PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
O duplo suspense gabonês
Dakar- Senegal (PANA) -- O Mundo inteiro respirou de alívio, certamente, com a investidura da presidente do Senado, Rose Francine Rogombé, como chefe de Estado interina do Gabão depois da vacatura imposta pela morte do veterano Omar Bongo Ondimba.
Alívio porque o acto simbolizou, finalmente, a sobrevivência do princípio da constitucionalidade em África entre as “cinzas” do vulcão dos golpes de Estado “ressuscitado” no continente como meio privilegiado para conquistar ou manter o poder.
Com efeito, em caso de vacância na chefia do Estado, a Constituição gabonesa manda confiar o poder ao presidente do Senado até à eleição de um novo titular no espaço máximo de 45 dias prorrogáveis “por razões de força maior”.
Assim, só resta saber por quanto tempo durará este sinal de amor à paz e à estabilidade que os Gaboneses tentaram transmitir, nesta primeira fase, quando quase todos receavam o início de um clima de instabilidade nacional na perspectiva da luta pela sucessão de Omar Bongo, oficialmente desaparecido a 8 de Junho corrente, em Espanha.
A preocupação universal pela estabilidade do país esteve patente nas várias mensagens de solidariedade e de encorajamento endereçadas à nação gabonesa em que, de forma unânime, se destacou as qualidades de Omar Bongo que, embora detestado por muitos, soube manter o Gabão distante de grandes convulsões sociais e políticas em 41 anos de poder.
Na sua dimensão externa, Omar Bongo viu também enaltecidos, até no Ocidente, os seus dotes de grande medianeiro e conselheiro na busca de soluções a vários conflitos em África, num reconhecimento que lhe valeu, inclusive, dias de luto nacional e outras formas de homenagem em muitos países estrangeiros no continente.
De resto, foi uma chuva de elogios às qualidades do homem que conheceu as rédeas do poder supremo como o Presidente mais novo do Mundo, aos 31 anos, e despediu-se dele, aos 73 anos, como o líder africano mais antigo, daí o título de decano dos chefes de Estado africanos agora herdado por Muamar Kadafi, da Líbia.
Porém, esta chuva de elogios e homenagens não bastou para fazer passar despercebida a primeira cadeia de suspense que o povo gabonês viveu antes de ter a confirmação oficial da morte do seu Presidente.
O quadro criado na altura, por obra da classe política nacional, parecia dar razão àqueles que acreditam que os políticos africanos são cada vez mais useiros e vezeiros no desprezo pelas suas populações.
Parecia consolidar a ideia de que em África, salvo raras excepções, o povo só tem valor e só é respeitado no período das eleições, quando se precisa do seu voto para conquistar ou conservar o poder.
Depois disso, a única importância da plebe é apenas o nome, pois passa a ser muito fácil e doce falar em seu nome.
É que uma vez eleitos pelo povo, os políticos, entre ministros e deputados, deixam de servir o povo para estar única e exclusivamente ao serviço do chefe, que, por sua vez, passa a assemelhar-se mais a um Presidente dos Ministros que propriamente da República.
Só isso pode explicar que o povo gabonês, a quem estranhamente se impôs um “blackout” total sobre o paradeiro do seu Presidente, ficou surpreendido com a morte “súbita” deste último, a partir do estrangeiro, na sequência dum cancro nunca antes anunciado.
Omar Bongo Ondimba faleceu depois de uma agonia de quase um mês numa clínica privada de Barcelona, em Espanha, sem que os seus súbditos tivessem sabido sequer que ele andara doente.
Até às últimas horas antes da confirmação oficial da sua morte, o Governo gabonês continuava a jurar de pés juntos que o Presidente estava “bem de saúde” e pronto a voltar ao trabalho, quando a notícia do seu falecimento já tinha corrido o Mundo desde a véspera.
O tempo vai encarregar-se, um dia, de branquear ou não os principais actores no triste episódio que marcou estes derradeiros momentos da vida de Bongo em que uns pareciam engajados num inexplicável esforço para esconder a morte natural do Presidente duma nação inteira.
Criou-se a sensação de que haveria um lado oposto que, por sua vez, estaria a forçar ou a precipitar o anúncio da morte de Bongo.
A confirmar-se tal esforço, e independentemente dos seus fundamentos, os seus protagonistas terão certamente contas a prestar à História e ao povo gabonês que se viu confuso e injustificadamente subtraído no seu direito de saber a verdade sobre o seu Presidente.
Mas, enquanto poderá tardar a tirar a limpo este último episódio do "filme", o mesmo já não se pode dizer da primeira parte.
