Agência Panafricana de Notícias

Oposição senegalesa prepara marcha contra "estátua africana"

Dakar- Senegal (PANA) -- A oposição senegalesa reiterou a sua determinação de sair à rua sábado, "com ou sem autorização", para protestar contra a anunciada inauguração, no mesmo dia, do polémico "Monumento da Renascença Africana" pelo Presidente Abdoulaye Wade na capital, Dakar.
A decisão foi confirmada no termo de um encontro de concertação que reuniu quinta-feira, em Dakar, a direcção das formações políticas que formam a Benno Siggil Senegal (BSS), a maior coligação de partidos da oposição radical no país.
Os líderes da BSS convidaram assim os seus militantes e apoiantes em todo o território nacional a aderir em massa a esta marcha "pacífica" que prevê percorrer algumas artérias da capital senegalesa no dia da inauguração do monumento.
Eles prometem que a manifestação terá lugar na data e hora previstas "com ou sem autorização" das autoridades governamentais e apesar das ameaças do movimento juvenil do partido no poder de tudo fazer para inviabilizar a iniciativa.
De acordo com o porta-voz do encontro de quinta-feira, Talla Sylla, todas as disposições necessárias foram tomadas para que a manifestação decorra "da forma mais perfeita possível".
"A Benno decidiu manifestar-se e ela vai manifestar-se", disse Sylla, insistindo que "a marcha terá lugar nas melhores condições possíveis porque todas as disposições práticas foram tomadas uma vez conhecendo bem (o regime do Presidente) Wade e os seus métodos".
Às promessas de sectores ligados ao poder de obstruir a marcha, a BSS respondeu estar pronta para enfrentar todas as consequências da sua iniciativa que, para ela, representa o exercício de um direito constitucionalmente consagrado.
"A Constituição (do país) autoriza todo o Senegalês que tenha algo a dizer a manifestar-se sem pedir autorização, bastando simplesmente informar por escrito à autoridade competente, três dias antes da data da marcha", esclareceu, por seu turno, Youssou Mbow, presidente da Comissão de Comunicação da BSS.
Para este último, nada impedirá a BSS de sair à rua porque esta informou a autoridade competente "com seis dias de antecedência".
Se o Estado "se aventurar a reprimir esta manifestação, que (o Presidente) Abdoulaye Wade saiba que ninguém tem o monopólio da violência", advertiu.
A escultura em causa foi erguida por especialistas coreanos sobre uma colina à marginal de Dakar, envolvendo obras oficialmente estimadas em cerca de 14 biliões de francos CFA (quase 30 milhões de dólares americanos).
O Governo dedicou uma atenção muito especial aos preparativos da sua cerimónia de inauguração, pelo Presidente Wade, no quadro das festividades do 50º aniversário da independência nacional a comemorar-se a 4 de Abril corrente, na presença de muitos ilustres convidados estrangeiros.
Foram convidados vários estadistas africanos e outras ilustres figuras, para além de uma centena de artistas culturais do continente e outros que animarão concertos, exposições, projecções de filmes, teatro e outros espectáculos.
Trata-se duma estátua em cobre de cerca de 50 metros de altura representada por um homem carregando consigo uma criança no seu braço esquerdo enquanto segura uma mulher com a outra mão e todos virados para o Oceano Atlântico.
Para o Presidente Wade, seu promotor, o monumento representa "uma África que se liberta de todas as formas de dominação para entrar num mundo novo".
Mas a sua edificação sempre suscitou, desde o início, polémicas e contestações, sobretudo entre a oposição política e certos líderes religiosos, que questionam a sua utilidade, oportunidade e conformidade com a doutrina islâmica.
No entender destes críticos, o projecto foi apenas uma forma de esbanjar e desviar os dinheiros públicos para satisfazer interesses pessoais ao mais alto nível do Estado num país altamente pobre com sérios problemas básicos e prioritários.
"É realmente inadmissível injectar uma soma tão colossal para edificar uma estátua que representa uma vergonha para toda a nação senegalesa, enquanto outras prioridades como a saúde, a agricultura ou a educação podiam beneficiar desses biliões", sentencia um líder religioso.
Num artigo publicado na imprensa local, este último diz que prefere chamar a estátua de "monumento do esbanjamento" e considera a sua edificação uma heresia contra a religião muçulmana que "proíbe a escultura da imagem de um ser vivo" enquanto objecto de culto.