Agência Panafricana de Notícias

Oposição pede explicações sobre situação da companhia aérea cabo-verdiana

Praia, Cabo Verde (PANA) – O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), principal força da oposição do país, desafiou o Governo a contar aos cabo-verdianos "toda a verdade" sobre o negócio da privatização e o futuro da companhia aérea nacional, a antiga TACV e atual Cabo Verde Airlines (CVA), apurou a PANA terça-feira de fonte oficial.

Em conferência de imprensa, o vice-presidente do PAICV, Rui Semedo, disse ter chegado a hora de Governo falar a verdade deste processo “sem qualquer tipo de expedientes, que mais soam a manobras de diversão”.

O Governo deve "falar toda verdade aos Cabo-verdianos sem subterfúgios e qualquer tipo de expedientes” sobre os compromissos do parceiro estratégico e os segredos do negócio da privatização" da TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde, insistiu o dirigente político.

Rui Semedo realçou que as recentes declarações do ministro do Turismo, Carlos Santos, sobre os TACV, com destaque para o estacionamento dos aviões da CVA, em Miami (Estados Unidos), deixou a situação “ainda mais confusa” do que já estava, porque “não disse absolutamente nada que interessasse ao esclarecimento de todos”.

Para o PAICV, segundo ele, o parceiro Icelandair queria com isto colocar os seus aviões longe de Cabo Verde para poder negociar com o Governo “em situação de vantagem e em posição de força”, frisando que a ausência de aviões coloca aos trabalhadores “maiores dificuldades na reivindicação dos seus direitos”.

Rui Semedo considerou como “falsa a propaganda do Governo” de que, em 2016, a TACV não tinha nenhum avião, quando, referiu, era do conhecimento de todos que a empresa tinha um Boeing e três ATR a operar, normalmente.

“Todos sabemos também que foi a Icelandair que mandou parar o Boeing encontrado cá para se poder alugar os seus próprios aviões a um preço exorbitante”, disse o também líder parlamentar do maior partido da oposição, em Cabo Verde.

Segundo ele, foi a partir dessa decisão de devolver essa aeronave que começa o grande problema desse ‘negócio da China’. “Todos nós sabemos também, que os ATR foram retirados do circuito para entregar o mercado doméstico a uma operadora em regime de monopólio”, acusou.

Rui Semedo recordou também, que no âmbito do processo da preparação da TACV para a privatização, o Governo assumiu todas as dívidas e colocou à venda uma empresa limpa, sem nenhuma dívida e que, quando da venda dos 51 por cento, foi o parceiro que ficou a dever ao Estado de Cabo Verde cerca de 48 mil contos (cerca de 436 mil euros).

“Aqui também, o Governo deve mais uma explicação aos Cabo-verdianos para ficarmos a saber se, para além dos avales, geramos novas dívidas ao parceiro estratégico, quando se sabe que nem os 48 mil contos foram pagos, que a CVA deve à empresa cabo-verdiana de aeroportos e segurança aérea (ASA) e deve aos trabalhadores”, exigiu.

Acrescentou que o Governo deve também esclarecer, claramente, como está a negociar o futuro dos trabalhadores que estão submetidos a “vários sacrifícios e constrangimentos”.

Este pedido de esclarecimento do principal partido da oposição cabo-verdiana surge depois de uma carta que o presidente do Conselho de Administração da CVA, Erlendur Svavarsson, dirigiu aos trabalhadores da companhia aérea informando que ainda não há acordo entre os acionistas sobre o financiamento futuro e a liquidação das dívidas passadas, com destaque para o pagamento dos mais de dois meses de salários em atraso.

Também o vice-primeiro ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, confirmou a falta de consensos entre acionistas para o relançamento da companhia, mas não revelou quais os pontos divergentes.

No entanto, ele assegurou que o Governo está a trabalhar para encontrar uma solução que preserve os interesses do Estado e da economia cabo-verdiana.

As negociações sobre os investimentos na Cabo Verde Airlines já duram há alguns meses, mas ainda sem resultados práticos sobre pontos fundamentais para que a transportadora aérea, que deixou de voar desde 18 de março passado,  continue a operar.

A pandemia da covid-19, que obrigou o Governo a proibir as ligações aéreas de e para Cabo Verde, veio complicar ainda mais as contas da companhia.

Além da paragem total da atividade devido à pandemia, a companhia já procurava, desde 2019, um financiamento para as suas operações, como admitiu Erlendur Svavarsson. “O financiamento a longo prazo da companhia aérea ainda está sujeito a discussões entre os principais acionistas”, disse.

Contudo, o vice-primeiro-ministro afirmou, em 14 de junho, que uma nacionalização da CVA “está fora dos planos” do Governo, apesar de “todo o interesse em manter” a companhia aérea.

Olavo Correia, admitiu que o “cenário é severo tanto para a CVA como para qualquer companhia aérea”, daí que o Estado, enquanto acionista da empresa (39%), “terá que trabalhar com o parceiro estratégico (Lofleidir Cabo Verde) para reposicioná-la para o cenário pós-pandemia”.

-0- PANA CS/IZ 18ago2020