PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
ONU aconselha Cabo Verde a orientar sua economia para África em detrimento da Europa
Praia, Cabo Verde (PANA) – O secretário geral-adjunto das Nações Unidas e Executivo da Comissão de Economia das Nações Unidas para África (UNECA), Carlos Lopes, aconselhou esta sexta-feira, na cidade da Praia, os cabo-verdianos a mudar o foco do seu desenvolvimento para África, uma vez que o investimento na Parceria Especial com a Europa “não vai render muito” no futuro, apurou a PANA, na capital cabo-verdiana.
Na sua intervenção, sobre “Mudanças das mentalidades: Os desafios de um país insular em fase das tendências globais”, apresentado no âmbito do II Fórum Nacional de Transformação “Cabo Verde 2030”, Carlos Lopes questionou algumas estratégias até aqui defendidas para o desenvolvimento, com realce para a questão da ancoragem aos blocos económicos.
“Cabo Verde está ancorado a quem ou a quê?”, Interrogou-se o inteletual natural da Guiné-Bissau.
“Se se olhar para os números da economia vê-se que, por exemplo, 80 porcento do comércio é com dois países, nomeadamente a Espanha e Portugal, 90 porcento ou mais com a Europa e 1 porcento ou menos em termos de comércio com a África”, argumentou.
Para Carlos Lopes, se “Cabo Verde tem mais capacidade de estender o seu braço até Ásia do que estender a sua mão até África, isto, no entanto, tem custos".
“Para mim, o principal custo é o facto de Cabo Verde estar ancorado numa zona em recessão”, precisou, sublinhando que não se deve alimentar ilusões sobre o término da recessão europeia.
A seu ver, aquilo que Cabo Verde investiu na Parceria Especial com a Europa não vai render muito no futuro e a melhor demonstração disso é olhar para outro país que também fez um acordo especial com a União Europeia, que é Marrocos”, precisou o secretário executivo da UNECA.
Prosseguindo a este propósito, Carlos Lopes anotou que Marrocos está a fazer uma inflexão total dessa sua estratégia para se concentrar em África, pelo que, segundo ele, “se Marrocos está a conseguir isso acho que Cabo Verde também pode”.
No entanto, ele adverte que, para que isso aconteça, é necessário que o arquipélago cabo-verdiano passa ter uma “relação estruturada” com África, baseada no “pragmatismo”, uma vez que, frisou, isso “não é uma ideologia política”.
Carlos Lopes sustentou a sua tese mostrando que só a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), embora seja uma das regiões do continente que menos cresce, está a crescer 6,3 porcento por ano.
“O seu comércio externo nos últimos cinco anos aumentou 18 porcento, quase 20 porcento, os seus investimentos aumentaram 25 porcento, a economia da Nigéria passou a ser a maior do continente (550 biliões de dólares americanos)”, enumerou.
Carlos Lopes destacou também o facto de o PIB (Produto Interno Bruto) conjunto de África, neste momento, estar entre as sete grandes economias mundiais.
“Nos últimos sete anos, entre os países que mais cresceram no mundo temos a Serra Leoa, o Rwanda, a Etiópia, o Gana, Moçambique, a Nigéria, a Zâmbia, a Libéria e a Tanzânia, que cresceram mais do que a Índia e alguns deles mais do que a China”, exemplificou.
Assim sendo, ele considera que é “impossível” não olhar para estes números, quando, na última década, o PIB de África duplicou.
“Quem não quiser tomar nota desta evolução está fazer um erro estratégico muito grande”, alertou.
“Se não mudarmos esta atitude, em geral, e Cabo Verde, em particular, em relação a África, as grandes possibilidades conseguidas com os investimentos em capital fixo e humano do arquipélago podem não servir para grande coisa porque a concorrência vai ser feroz e Cabo Verde vai estar fora da órbita daqueles que mais crescem”, sentenciou.
A intervenção do secretário executivo da UNECA, que durou mais de uma hora (1:16), num debate moderado pelo ex-Presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, foi muito aplaudida pela assistência e provocou reações, nomeadamente do primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, que a considerou como uma autêntica “pedrada no charco”.
"Sinto-me recompensado com essa pedrada no charco do Dr. Carlos Lopes, que tem a ver com a competitividade e a eficiência econômica de Cabo Verde na CEDEAO”, disse José Maria Neves sublinhando que o fato do arquipélago, nos anos 90, se ter de certa forma afastado da comunidade sub-regional fez com que o país perdesse “importantes investimentos”.
No entanto, ele defende que "Cabo Verde tem que ser um país com um ponto”, com a sua economia ancorada em Africa, mas que deve também desenvolver parcerias nos Estados Unidos, na América Latina.
