Paz nunca se alcança de uma vez para sempre, diz bispo
Luanda, Angola (PANA) - A paz nunca se alcança de uma vez para sempre, antes, deve estar constantemente a ser edificada, pois as causas nobres exigem uma dose maior de compromisso, tenacidade e doação, declarou domingo o bispo da Diocese de Ndalatando, na província de Cuanza-Norte (norte), o Dom Almeida Canda.
"Como se sabe, a paz é um processo de amadurecimento e de crescimento. Ela é um bem árduo e tem de ser conquistada passo a passo", respondeu o bispo de Ndalatado a uma pergunta feita pelo Jornal de Angola, sobre a "consolidação completa da paz em Angola."
Apelou a cada cidadão para dizer "paz” através da sua vida, do seu agir e do seu rosto.
Defendeu, contudo, "um investimento no desenvolvimento e na justiça social", argumentando que "a ausência crónica da justiça social pode beliscar a paz."
"Há 21 anos que a pomba da paz voa livremente no céu azul de Angola. Em caminhada longa e árdua, Angola deu e continua a dar passos significativos na implementação do processo de paz. Agradeçamos a todos esta dádiva, tornando-nos dignos dela. Quantos desejos enchem a alma de cada um de nós, ao fazer menção aos 21 anos da restauração de Angola!", exclamou-se
O seu desejo, como angolano, é que todos se comportem uns com os outros em conformidade com o nome com que se definem, "por sermos todos irmãos da mesma Pátria."
Aconselhou que cada cidadão veja, em cada irmão, por quem passa, com quem trabalha, o próximo, a imagem e semelhança de Deus.
Deste modo, prosseguiu, "poderemos trilhar um caminho seguro para mantermos a paz e nela acreditarmos."
A seu ver, precisa-se de cuidados e vigilância para que a paz se consolide como uma rocha firme.
Referiu-se à palavra de Gandhi (advogado, nacionalista, anticolonialista e especialista em ética política indiana) segundo a qual, a paz é "um ideal nunca totalmente atingível.”
"Para cada um de nós, ela permanece uma missão constante, a aceitação de nós mesmos. Trágico é viver alguém em guerra civil consigo mesmo”, considerou.
Na sua ótica, cada cidadão é chamado a dizer "paz” através da sua vida, do seu agir, do seu rosto.
É urgente, acrescentou, consolidar o que já se alcançou, traduzindo na vida familiar, social e política o princípio do apóstolo Paulo segundo o qual "vencer o mal com o bem” (Romano 12, 21).
Cada um verá qual é o setor da sua vida, do seu partido e a região do seu coração onde é mais necessário hastear a bandeira branca da paz, segundo o bispo, para que "urge fazer guerra à guerra dos nervosismos, das impaciências e intolerâncias, deixando-nos guiar por ideais construtivos e não por emoções derrotistas."
Promoveu "o bom combate da alegria, da serenidade, da paz e do progresso social."
Serve sempre de estímulo o ensinamento de Santo Agostinho, que considerava sublime e divina a tarefa de buscar a tranquilidade da ordem entre os cidadãos, com a máxima de que "Deve querer-se a paz, mesmo quando se é constrangido à guerra".
Uma paz verdadeira passa necessariamente pelo desenvolvimento e pela justiça social, defendu.
Se é verdade que o desenvolvimento favorece a paz, considerou, também é verdade que a paz é fator de desenvolvimento.
Frisou por outro lado que a ausência crónica da justiça social pode beliscar a paz.
A paz é obra da justiça mas, também, diz a razão humana, onde não há justiça social não pode haver paz, como ensina a experiência, defendeu.
Se a paz é a tranquilidade da ordem como ensina Santo Agostinho, onde houver desordem, falta a tranquilidade, e onde faltar a tranquilidade, não há paz, aconselhou.
Daí a necessidade impreterível de promover o desenvolvimento e a dimensão social da justiça, afirmou.
Sublinhou que a dimensão social da justiça assenta em vários pilares, que são o seu insubstituível suporte, nomeadamente o direito à educação, a saúde, a assistência, a habitação, a água potável, a energia e o emprego.
O mesmo é dizer que a base de toda a tranquilidade e paz sociais está no reconhecimento e coerente respeito pelo primeiro artigo dos Direitos Humanos, o qual vem a ser um resumo e como o fundamento de todos os outros direitos, referiu-se.
Segundo este artigo, todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos, dotados de razão e consciência, e devem agir em relação uns com os outros com espírito de fraternidade.
Urge, pois, que a dimensão social seja revigorada com maior escuta do nosso contexto social e com ações adequadas, compreendendo a formação da consciência moral dos cidadãos, programas para a inclusão e desenvolvimento humano integral das pessoas que vivem múltiplas dimensões de pobreza extrema, alertou o prelado.
Recomendou ainda programas que incluam a retransmissão de valores, o combate à corrupção e apelos aos gestores públicos para pautarem o seu comportamento pela justiça social.
Quanto aos principais ganhos da paz na província do Cuanza-Norte, disse que nela merece especial consideração o setor energético.
Felicitamos o Governo da Província por este bem tão precioso e pelo esforço empreendido na extensão da rede a todos os municípios.
É desejo de todos que o programa contemple, também, as comunas não abrangidas na primeira fase.
Que o Governo invista ainda mais neste setor para a cobertura total da província, que honre os compromissos assumidos nas últimas eleições (a 24 de agosto de 2022), para que haja honradez na palavra e ação, desejou.
Só procedendo assim, prosseguiu, os governantes se tornam dignos da confiança do povo.
-0- PANA JA/DD 4dezembro2023