amendoím e sal a fim de sobreviverem.

Em todo o país, mais de 25.600.000 pessoas, perto da metade da população, precisam de ajuda, porque a crise agrava a penúria alimentar, expondo crianças a um risco acrescido de desnutrição. 

A situação surgem quando as famílias e crianças vivenciam o mês mais violento que o Sudão já conheceu, com uma maior escalada dos combates em Darfur-Norte e no norte de Cartum, a cidade capital do país, pondo em perigo a vida de mais de 1.600.000 pessoas deslocadas, das quais mais de 850.000 crianças.

Dados recentes demonstram que mais de 12.000.000 pessoas fugiram dos seus lares desde que o conflito armado eclodiu em abril de 2023, fazendo do Sudão a maior crise de deslocamento interno que afeta mais de 5.000.000 crianças.

Segundo os mesmos documentos, mais de 2.000.000 pessoas atravessaram as fronteiras em busca de refúgio noutros países.

Mais de 20.171 pessoas, das quais crianças, foram mortas desde o início das hostilidades no país, de acordo com as mesmas fonte.

O diretor nacional interino de Save the Children no Sudão, Mohamed Abdiladif, declarou que as crianças sudanesas sobrevivem a bombas e balas, mas que se arriscam a morrer de fome e de doenças a ela ligadas.

“Sabemos que as taxas de desnutrição nas cranças menores dos cinco anos de idade no Sudão são das mais elevadas no mundo. Mais a subida vertiginosa das taxas de desnutrição aguda global é o último sinal de que os bebés pagarão um tributo pesado neste conflito, sofrendo da fome, adoescendo e correndo o risco de morrer de causas ligadas à desnutrição, se medidas não forem tomadas com urgência para inverterem o quadro”, alarmou-se.

Apelou à comunidade internacional para tomar com urgência medidas políticas e instaurar um cessar-fogo imediato com vista a progressos significativos rumo a um acordo de paz duradoura.

Também recomendou o aumento de financiamentos para a ajuda alimentar de que precisam milhões de crianças vulneráveis no Sudão.

-0- PANA MO/RA/BAI/IS/DD 22out2024