Oposição acusa Governo de continuar a “enterrar dinheiro” na Cabo Verde Airlines
Praia, Cabo Verde (PANA) – O PAICV, principal partido da oposição, acusou, segunda-feira, o Governo cabo-verdiano de continuar a "enterrar dinheiro” na Cabo Verde Airlines (CVA), enquanto o acionista maioritário estratégico, escolhido na sequencia da privatização da empresa em março de 2019, continua “a não assumir qualquer responsabilidade ou risco” na recuperação da transportadora, apurou a PANA de fonte oficial.
A posição do Partido Africano da Independências de Cabo Verde (PAICV) foi manifestada pelo seu secretário-geral, Julião Varela, durante uma conferência de imprensa, em reação às medidas anunciadas pelo Governo a nível dos transportes aéreos, ou seja a assinatura com a Loftleider Icelandic, do grupo Icelandair, de um novo acordo de gestão, em que o Estado cabo-verdiano, acionista minoritário da CVA vai injetar 15 milhões de euros para que a transportadora aérea, que não realiza voos regulares desde há uma no, possa voltar a operar.
Para a principal força da oposição no arquipélago, com este novo acordo, o executivo do primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva “está a aumentar ainda mais as responsabilidades do Estado”, apesar deste ser o acionista minoritário e a “endividar o país ainda mais”, pondo em causa a sustentabilidade dos indicadores macroeconómicos.
“Mais uma vez, o Estado vem em socorro do acionista estratégico e maioritário não para ampliar investimentos, nem para trazer os 11 aviões prometidos, mas sim para ajudar a resolver problemas de gestão da empresa, ou seja para pagar dividas”, denunciou Julião Varela.
Segundo ele, o acionista estratégico e maioritário não tem assumido qualquer responsabilidade ou risco no negócio e “limita-se apenas a vender serviços e a alugar os seus próprios aviões a custos exorbitantes e sem obedecer às regras do mercado.
“Sé é certo que o Governo está confrontado com o fracasso nesta operação de privatização e pressionado pelo calendário eleitoral, o PAICV entende que deve ser afastada qualquer tentação de provocar a retoma dos voos sem que exista um plano de negócios sustentável”, referiu.
Para o PAICV, o desempenho da governação de Ulisses Correia e Silva em matéria dos transportes aéreos tem sido “mau”, e deve assumir que o negócio com a Icelandair “foi um fracasso”, apresentar ao país um plano estratégico que ”pare a drenagem financeira” do Estado à empresa e um plano que salvaguarde os postos de trabalho na CVA.
Julião Varela afirmou que a inexistência de um plano sustentável e rentável de negócios de longo prazo significa que o parceiro estratégico aceita mais este novo acordo apenas para fazer “um jeito” ao Governo que, “a todo o custo”, quer “salvar a face” neste período eleitoral
Segundo o secretário-geral do PAICV, para muitos, a situação atual recomendaria o resgate do acordo, pelo menos até se ultrapassar esta fase difícil colocada pela pandemia, de modo a salvaguardar o emprego e o rendimento dos trabalhadores e seus familiares.
Em sentido contrario, o Movimento para a Democracia (MpD, partido no poder) congratulou-se com o acordo alcançado entre o Governo e a Loftleider Icelandic, do grupo Icelandair (Islândia), para a nova gestão da CVA.
Durante uma conferência de imprensa, na cidade da Praia, o porta-voz do grupo parlamentar do MpD, Luís Carlos Silva, considerou que, com esta decisão, o Governo está a proteger os postos de trabalho, os rendimentos das pessoas e a própria empresa.
O deputado do partido que sustenta o Governo regozijou-se igualmente com a “credibilidade que o Estado emprestou ao processo”, bem como pela sua “capacidade de mobilização financeira”.
Luís Carlos Silva considerou que, no contexto da covid-19, com a ausência de mercado e fronteiras, o Governo tinha a opção de não intervir e deixar a companhia morrer ou interferir para salvar os postos de trabalho, o rendimento das famílias e "conservar uma empresa estratégica para o futuro”.
“O Governo de Cabo Verde fez a opção pela intervenção assumindo os riscos e as responsabilidades que tal opção acarreta, na convicção de que com a vacinação estaremos a nos aproximar da normalidade, que nos levará ao percurso crescente que tínhamos até 2019”, justificou o deputado.
A companhia aérea, liderada desde 2019 por investidores islandeses (51 por cento) e na qual o Estado detém ainda uma participação direta de 39 por cento, está parada desde março de 2020, devido às restrições então impostas para conter a transmissão da covid-19, e não chegou a retomar as operações comerciais, apesar da reabertura dos voos internacionais por Cabo Verde em outubro.
O novo acordo com o Governo cabo-verdiano prevê a redução de três para duas aeronaves e a retoma a curto prazo dos voos para Portugal e os Estados Unidos, para servir a comunidade cabo-verdiana, mas o vice-primeiro-ministro, Olavo Correio, já admitiu que as necessidades da companhia para retomar a atividade ascendem a 15 milhões de euros.
Em contrapartida, o Estado reforça a posição no Conselho de Administração, passando a ter poder real de decisão.
O Governo já tinha aprovado, a 17 de fevereiro último, um outro aval -- o terceiro desde novembro - , para garantir um empréstimo de 110 milhões 265 mil escudos (cerca de um milhão de euros), "para fazer face ao pagamento de salários em atraso".
Antes disso, formalizou, a 03 de novembro último, um aval do Estado para outro empréstimo bancário de 218 milhões de escudos (1,9 milhões de euros), para pagar salários e juros em atraso na CVA.
Foi então aprovado, em Conselho de Ministros, o aval do Estado àquele empréstimo, concedido à CVA pelo International Investment Bank (IIB), para o "pagamento de juros vencidos referentes a créditos bancários", além "do pagamento de salários em atraso".
No mesmo dia, uma outra resolução do Conselho de Ministros aprovou um aval do Estado para um empréstimo bancário de "emergência", de 100 milhões de escudos (902 mil euros), neste caso a conceder pelo banco estatal Caixa Económica de Cabo Verde, "para fazer face ao pagamento de salários em atraso" naquela companhia aérea.
Em março de 2020, antes da suspensão dos voos internacionais para Cabo Verde, a CVA contava com cerca de 330 trabalhadores e uma frota de três Boeing, com rotas para África, América e Europa, a partir da plataforma instalada na ilha do Sal.
-0- PANA CS/DD 02mar2021