Agência Panafricana de Notícias

Peritos preconizam mobilização de recursos locais para acelerar crescimento em África

Arusha, Tanzânia (PANA) – A mobilização de recursos locais e interafricanos deverá ser a via a seguir se o continente quiser ver a sua modernização económica passar à velocidade superior e acelerar o crescimento, disseram peritos que participam na Assembleia Anual do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).

Num debate de alto nível sobre como África poderá modernizar-se e permitir aos seus povos conceber e encarregar-se totalmente das suas próprias estratégias locais, os peritos sublinharam a necessidade de priorizar a questão da energia e do desenvolvimento das infraestruturas.

Mas antes de o continente conhecer uma nova viragem no caminho batizado "África Transforma África", alguns ressaltaram que a ausência de mecanismo para supervisionar e coordenar a implementação dos projetos poderá anular as esperanças de se criar infraestruturas que poderão ser comparáveis com as melhores que existem nos países industrializados.

Sugeriram a criação de uma instituição piloto que será nomeadamente encarregue da coordenação e da implementação de projetos regionais.

Todavia, a ideia não agradou o presidente do BAD, Donald Kaberuka, que rapidamente alertou que "já temos suficientes instituições. Não temos de confundir a criação de instituições com a realização de ações".

De acordo com ele, África poderá trabalhar com as suas comunidades económicas regionais e obter os resultados esperados, com a condição de que estes agrupamentos sejam dotados das capacidades necessárias.

"Identifiquemos os problemas e façamos avançar as coisas. Fizemos suficientes estudos, sabemos onde obter financiamento e competências, mas reuní-los é difícil", disse Kaberuka, que sublinhou a ausência de rigor na implementação dos projetos em atraso em África.

"Temos de explorar novas formas de financiamento para as infraestruturas no continente e fazer inovações aos instrumentos de que dispomos atualmente", sugeriu por seu turno Andrew Alli, presidente e diretor da firma "Africa Finance Corporation" da Nigéria.

Alli, um dos oradores durante o debate, sublinhou o desejo de muitos países africanos obterem investimentos nas infraestruturas em curso o que prova a sua abertura a novas ideias.

Muito experiente em gestão de finanças e de investimentos, Alli exortou os Governos africanos a criarem um clima mais propício aos investimentos para os investidores.

"Existe uma penúria de ativos para investir, mas muitos países podem começar a desenvolver mercados de capitais. Ainda há muito por fazer para implementar os projetos de infraestrutura, pois estes levam muito tempo e grandes montantes de dinheiro", disse.

Alli, um antigo agente de investimentos junto da Sociedade Financeira Internacional, disse que os investidores, locais como estrangeiros, deverão ser tratados igualmente para evitar o risco de complicações.

Incentivou as empresas africanas públicas e privadas a procederem a investimentos transfronteiriços.

Na ocasião, a ministra nigeriana da Economia e Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala, disse que a indústria da construção foi largamente negligenciada em África, apesar do seu potencial para lançar um crescimento fenomenal.

"Muitos países não possuem sistema adequado de hipoteca financeira. Temos de pensar de modo criativo como adaptá-lo no contexto atual e os Governo têm o dever de fazer o trabalho em primeiro lugar", disse.

Relativamente aos investimentos interafricanos, o ministro ressaltou que existem grandes possibilidades para empresas já que vários bancos desempenham o papel de rampa de lançamento para empresas graças às suas filiais fora do seu país de origem.

"Os Africanos precisam comunicar sobre os investimentos interafricanos. O potencial para nos desenvolvermos é enorme, sem contar com a chegada dos Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE)", disse.

Emitiu dúvidas sobre as cifras pois disse não saber de onde vinham, apesar de alguns peritos estimarem as exigências de África em investimentos nas infraestruturas essenciais em 93 milhões de dólares americanos com um défice atual de cerca de 45 milhões.

"Estou com o sentimento de que o dinheiro privado existe e pronto para ser investido nas infraestruturas. Temos de superar o défice, mas não é só uma questão de dinheiro. Podemos fazer mais para o transporte rodoviário e, quando se trata de investimento nos projetos energéticos, existem muitas oportunidades desperdiçadas", ressaltou Kaberuka.

"África precisa, à semelhança da Europa e das Américas de boas estradas. Não deve aceitar nada a menos do que o melhor no mundo", acrescentou.

Para além do desenvolvimento de infraestruturas, os participantes exprimiram
pontos de vista variados sobre a qualidade do crescimento observado, nos últimos anos, em África e o seu impacto para o melhoramento da vida dos pobres.

Durante a última década, o continente registou um crescimento promissor com uma taxa de quatro porcento, mas agora os estudos demostraram que África não precisa apenas de um crescimentos rápido, mas que deverá atingir a taxa mínima de sete porcento de redução da pobreza e para criar empregos.

Neste sentido, Okonjo-Iweala disse que cada país deverá proceder à sua análise e identificar os obstáculos ao seu crescimento.

"Cada porção de análise revela que cada país está à busca de infraestruturas como um obstáculo para balizar o terreno para o crescimento", indicou, observando ao mesmo tempo que outros obstáculos são questões de competência, de governação e de estabilidade política.

"O crescimento não reduz automaticamente a pobreza", disse Eleni Gabre-Madhin Z, diretora executiva da Bolsa de Valores da Etiópia.

"Quando procuramos soluções africanas, a primeira coisa que ressalta muito amplamente é que devemos estar ao lado dos pobres do meio rural. A experiência da Etiópia mostra que perturbamos as outras economias com crescimento mais rápido em África, mas a nossa luta contra a pobreza ultrapassou o crescimento", afirmou.

Graças às suas trocas de mercadorias, a Etiópia conseguiu aumentar as suas receitas de café em cerca de 38 para 65 porcento, com um impacto positivo nos benefícios dos seus 15 milhões de pequenos produtores.

Segundo Eleni, a Bolsa da Etiópia não foi concebida no modelo das trocas do Ocidente, mas "concentra-se sobretudo nos pequenos exploradores do país para lhes permitir progredir".

-0- PANA AR/VAO/ASA/AAS/CJB/IZ 31maio2012