Agência Panafricana de Notícias

Organizações camponesas analisam crise alimentar no Senegal

Dakar- Senegal (PANA) -- Delegados de organizações camponesas do Níger, da Côte d'Ivoire e do Senegal reuniram-se esta quarta- feira em Dakar para analisar estratégias de saída da crise alimentar marcada pela alta dos preços dos produtos agrícolas que assola o continente africano.
Na abertura dos trabalhos, o presidente do Conselho Nacional (senegalês) de Concertação dos Rurais (CNCR) -estrutura anfitriã do encontro-, Samba Guèye, sustentou que "a promoção de uma agricultura familiar produtiva, competitiva e duradoura", constitui um dos maiores eixos do desenvolvimento das actividades das organizações camponesas e deve traduzir-se por uma melhoria do quadro de vida e das relações sociais das populações.
Quanto ao Senegal, Gueye denunciou a má campanha agrícola 2007- 2008 cujas produções não permitiram, segundo ele, a nenhuma região nutrir a sua população apesar da Grande Ofensiva Agrícola para a Alimentação e Abundância (GOANA) e um subsídio de 10 bilhões de francos CFA (cerca de 20 milhões de dólares americanos) concedido pelo Estado ao mundo rural.
"São precisos investimentos maciços na agricultura para criar um espaço económico viável e atingir a autosuficiência alimentar", sustentou Gueye, instando o Governo senegalês a iniciar uma larga concertação com as organizações camponesas a fim de criar uma comissão para a comercialização da produção agrícola.
À margem do atelier, o presidente do Quadro de Concertação dos Produtores de Amendoim (CCPA) do Senegal, Ibrahima Niasse, exortou, numa entrevista à PANA, o Governo senegalês a desbloquear a questão do financiamento que mina o bom desenvolvimento da campanha de comercialização do amendoim.
Estimando que a situação se tornou difícil para os produtores de amendoim, Niasse indicou que a ausência de locais de venda oficiais leva estes camponeses a esbarratar a sua produção nos mercados semanais por 120 a 125 francos CFA (0,24 dólar americano) o quilograma enquanto o preço oficial é de 165 FCFA (o,32 dólar americano) o quilograma.
"O Governo deve desbloquear esta situação pagando a dívida de 23 bilhões de FCFA (mais de 45 milhões de dólares americanos) que ele deve aos operadores privados compradores do amendoim", disse.
Niasse acrescentou que estes operadores não poderão, assim, obter junto dos bancos novos empréstimos que lhes permitam comprar a produção.
"O Estado tem uma grande responsabilidade nesta situação lamentável", prosseguiu Niasse, exprimindo o desejo de ver uma solição rápida na sequência da visita esta semana do ministro senegalês da Agricultura, Hamath Sall, a Kaolack (centro), principal zona de produção do amendoim.
Estimou em cerca de 60 bilhões de FCFA (mais de 117 milhões de dólares americanos) o financiamento necessário para vender 700 mil toneladas da produção de amendoim de 2008.
Segundo as estimativas do Governo, a produção destes bagos oleaginosos atingiu 726 mil 37 toneladas em 2008 contra 331 mil 195 toneladas em 2007, ou seja um acréscimo de 95 por cento.