Tal como a mentira tem sempre pernas curtas, muito cedo ficou a saber-se que os governantes faltaram à verdade sobre o paradeiro e o estado de saúde do Presidente, bem como sobre os motivos e as circunstâncias da sua famosa e inédita “auto- suspensão temporária” que, até ao ouvido mais incauto, já soava muito estranha.
O tempo ridiculizou-os, de forma madrugadora, nas suas engenharias para combater, em vão, os primeiros “rumores” que já circulavam pelo Mundo inteiro sobre a degradação do estado de saúde do mais alto magistrado do nação.
Passaram a desmentir com todas as energias possíveis, e com a maior hostilidade possível, a informação de que o Presidente estava hospitalizado, em estado grave e no estrangeiro.
Diabolizaram uma informação que veio a revelar-se indesmentível porque verdadeira mas que, para eles, não passava de uma “manobra desestabilizadora”, se calhar do imperialismo, contra o povo do Gabão.
Desde o anúncio da suspensão das suas funções até à confirmação da morte, em momento algum as autoridades gabonesas reconheceram ou fizeram alusão ao facto de o chefe de Estado estar doente.
A única concessão admitida, embora tardiamente e sob pressão, foi quando apareceram a corrigir o seu discurso para aceitar, finalmente, que Omar Bongo estava fora do país, em Espanha.
E mesmo assim, sempre a descartar quaisquer problemas de saúde e introduzindo, desta vez, a tese de exames de rotina antes de ele retomar as suas actividades “o mais rápido possível”.
“É falso.
Digo-vos simplesmente que ele está de saúde e que, em conformidade com a nossa tradição, ele está a cumprir um período de luto pela morte da sua esposa.
“Na nossa tradição, quando se está de luto, fica-se longe da vida pública.
Quando eles dizem que ele está doente, é pura invenção.
É fruto da imaginação de alguém.
O seu paradeiro é um assunto privado”.
Foi nesses termos que a ministra gabonesa da Informação, Laure Olga Gondjout, reagiu aos primeiros relatos que davam conta da hospitalização de Omar Bongo numa clínica espanhola.
Mas para a pouca sorte dos governantes gaboneses, os seus homólogos espanhóis em particular, e europeus em geral, não foram na conversa.
Talvez por discordarem que a saúde ou o paradeiro dum Presidente da República sejam tratados como “assunto privado”, foram os primeiros a anunciar publicamente que Omar Bongo estava sim doente e internado em seu território.
As primeiras notícias que passaram a alimentar a imprensa mundial sobre a questão citavam como fonte, nomeadamente, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Miguel Angel Moratino, e alguns governantes franceses incluindo o primeiro-ministro François Fillon.
Alívio porque o acto simbolizou, finalmente, a sobrevivência do princípio da constitucionalidade em África entre as “cinzas” do vulcão dos golpes de Estado “ressuscitado” no continente como meio privilegiado para conquistar ou manter o poder.
Com efeito, em caso de vacância na chefia do Estado, a Constituição gabonesa manda confiar o poder ao presidente do Senado até à eleição de um novo titular no espaço máximo de 45 dias prorrogáveis “por razões de força maior”.
Assim, só resta saber por quanto tempo durará este sinal de amor à paz e à estabilidade que os Gaboneses tentaram transmitir, nesta primeira fase, quando quase todos receavam o início de um clima de instabilidade nacional na perspectiva da luta pela sucessão de Omar Bongo, oficialmente desaparecido a 8 de Junho corrente, em Espanha.
A preocupação universal pela estabilidade do país esteve patente nas várias mensagens de solidariedade e de encorajamento endereçadas à nação gabonesa em que, de forma unânime, se destacou as qualidades de Omar Bongo que, embora detestado por muitos, soube manter o Gabão distante de grandes convulsões sociais e políticas em 41 anos de poder.
Na sua dimensão externa, Omar Bongo viu também enaltecidos, até no Ocidente, os seus dotes de grande medianeiro e conselheiro na busca de soluções a vários conflitos em África, num reconhecimento que lhe valeu, inclusive, dias de luto nacional e outras formas de homenagem em muitos países estrangeiros no continente.
De resto, foi uma chuva de elogios às qualidades do homem que conheceu as rédeas do poder supremo como o Presidente mais novo do Mundo, aos 31 anos, e despediu-se dele, aos 73 anos, como o líder africano mais antigo, daí o título de decano dos chefes de Estado africanos agora herdado por Muamar Kadafi, da Líbia.
Porém, esta chuva de elogios e homenagens não bastou para fazer passar despercebida a primeira cadeia de suspense que o povo gabonês viveu antes de ter a confirmação oficial da morte do seu Presidente.
O quadro criado na altura, por obra da classe política nacional, parecia dar razão àqueles que acreditam que os políticos africanos são cada vez mais useiros e vezeiros no desprezo pelas suas populações.
