Agência Panafricana de Notícias

Mulheres e crianças entre as principais vítimas de conflitos em África

Kinshasa, RD Congo (PANA) – Noventa porcento das vítimas mortais dos conflitos armados dos últimos anos em África são civis das quais 80 porcento mulheres e crianças, revela um documento da Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA) a que a PANA teve acesso terça-feira em Kinshasa, na RD Congo.

O documento produzido do quadro de uma Mesa Redonda sobre “Educação, Paz e Desenvolvimento”, a decorrer de 26 a 28 de julho corrente na capital congolesa, realça que, nos últimos dez anos, dois milhões de crianças foram mortas em conflitos armados ou outras situações de violência.

O triplo deste número de crianças, prossegue, ficaram “gravemente feridas ou incapacitadas para toda a vida, e milhões de outras foram obrigadas a assistir ou a participar em atos horríveis de violência, ao passo que as que sobreviveram ficaram vulneráveis, abandonadas e expostas ao serviço militar”.

A nota cita dados de agências humanitárias, incluindo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância, sobre a situação dos conflitos em África.

De acordo com estes dados, os conflitos armados e outras situações de violência separaram milhões de crianças dos seus lares e desintegraram as suas famílias e comunidades, deixando-as “expostas à exploração sexual e ao tráfico de seres humanos”.

“Estes horrores são exacerbados pelo caráter limitado ou mesmo inexistente de possibilidades de educação, deixando adolescentes dos dois sexos amedrontados, desgastados e frustrados pela vida”, indica o documento.

Em tais circunstâncias, acrescenta, a vida militar aparece como a opção mais atrativa, sobretudo para os mais pobres e marginalizados, e a sede do poder passa a ser um “fator de motivação muito forte”, quando os jovens se sentem impotentes ou na impossibilidade de aceder a recursos básicos, levando-os assim a pegar em armas para chegar ao poder e ser reconhecidos.

No entender da ADEA, compreender o impacto dos conflitos e das crises nas crianças e nos jovens e na sua capacidade de aceder à educação “passa pelo reconhecimento do papel que um sistema educativo funcional desempenha para oferecer uma educação de qualidade à sociedade”.

“É indo todos os dias à escola, que as crianças e os jovens evoluem de forma construtiva num ambiente seguro que lhes dá a possibilidade de desenvolver as suas aptidões e os seus conhecimentos, permitindo-lhes contribuir de forma significativa à democratização, ao progresso económico e à coesão social das suas comunidades”, sublinha.

Neste contexto, a Mesa Redonda de Kinshasa vai debater sobre políticas e práticas educativas sucetíveis de apoiar a educação “como meio de consolidar, manter e favorecer a paz para contribuir à coesão social, à estabilidade política e ao desenvolvimento económico das suas comunidades”.

O objetivo desta interação “é aprofundar o diálogo político e social e os conhecimentos assim como permitir uma melhor compreensão e sensibilidade às iniciativas e soluções para responder aos inúmeros desafios com que o continente africano está confrontado, visando ajudar a promover a educação para a paz e o desenvolvimento sustentável”.

O encontro de Kinshasa é organizado pela ADEA em colaboração com os Ministérios da Educação do Quénia e da RD Congo e a UNESCO-BREDA , com a participação de técnicos do setor educativo, incluindo decisores e especialistas em elaboração de currículos escolares.

Participam igualmente representantes de instituições de desenvolvimento, doadores, parceiros da sociedade civil e delegados de cinco países em “situações de conflito ou de fragilidade”, designadamente a Côte d’Ivoire, a Libéria, a RD Congo o Quénia e o Zimbabwe.

Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Kinshasa

-0- PANA IZ 26julho2011