Agência Panafricana de Notícias

Oposição desconfia de inquérito sobre assassinatos na Guiné-Bissau

Bissau- Guiné-Bissau (PANA) -- O Partido da Renovação Social (PRS, oposição) da Guiné-Bissau declarou quinta-feira que qualquer resultado de investigações sobre os últimos acontecimentos no país “não terão credibilidade sem envolver a comunidade internacional”.
“É preciso envolver a comunidade internacional para conferir uma maior credibilidade aos resultados do inquérito”, disse à PANA o porta-voz do principal partido da oposição na Guiné-Bissau, Joaquim Batista Correia.
O responsável político reagia ao anúncio feito na véspera pelo chefe das Formas Armadas, capitão de fragata José Zamora Induta, da detenção dos presumíveis autores do atentado à bomba que matou o seu antecessor, general Batista Tagmé Na Waié, a 1 de Março passado.
Zamora Induta anunciou quarta-feira em Bissau que a Comissão Militar criada pela sua corporação para investigar a morte de Tagmé Waié deteve alguns indivíduos que “confessaram” a autoria da colocação daquele engenho explosivo e deverão ser apresentados oportunamente.
Mas segundo Correia, o PRS sempre considerou “indispensáveis” a colaboração e a participação internacionais em todos os inquéritos, incluindo o das autoridades civis que abrange também a morte do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira a 2 de Março último.
Esta visão coincide parcialmente com a posição mais radical do também opositor Partido Republicano da Independência para o Desenvolvimento (PRID) que defende que a tarefa de investigar sobre as duas mortes seja inteiramente confiada a actores internacionais.
Para o PRID, uma comissão de inquérito internacional é a única esperança e garantia de neutralidade e eficácia para se apurar a verdade de forma transparente e credível que permita igualmente “lavar a imagem das próprias Forças Armadas e do próprio Governo”.
“Os dois dirigentes foram assassinados nas mãos do Governo e das Forças Armadas, entidades que em princípio, por imperativo constitucional, deviam protegê-los”, critica o líder desta formação política e antigo primeiro-ministro Aristides Gomes.
Segundo ele, não se pode perder de vista que, nos dois casos, os assassinos, incluindo mentores e executores, estão todos “numa implicação profunda com elementos das Forças Armadas, que são “verdadeiras milícias”.
“Não temos elementos provenientes dum inquérito sério, mas os poucos que se apresentam a toda a gente e face ao conhecimento geral que temos da situação na Guiné-Bissau (…) as duas mortes devem ser enquadradas no mesmo âmbito e vistas como produto duma dinâmica própria das Forças Armadas que temos”, disse.
O Presidente Nino Vieira, lembrou, foi morto por militares ou, pelo menos, por gentes em uniforme, armados até aos dentes.
“Houve tiroteio antes do assassinato, mas ninguém interveio.
O general Tagmé Na Waié foi atacado no seu próprio quartel”, disse.
“Por isso, a criação duma comissão interna estaria viciada desde o início”, disse, sublinhando que seria no próprio interesse do Governo e das Forças Armadas que estas duas entidades fossem também objecto da investigação no quadro dum inquérito neutro internacional.
Para ele, só um inquérito internacional que tenha condições para ir até ao fim pode garantir o apuramento da verdade com base resultados transparentes e numa análise objectiva do que realmente aconteceu.
Aristides Gomes considera ainda que a comissão internacional não deverá limitar a sua investigação apenas às circunstâncias e autores das duas mortes mas estendê-la igualmente “às nuvens” existentes em torno da natureza da nova configuração da hierarquia militar.
“O povo da Guiné-Bissau precisa de saber e compreender tudo o que se passou realmente e tudo o que está a acontecer no país, não só sobre a morte dos dois dirigentes mas também sobre a maneira, a natureza e as razões da emergência da nova configuração da hierarquia militar”, sentenciou.
Entre tais esclarecimentos que devem ser encontrados no âmbito dum inquérito internacional, ele indicou que o país precisa de saber se se tratou de “um golpe de Estado, um golpe de Estado específico às particularidades da Guiné-Bissau ou dum simples incidente”.