Agência Panafricana de Notícias

Ministro cabo-verdiano dos Negócios Estrangeiros e da Defesa pede demissão

Praia, Cabo Verde (PANA) - O primeiro-ministro cabo-verdiano,  Ulisses Correia e Silva, anunciou terça-feira, aceitar o pedido de demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Filipe Tavares, soube a PANA de fonte oficial. 

Num comunicado, o chefe do Governo cabo-verdiano não precisou, no entanto, as causas da demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, que acumula também as pastas da Defesa Nacional.

Esta situação aconteceu quando falta um pouco mais de três meses do final da atual legislatura, segundo a mesma fonte.

No entanto, Luis Filipe Tavares  justificou, num comunicado, o seu pedido de demissão por querer “poupar”  o país  à crispação adicional e ao “desgaste” que possam resultar de eventuais repercussões políticas negativas da  polémica despoletada na imprensa portuguesa sobre a nomeação dum empresário português, César do Paço, apontado como um patrocinador do partido da extrema-direita, Portugal Chega, para o cargo de cônsul honorário de Cabo Verde na Flórida, nos Estados Unidos.

O demissionário disse que, na escolha do César de Paço para cônsul honorário, esteve sempre de “boa fé”, baseando-se no facto de este último ter sido cônsul honorário de Portugal por vários anos, ser uma pessoa “bem colocada e considerada” na sociedade americana e pretender investir em Cabo Verde com recursos próprios necessários.

O agora ex-governante disse, ainda,  basear-se também em informações sobre o mesmo obtidas de fontes independentes e credíveis.

Frisou que não inquiriu sobre as simpatias políticas do César do Paço, no contexto americano e português, guiado pela “inabalável crença na liberdade de escolha político-partidária que deve ser reconhecida a todos os cidadãos, sem qualquer distinção.”

Tavares sublinha ter a “firme convição” de que as simpatias políticas “são irrelevantes” no critério de escolha de cônsules honorários ou qualquer outro cargo.

A seu ver, Cabo Verde “não deve imiscuir-se em questões partidárias de outros países, nem permitir que tais questões interfiram nas suas escolhas, do mesmo modo que “não aceita a interferência de partidos políticos estrangeiros nas questões internas do país.”

“Para mim, a prova cabal da probidade do Dr. de Paço foi o exequátur que lhe foi concedido pelas autoridades americanas. Tal facto, não me suscitou a necessidade de indagações suplementares. Estou de consciência tranquila dada pela convição de que, neste caso e noutros, procurei sempre fazer o meu melhor para servir Cabo Verde”, sublinhou.

Tudo indica que a polemica que levou à demissão deste membro do Executivo e um dos vice-presidentes do Movimento para a Democracia (Mpd), partido no poder em Cabo Verde, na sequencia de uma reportagem de investigação intitulada “A Grande ilusão: cifrões e outros demónios”, divulgada segunda-feira última na estacão televisiva portuguesa, na qual Paço é apontado como o principal financiador do Chega, partido da extrema-direita em Portugal.

As informações divulgadas apontam ainda que César do Paço foi acusado em 1991, em Portugal, de "crime de roubo qualificado", tendo o Ministério Público decretado a sua prisão preventiva, a que se seguiu um mandado de captura.

Contudo, não chegou a ser julgado porque fugiu do país, refere-se.

Entretanto, o primeiro-ministro cabo-verdiano já negou que nem o Governo e nem o partido que o sustenta tenham alguma ligação com o partido Chega.

“O pedido de demissão do ministro Luís Felipe Tavares é uma decisão que devemos respeitar, mas uma coisa que quero deixar bem clara é que este Governo e o partido que o sustenta não têm nenhuma ligação de afinidade, nem de simpatia com os partidos tipos Chega e nem com partidos da sua linha ideológica similar”, assegurou.

Para o chefe do Governo cabo-verdiano, a decisão do ministro demissionário visou “proteger” o Executivo e a si mesmo dos “ataques”, que, conforme ele, a oposição estava ou está a preparar para “destruir a sua pessoa (Luís Felipe Tavares) e atingir o Governo”.

Relativamente ao nome do novo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, o primeiro-ministro explicou que primeiro este nome vai ser apresentado ao Presidente da República (Jorge Carlos Fonseca) e depois fazer umo anúncio público da personalidade escolhida para exercer o cargo nos próximos três meses que faltam para o fim do mandato do Governo.

Na ocasião, Ulisses Correia e Silva garantiu que o empresário português César do Paço vai ser exonerado do cargo de cônsul de Cabo Verde na Flórida.

Numa primeira reação a este acontecimento de repercussões imprevisíveis no  cenário politico cabo-verdiano, num ano de eleições legislativas e presidenciais, a presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), principal forca da oposição,  Janira Hopffer Almada, exigiu explicações do Governo sobre a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, após a reportagem em Portugal ter associado o ex-governante à extrema-direita portuguesa.

“A situação parece ser tão grave que quero crer que não terei percebido bem! Então, um dos maiores financiadores do Chega (partido político português) é o cônsul honorário de Cabo Verde na Florida", questionou a líder do PAICV, numa mensagem colocada na sua conta oficial do Facebook.

-0- PANA CS/DD 12jan2021