Agência Panafricana de Notícias

Oposição lamenta fiasco de candidatura de Cabo Verde à presidência da CEDEAO

Praia, Cabo Verde (PANA) – O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), maior força da oposição do país, lamenta a derrota de Cabo Verde na corrida à presidência da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), declarou domingo na cidade da Praia a sua presidente, Janira Hopffer Almada.

Reagindo a esta derrota, Janira Almada considerou que “faltou tratamento com sentido de Estado” no processo de candidatura.

“Foi com tristeza e sentimento de profunda frustração que constatámos que Cabo Verde perdeu a presidência da CEDEAO. É uma grande derrota para Cabo Verde, agravada pelo fato de o país ter assumido, já por diversas vezes, a sua intenção de reforçar a integração regional”, afirmou a líder opositora.

Criticou o facto de Cabo Verde não ter trabalhado a sua candidatura, enquanto Estado.

“Nem o dossiê teve, em tempo, o tratamento de Estado que se impunha, nem o próprio Estado estruturou e preparou uma candidatura do país e, muito menos, delineou uma estratégia para assumir a presidência da CEDEAO”, indignou-se.

Janira Hopffer Almada afirmou que, “em nenhum momento, os Cabo-verdianos sentiram que Cabo Verde tinha uma candidatura, enquanto Estado, e talvez por isso mesmo não se tenha sentido nenhum esforço de mobilização das forças vivas da Nação, incluindo o Parlamento e os partidos políticos.

Para a líder do PAICV, “não se procurou o necessário e imprescindível envolvimento de personalidades que têm um profundo conhecimento da região e, muito menos, se procedeu a auscultações para se apresentar uma candidatura que mobilizasse o país”.

Sobre ela, ficou provado que o atraso no pagamento das quotas de Cabo Verde, a nível da CEDEAO, não terá pesado na decisão.

“Ficou provado que, numa matéria de tamanha importância, que poderia garantir um salto qualitativo em matéria de integração regional, sobretudo na perspetiva económica, o país não fez o seu trabalho de casa”, precisou.

“Quem perde, infelizmente, é Cabo Verde. Sem procurar culpas e culpados, agora sejamos capazes de ter nisso um aprendizado para o futuro. Assumamos de forma estratégica a questão da integração regional e coloquemos os interesses partidários de lado de uma vez por todas quando o que está em causa é Cabo Verde que é mais importante do que qualquer partido”, concluiu a líder do PAICV.

Reagindo o mesmo sentido na sua página no Facebook, o ex-primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves (2001-2016), escreveu estar estranhado que a questão das dívidas fosse trazida para o debate público em Cabo Verde a propósito da candidatura do país à presidência da Comissão da CEDEAO.

“Todos devem e muitos devem muitíssimo mais. E esse facto nunca os impediu de assumir a presidência”, afirma José Maria Neves, sublinhando não entender o lançamento de várias candidaturas internas, ainda antes da confirmação de que Cabo Verde teria chances de ganhar.

Para o também antigo líder do PAICV, a eleição de Cabo Verde “seria muito importante para o país, do ponto de vista político-diplomático e do ponto de vista da nossa inserção competitiva na região oeste-africana”.

A seu ver, a defesa intransigente das posições de Cabo Verde no sentido do reforço da democracia, de desenvolvimento institucional e de igualdade de oportunidades no quadro da CEDEAO deve fazer-se sem presunção, mas com firmeza e humildade, com propostas positivas.

“Cabo Verde só tem importância estratégica se estiver competitivamente inserido na CEDEAO. Mas temos de fazer o nosso trabalho de casa e fazê-lo bem. Temos referências nessas matérias, não estamos a partir do zero”. finalizou.

A presidência da comissão da CEDEAO foi decidida, sábado passado, antes da aprovação da ordem do dia dos trabalhos da 52.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, numa sessão à porta fechada, tendo a questão sido discutida durante três horas.

Na corrida à presidência da CEDEAO foram apresentadas quatro candidatura: Cabo Verde, Côte d’Ivoire, Gâmbia e a renovação da atual presidência do Benim.

Durante a reunião, o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, fez seis intervenções, defendendo o direito de Cabo Verde a assumir a liderança da comunidade em respeito pela ordem alfabética instituída na organização.

Com a Côte d’Ivoire a ser escolhida para assumir a presidência, o chefe de Estado cabo-verdiano mostrou o seu "repúdio" pela forma como a questão foi tratada e considerou "inaceitável" o não cumprimento de regras estabelecidas, solicitando o registo da sua posição na ata final da Cimeira.

-0- PANA CS/DD 18dez2017