Agência Panafricana de Notícias

ONU pede ao Rwanda para retirar suas tropas da RDC

Luanda, Angola (PANA) - O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, anunciou ontem a nomeação do tenente-general brasileiro Ulisses de Mesquita Gomes como novo comandante das forças da ONU na RDC.

Em comuniocado, as Nações Unidas explicaram que Gomes tem 35 anos de experiência em resposta a crises, gestão de conflitos e manutenção da paz. "O seu último cargo foi no exército do seu país, onde desempenhou as funções de Vice-Chefe do Comando de Logística do Exército. Antes disso, foi adido militar do Brasil nos Estados Unidos", observou a ONU.

Horas antes, Guterres falou com o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, a quem pediu para retirar as suas tropas da vizinha RDC e cessar o apoio que presta aos rebeldes do Movimento 23 de Março (M23). Guterres falou igualmente com o Presidente da RDC, Felix Tshisekedi. Os apelos de Guterres surgem numa altura de tensão acrescida no Leste da RDC, especialmente na cidade de Goma, que tem dois milhões de habitantes, metade dos quais são refugiados.

"Obviamente, o secretário-geral discutiu com Paul Kagame a situação na RDC e foi muito claro, tanto em público como em privado, sobre a necessidade de o Ruanda cessar o seu apoio ao M23 e retirar-se da RDC", disse o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric, numa conferência de imprensa.

A instabilidade no leste da RDC"dura há décadas. Não vai ser resolvida em 24 horas, mas o que é claro é que não vai ser resolvida por operações militares levadas a cabo] por diferentes governos e diferentes milícias", afirmou. As forças do M23 controlam o aeroporto e os combates estão a decorrer na cidade e nos seus arredores. Há relatos de que invadiram a prisão da cidade e libertaram os reclusos, enquanto as armas não controladas grassam na cidade, disse Dujarric. A missão de manutenção da paz da ONU (Monusco) foi forçada a acantonar-se nas suas bases, salientou Dujarric.

O ex-líder da Momusco, o também brasileiro Santos Cruz, defendeu uma acção rápida do Conselho de Segurança da ONU para repelir os rebeldes. "O Conselho de Segurança deve agir com sanções e uso da força para retirar os rebeldes [o Movimento 23 de Março (M23)] do território alheio [cidade de Goma, no leste da RDC] e penalizar quem está a patrocinar a violência", disse o general em entrevista à ONU News publicada na terça-feira.

 Os chefes de Estado da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) reúnem-se numa cimeira extraordinária, esta quinta-feira, para abordar a situação no leste da RDC, e outros conflitos regionais, anunciou a presidência da organização. "A situação política na RDC será discutida, com foco na paz e segurança na região", que vai decorrer em Harare, disse o porta-voz do Governo do Zimbabwe, Nick Mangwana. O Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, na sua qualidade de Presidente rotativo da SADC, condenou, segunda-feira, os ataques contra as forças de manutenção da paz da ONU e da SADC no leste da RDC por grupos rebeldes como o Movimento 23 de Março (M23).

A cimeira foi convocada depois da morte de quatro soldados sul-africanos em combates com o M23, confirmada pela Força de Defesa sul-africana, elevando para 13 o número de soldados sul-africanos mortos desde a semana passada. A maioria dos soldados fazia parte da missão da SADC, conhecida como SAMIDRC, destacada para apoiar o exército democrático-congolês contra grupos rebeldes, especialmente o M23, desde Dezembro de 2023. Outros faziam parte da Missão de Estabilização das Nações Unidas na RDC (Monusco).

Três soldados malawianos foram também mortos em recentes confrontos com o M23, que intensificou os combates com o exército da RDC na semana passada, informou o exército malawiano no sábado. O agravar do conflito no leste da RDC fez surgir manifestações na capital, Kinshasa, que evoluíram para actos classificados pelo Governo de "vandalismo", em que várias embaixadas foram atacadas.

"O Governo congolês deseja exprimir o seu pesar pelos actos de vandalismo cometidos pelos manifestantes", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e da Cooperação Internacional numa carta dirigida às missões diplomáticas acreditadas em Kinshasa. O MNE garantiu que "todas as medidas práticas estão a ser tomadas para assegurar a protecção das missões diplomáticas, do seu pessoal e dos seus bens".

-0- PANA JA/DD 30jan2025