Agência Panafricana de Notícias

Oposição critica emposse “apressado” de Presidente na Guiné-Bissau

Bissau- Guiné-Bissau (PANA) -- O Partido da Renovação Social (PRS, oposição) da Guiné-Bissau reafirmou quinta-feira o seu descontentamento com o que apelidou de “investidura apressada” do actual chefe de Estado interino, Raimundo Pereira, ocorrida 24 horas após o assassinato do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, soube a PANA em Bissau.
Numa entrevista concedida à PANA na capital bissau-guineense, o porta-voz do PRS, Joaquim Batista Correia, esclareceu, entretanto, que o seu partido “não é contra a nomeação do Presidente (interino) porque é a Constituição que o prevê”, mas considera que “devia haver mais calma para que a situação fosse bem enquadrada, bem entendida”.
“Para quê tanta pressa na investidura de um Presidente interino num país em que esta figura não tem grandes poderes”, questionou o porta- voz do partido do ex-Presidente Kumba Yalá, argumentando que se devia esperar pelo enterro primeiro dos restos mortais do chefe de Estado falecido.
Confirmou que esta visão esteve entre as razões que levaram o PRS a abandonar a última sessão parlamentar consagrada ao duplo assassinato de Nino Vieira e do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, tenente-general Batista Tagmé Na Waié, num debate que o seu partido quis igualmente que fosse aberto ao público em vez de decorrer à porta fechada.
Segundo ele, o seu partido considera que a sua posição (de boicote) foi “a mais elegante porque respeitamos a dos outros que são maioritários” embora não entendendo as razões da realização dum tal debate à porta fechada numa situação em que os deputados, enquanto representantes do povo, “nada tinham a esconder” .
A sessão parlamentar foi convocada algumas horas após a morte de Nino Vieira e a pretensão do PRS acabou por não prevalecer depois de a decisão final ser submetida à votação num Parlamento em que este partido é minoritário com 28 assentos contra os 67 do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), que defendia a posição contrária.
Joaquim Correia, que condenou firmemente os dois assassinatos como “um acto de puro terrorismo e um golpe de Estado não assumido”, explicou que a sua formação política exige agora que a comissão de inquérito criada pelo Governo funcione de forma efectiva e célere e que haja a colaboração da comunidade internacional para se responsabilizar os seus autores.
"É fundamental a colaboração externa para apoiar as instituições nacionais porque o que aconteceu em Bissau no início deste mês não deve preocupar apenas a Guiné-Bissau mas toda a comunidade internacional, em geral, e a região em particular", disse.
A este propósito, indicou que o seu partido congratula-se com as últimas declarações feitas em Lisboa pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, em que reitera a disponibilidade do seu país de participar na ajuda internacional para o apuramento das responsabilidades pelos dois assassinatos e consequente julgamento dos seus executores e mandantes.
Nino Vieira, cujos restos mortais foram a enterrar terça-feira passada em Bissau, foi barbaramente assassinado aos 70 anos de idade na sua residência, a 2 de Março corrente, no dia seguinte ao da morte do general Na Waié num atentado à bomba nas instalações do Quartel- General das Forças Armadas.
Desde então, Isabel Romano Vieira, a viúva, ficou sob a protecção da Embaixada de Angola em Bissau até ao dia das exéquias do marido quando partiu para a capital senegalesa, Dakar, na companhia de 12 dos filhos do falecido vindos da Europa expressamente para assistir à cerimónia fúnebre.
Porém, alguns eles, incluindo a viúva, deixaram o país logo após a cerimónia oficial, num avião militar senegalês, sem acompanhar os restos mortais de Nino Vieira à sua última morada no Cemitério Municipal de Bissau.