Parecia consolidar a ideia de que em África, salvo raras excepções, o povo só tem valor e só é respeitado no período das eleições, quando se precisa do seu voto para conquistar ou conservar o poder.
Depois disso, a única importância da plebe é apenas o nome, pois passa a ser muito fácil e doce falar em seu nome.
É que uma vez eleitos pelo povo, os políticos, entre ministros e deputados, deixam de servir o povo para estar única e exclusivamente ao serviço do chefe, que, por sua vez, passa a assemelhar-se mais a um Presidente dos Ministros que propriamente da República.
Só isso pode explicar que o povo gabonês, a quem estranhamente se impôs um “blackout” total sobre o paradeiro do seu Presidente, ficou surpreendido com a morte “súbita” deste último, a partir do estrangeiro, na sequência dum cancro nunca antes anunciado.
Omar Bongo Ondimba faleceu depois de uma agonia de quase um mês numa clínica privada de Barcelona, em Espanha, sem que os seus súbditos tivessem sabido sequer que ele andara doente.
Até às últimas horas antes da confirmação oficial da sua morte, o Governo gabonês continuava a jurar de pés juntos que o Presidente estava “bem de saúde” e pronto a voltar ao trabalho, quando a notícia do seu falecimento já tinha corrido o Mundo desde a véspera.
O tempo vai encarregar-se, um dia, de branquear ou não os principais actores no triste episódio que marcou estes derradeiros momentos da vida de Bongo em que uns pareciam engajados num inexplicável esforço para esconder a morte natural do Presidente duma nação inteira.
Criou-se a sensação de que haveria um lado oposto que, por sua vez, estaria a forçar ou a precipitar o anúncio da morte de Bongo.
A confirmar-se tal esforço, e independentemente dos seus fundamentos, os seus protagonistas terão certamente contas a prestar à História e ao povo gabonês que se viu confuso e injustificadamente subtraído no seu direito de saber a verdade sobre o seu Presidente.
Mas, enquanto poderá tardar a tirar a limpo este último episódio do "filme", o mesmo já não se pode dizer da primeira parte.
Tal como a mentira tem sempre pernas curtas, muito cedo ficou a saber-se que os governantes faltaram à verdade sobre o paradeiro e o estado de saúde do Presidente, bem como sobre os motivos e as circunstâncias da sua famosa e inédita “auto- suspensão temporária” que, até ao ouvido mais incauto, já soava muito estranha.
O tempo ridiculizou-os, de forma madrugadora, nas suas engenharias para combater, em vão, os primeiros “rumores” que já circulavam pelo Mundo inteiro sobre a degradação do estado de saúde do mais alto magistrado do nação.
Passaram a desmentir com todas as energias possíveis, e com a maior hostilidade possível, a informação de que o Presidente estava hospitalizado, em estado grave e no estrangeiro.
Diabolizaram uma informação que veio a revelar-se indesmentível porque verdadeira mas que, para eles, não passava de uma “manobra desestabilizadora”, se calhar do imperialismo, contra o povo do Gabão.
Desde o anúncio da suspensão das suas funções até à confirmação da morte, em momento algum as autoridades gabonesas reconheceram ou fizeram alusão ao facto de o chefe de Estado estar doente.
A única concessão admitida, embora tardiamente e sob pressão, foi quando apareceram a corrigir o seu discurso para aceitar, finalmente, que Omar Bongo estava fora do país, em Espanha.
E mesmo assim, sempre a descartar quaisquer problemas de saúde e introduzindo, desta vez, a tese de exames de rotina antes de ele retomar as suas actividades “o mais rápido possível”.
“É falso.
Digo-vos simplesmente que ele está de saúde e que, em conformidade com a nossa tradição, ele está a cumprir um período de luto pela morte da sua esposa.
“Na nossa tradição, quando se está de luto, fica-se longe da vida pública.
Quando eles dizem que ele está doente, é pura invenção.
É fruto da imaginação de alguém.
O seu paradeiro é um assunto privado”.
Foi nesses termos que a ministra gabonesa da Informação, Laure Olga Gondjout, reagiu aos primeiros relatos que davam conta da hospitalização de Omar Bongo numa clínica espanhola.
Mas para a pouca sorte dos governantes gaboneses, os seus homólogos espanhóis em particular, e europeus em geral, não foram na conversa.
Talvez por discordarem que a saúde ou o paradeiro dum Presidente da República sejam tratados como “assunto privado”, foram os primeiros a anunciar publicamente que Omar Bongo estava sim doente e internado em seu território.
As primeiras notícias que passaram a alimentar a imprensa mundial sobre a questão citavam como fonte, nomeadamente, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Miguel Angel Moratino, e alguns governantes franceses incluindo o primeiro-ministro François Fillon.