Nações Unidas mobilizam $ 650.000 para ajudar Cabo Verde face à emergência alimentar
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde mobilizou 650.000 dólares para dois projetos de emergência e segurança alimentar no país confrontado com efeitos da crise da pandemia, da guerra na Ucrânia e da seca, apurou a PANA, sexta-feira, de fonte segura.
No âmbito dum acordo de financiamento assinado entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Ministério da Agricultura e Ambiente, os projetos serão desenvolvidos nas ilhas de Santo Antão e Santiago, as maiores e mais agrícolas do arquipélago.
A meta é mitigar as consequências de cinco anos de seca severa no país, aliada aos efeitos económicos que ainda se sentem da pandemia da covid-19 e agora da crise inflacionista, segundo a mesma fonte..
Na cerimónia de assinatura deste acordo, a representante da FAO em Cabo Verde, Ana Touza, assinalou que o país "vive um momento delicado em matéria de segurança alimentar, que poderia ainda deteriorar-se mais nos próximos tempos, caso não fossem tomadas medidas preventivas e urgentes para salvaguardar a acessibilidade alimentar, a produção nacional e os meios de subsistência."
O apoio financeiro total aos dois projetos de mitigação dos efeitos da crise, no valor 650.000 dólares disponibilizados por vários doadores internacionais, incluiu 400.000 dólares (390.000 euros) de apoio disponibilizado pelo Governo da Bélgica.
Aos dois empreendimentos deverá acrescentar um terceiro, no valor de 250.000 dólares, a financiar diretamente pela FAO, explicou Ana Touza, garantindo que será também assinado "em breve".
"Deste modo, como o nosso plano de ação com estes três projetos, pretendemos abranger 1.300 agregados familiares", sublinhou a responsável, exemplificando que serão disponibilizados meios para as famílias mais vulneráveis, através da "geração de rendimento" com atividades de trabalho comunitário até ao final do ano."
Acrescentou também que serão garantidos, no mesmo contexto, meios de subsistência nos meios críticos e salvaguardadas a segurança alimentar e diversidade nutricional das crianças com idade escolar nas áreas mais vulneráveis, através do reforço das cadeias de produção locais.
Na cerimónia, o ministro da Agricultura eAmbiente, Gilberto Silva, sublinhou que Cabo Verde é considerado "um dos países que espelha" os efeitos das mudanças climáticas no mundo, além das consequências económicas de dois anos de pandemia e, agora, da crise de preços internacional.
"É um momento de muita satisfação, em nome do Governo, poder assinar estes dois projetos, que se inserem muito bem naquilo que é a estratégia definida pelo Governo para a mitigação dos efeitos desta tripla crise na segurança alimentar e nutricional em Cabo Verde", regozijiy-se.
Disse igualmente querer agradecer ao Sistema das Nações Unidas, às agências todas que trabalharam "no sentido de darmos a resposta rápida à demanda do Governo desta cooperação profícua, para que possamos, de facto, reforçar a resiliência e acolher à demanda e às necessidades da população" que mais sofrem com os efeitos desta tripla crise.
O governante acrescentou que a seca, que Cabo Verde atravessa há praticamente cinco anos, tem condicionado a produção nacional, agravada agora pelos efeitos da guerra na Ucrânia, que fez subir o preço dos combustíveis, dos cereais, dos fertilizantes e de um conjunto de fatores que contribuem para os preços dos alimentos.
Numa altura em que o arquipélago importa 80 por cento dos alimentos e 75 por cento da energia que consome, o Governo cabo-verdiano solicitou o apoio ao Sistema das Nações Unidas, nomeadamente através da FAO, para o plano de resposta e proteção às famílias pobres e do setor informal.
A crise de emergência alimentar já afeta mais de 10 por cento da população, de acordo com dados oficiais.
O país registou, em 2020, uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8 por cento do Produto Interno Brito (PIB), embora haja um crescimento económico de sete por cento em 2021, impulsionado pela retoma da procura turística no quarto trimestre.
Entretanto, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, o Governo cabo-verdiano reviu de seis por cento para quatro por cento a perspetiva de crescimento económico em 2022.
-0- PANA CS/DD 13agosto2022