Agência Panafricana de Notícias

Países pobres gastam mais na compra de armas em detrimento da Educação

Kinshasa, RD Congo (PANA) – Os países mais pobres do mundo gastam mais na compra de armas do que na educação básica dos seus cidadãos, segundo o relatório mundial deste ano sobre a iniciativa universal da Educação para Todos (EPT).

O relatório indica que esta situação está na base do aumento da pobreza nestes países que têm a particularidade comum de desviar os seus recursos nacionais para “despesas militares improdutivas”.

No documento são citados países como o Tchad, que, “mesmo tendo os piores indicadores da educação no mundo, gasta quatro vezes mais em armamento do que no ensino primário”.

“Se os países que despendem mais nas suas Forças Armadas que no ensino primário pudessem reduzir estas despesas militares em pelo menos 10 porcento, podiam escolarizar dois milhões e 700 mil crianças dos cerca de um quarto da sua população atualmente fora do sistema escolar”, diz o relatório.

Este documento foi apresentado durante uma Mesa Redonda sobre “Educação, Paz e Desenvolvimento” organizada de 26 a 28 de julho, em Kinshasa, capital da RD Congo, pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA).

Segundo o relatório, o desvio de recursos nacionais para despesas militares e a perda de receitas públicas significa que os conflitos armados transferem a responsabilidade pelo financiamento da Educação dos Governos para as famílias.

Na RD Congo, por exemplo, “as famílias pagam propinas não apenas para as escolas mas também para os serviços de administração e gestão do todo o sistema”, indica o documento apresentado por Sherri Le Mottee, uma consultora sul-africana ao serviço do Polo de Qualidade Interpaíses (PQIP) da ADEA sobre a Educação para a Paz.

Le Mottee indicou que quando um grande número de jovens lhes é negado o acesso ao ensino básico de qualidade, "a pobreza, o desemprego e o sentimento de desespero daí resultantes pode atuar com agentes de recrutamento forçado para as milícias armadas".

Ela citou um inquérito sobre antigos soldados e membros não combatentes de milícias na Serra Leoa que concluiu que 80 porcento destes abandonaram a escola antes de ingressar em grupos rebeldes porque, em muitos casos, as escolas tinham sido destruídas.

Por outro lado, disse, o sistema de educação e ensino tem sido ativamente utilizado em vários conflitos armados "para reforçar a dominação política, a subordinação de grupos marginalizados e a segregação étnica e linguística".

“Uma planificação sensível a conflitos no setor educativo é o reconhecimento de que toda e qualquer definição de políticas terá consequências para a edificação da paz e para a perspetiva de reverter o retorno à violência. Há muitos canais pelos quais o ensino pode influenciar as perspetivas para a paz", refere o relatório.

Entre tais canais para influenciar as perspetivas para a paz, o documento cita a eliminação de propinas escolares, a aposta em iniciativas comunitárias, a reabilitação de escolas e de salas de aulas, o reconhecimento do nível de escolaridade dos regressados e a oferta de progamas de acelerados de aprendizagem.

O documento conclui que embora a reconstrução pós-conflito coloque desafios enormes, o êxito no setor educativo "pode ajudar a construir a legitimidade governamental e pôr as sociedades na via de futuros mais pacíficos".

A Mesa Redonda de Kinshasa foi conjuntamente organizada pela ADEA, pelos Ministérios da Educação da RD Congo e do Quénia e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência, e Cultura (UNESCO), através do seu Bureau Regional de Educação para África (BREDA).

No discurso de encerramento do encontro, o ministro congolês do Ensino Primário, Secundário e Profissional, Maker Mwangu Faamba, qualificou a reunião de “um sucesso”, indicando que os seus objetivos “foram atingidos”.

Ele reconheceu que o impacto negativo das guerras civis nos países saídos de conflitos “impõe esforços consideráveis de pacificação, unificação e reconstrução para retomar e prosseguir os programas de desenvolvimento”.

Defendeu a interiorização da definição exata da palavra “paz”e corroborou que os países africanos são chamados a conceber currículos e manuais escolares apropriados “para aplicar correta e integralmente os programas de educação cívica e moral em que se inclua a Educação para a Cultura da Paz”.

“Formemos os nossos alunos na escola sobre a prevenção de conflitos, de disputas, de turbulências, da violência, da agitação e da guerra. Formemo-los sobre o respeito pela pessoa e vida humanas, sobre respeito por outrem e pelos direitos alheios, sobre o respeito pela diferença e pela tolerância”, concluiu.

Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Kinshasa

-0- PANA IZ 30julho2011