Oposição cabo-verdiana denuncia inoperância em medidas contra covid-19
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, principal força da oposição no país), acusou quinta-feira o Governo de inoperância na implementação das medidas anunciadas para minimizar as consequências económicas da covid-19.
Eem conferência de imprensa concedida no círculo eleitoral de São Vicente, o parlamentar eleito por essa ilha, João do Carmo, referiu-se, especificamente, às linhas de crédito às empresas e a moratória para empresas e particulares, até 30 de setembro, para pagamento de empréstimos.
Segundo ele, essas medidas anunciadas pelo Executivo são necessárias, mas que não estão a ser executadas.
“Constatamos uma situação generalizada de inoperância na implementação das medidas anunciadas pelo Governo, quer com relação às linhas de crédito, quer emrelação às moratórias. Na realidade, tememos muito pela vida das empresas, em São Vicente concretamente. E aqui prevê-se uma dificuldade maior no setor turístico, concretamente no setor de restauração”, disse.
Os deputados do maior partido da oposição entendem que a situação social nesta ilha é preocupante, principalmente para os trabalhadores em regime de ‘lay-off’.
Com a suspensão de contratos de trabalho, os trabalhadores têm direito a 70 por cento do seu salário bruto, pago em partes iguais pelo empregador e pelo Estado, através do Instituto Nacional de Previdência Social.
Acontece que muitos ainda não receberam os 35 por cento do INPS, acusado por João do Carmo de “gritante incapacidade de resposta”, num momento de emergência.
O deputado precisou que, pelas informações do representante dos empregadores, em São Vicente, quase nenhuma empresa na ilha já beneficiou dos 35 por cento que deverão ser dados pelo INPS.
“Também quase nenhuma empresa, em São Vicente, já beneficiou das medidas anunciadas pelo Governo”, afirmou.
Para o PAICV, os trabalhadores estão triplamente prejudicados, e aponta o dedo ao Executivo de Ulisses Correia e Silva.
“Temos de chegar à uma conclusão de que durante este período difícil temos tido uma grande intensidade de discursos e de boas intenções do Governo que na prática nada acontece”, anotou.
Na mesma conferência de imprensa, os parlamentares da oposição pediram agilidade na colocação de um equipamento de testes PCR para deteção do vírus causador da covid-19, na ilha de São Vicente, para servir toda a região norte do país.
Também a União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, partido da oposição com três assentos parlamentares) alertou, quinta-feira, para o agravamento da situação de vulnerabilidade de muitas famílias, e pede ao Governo uma reavaliação das medidas de apoio.
Em conferência de imprensa realizada também de balanço da visita ao círculo de São Vicente, o presidente da UCID pediu uma reavaliação do contexto socioeconómico das famílias e sublinhou que os mais necessitados foram empurrados para a pobreza extrema.
“Infelizmente, ainda temos muitas pessoas que não tiveram a oportunidade, nem de receber as cestas básicas, nem o apoio financeiro que o estado anunciou, daí que que gostaríamos que os poderes central e local reanalisassem mais uma vez aquilo que se está a passar para poderem ajudar realmente as famílias com um grau de dificuldade superior ao que era antes da pandemia”, alertou.
António Monteiro defende que é preciso apoiar urgentemente as famílias mais vulneráveis e fala de situações extremas.
“Cabe ao Governo, à Câmara Municipal e à própria sociedade civil tecerem algumas linhas que permitam ajudar as pessoas que, não tendo os recursos necessários, estão a passar por grandes dificuldades. Temos pessoas com crianças de tenra idade [em casa] que não conseguem ter o leite, o iogurte e sequer os apoios para garantir a própria saúde dos filhos. É preciso pôr cobro a todo este dilema que muitas famílias estão a viver”, advertiu.
O suposto atraso no pagamento do salário dos trabalhadores em layoff, por parte do INPS, é outra questão que preocupa a UCID.
“Até ontem, altura que tivemos oportunidade de conversar com alguns [trabalhadores], não tinham recebido nem um único centavo do INPS. A UCID considera que já passou tempo suficiente para se resolver esta questão”, apontou.
A UCID recorda que a situação de fragilidade de muitas famílias é anterior à crise provocada pela covid-19, mas as condições foram agravadas nos últimos meses, com a pandemia.
-0- PANA CS/IZ 23maio2020