“Não podemos ter uma perspetiva exclusiva”, advertiu, sublinhando que a Parceria Especial com a União Europeia “foi fundamental para a credibilidade de Cabo Verde”, o que, segundo ele, “não exclui que trabalhemos para desenvolver uma forte parceria aqui no continente africano".
-0- PANA CS/DD 17maio2014
Na sua intervenção, sobre “Mudanças das mentalidades: Os desafios de um país insular em fase das tendências globais”, apresentado no âmbito do II Fórum Nacional de Transformação “Cabo Verde 2030”, Carlos Lopes questionou algumas estratégias até aqui defendidas para o desenvolvimento, com realce para a questão da ancoragem aos blocos económicos.
“Cabo Verde está ancorado a quem ou a quê?”, Interrogou-se o inteletual natural da Guiné-Bissau.
“Se se olhar para os números da economia vê-se que, por exemplo, 80 porcento do comércio é com dois países, nomeadamente a Espanha e Portugal, 90 porcento ou mais com a Europa e 1 porcento ou menos em termos de comércio com a África”, argumentou.
Para Carlos Lopes, se “Cabo Verde tem mais capacidade de estender o seu braço até Ásia do que estender a sua mão até África, isto, no entanto, tem custos".
“Para mim, o principal custo é o facto de Cabo Verde estar ancorado numa zona em recessão”, precisou, sublinhando que não se deve alimentar ilusões sobre o término da recessão europeia.
A seu ver, aquilo que Cabo Verde investiu na Parceria Especial com a Europa não vai render muito no futuro e a melhor demonstração disso é olhar para outro país que também fez um acordo especial com a União Europeia, que é Marrocos”, precisou o secretário executivo da UNECA.
Prosseguindo a este propósito, Carlos Lopes anotou que Marrocos está a fazer uma inflexão total dessa sua estratégia para se concentrar em África, pelo que, segundo ele, “se Marrocos está a conseguir isso acho que Cabo Verde também pode”.
No entanto, ele adverte que, para que isso aconteça, é necessário que o arquipélago cabo-verdiano passa ter uma “relação estruturada” com África, baseada no “pragmatismo”, uma vez que, frisou, isso “não é uma ideologia política”.
Carlos Lopes sustentou a sua tese mostrando que só a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), embora seja uma das regiões do continente que menos cresce, está a crescer 6,3 porcento por ano.
“O seu comércio externo nos últimos cinco anos aumentou 18 porcento, quase 20 porcento, os seus investimentos aumentaram 25 porcento, a economia da Nigéria passou a ser a maior do continente (550 biliões de dólares americanos)”, enumerou.
Carlos Lopes destacou também o facto de o PIB (Produto Interno Bruto) conjunto de África, neste momento, estar entre as sete grandes economias mundiais.
“Nos últimos sete anos, entre os países que mais cresceram no mundo temos a Serra Leoa, o Rwanda, a Etiópia, o Gana, Moçambique, a Nigéria, a Zâmbia, a Libéria e a Tanzânia, que cresceram mais do que a Índia e alguns deles mais do que a China”, exemplificou.
Assim sendo, ele considera que é “impossível” não olhar para estes números, quando, na última década, o PIB de África duplicou.
“Quem não quiser tomar nota desta evolução está fazer um erro estratégico muito grande”, alertou.
“Se não mudarmos esta atitude, em geral, e Cabo Verde, em particular, em relação a África, as grandes possibilidades conseguidas com os investimentos em capital fixo e humano do arquipélago podem não servir para grande coisa porque a concorrência vai ser feroz e Cabo Verde vai estar fora da órbita daqueles que mais crescem”, sentenciou.
A intervenção do secretário executivo da UNECA, que durou mais de uma hora (1:16), num debate moderado pelo ex-Presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, foi muito aplaudida pela assistência e provocou reações, nomeadamente do primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, que a considerou como uma autêntica “pedrada no charco”.
"Sinto-me recompensado com essa pedrada no charco do Dr. Carlos Lopes, que tem a ver com a competitividade e a eficiência econômica de Cabo Verde na CEDEAO”, disse José Maria Neves sublinhando que o fato do arquipélago, nos anos 90, se ter de certa forma afastado da comunidade sub-regional fez com que o país perdesse “importantes investimentos”.
No entanto, ele defende que "Cabo Verde tem que ser um país com um ponto”, com a sua economia ancorada em Africa, mas que deve também desenvolver parcerias nos Estados Unidos, na América Latina.
“Não podemos ter uma perspetiva exclusiva”, advertiu, sublinhando que a Parceria Especial com a União Europeia “foi fundamental para a credibilidade de Cabo Verde”, o que, segundo ele, “não exclui que trabalhemos para desenvolver uma forte parceria aqui no continente africano".
-0- PANA CS/DD 17maio2014