Médicos exigem mais proteção na luta contra covid-19 em Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) - A Ordem dos Médicos Cabo-verdianos (OMC) exigiu, terça-feira, ao Governo mais segurança e proteção individual para que os profissionais do setor saúde possam prestar melhor os cuidados clínicos na luta para conter os efeitos da pandemia da covid-19, no país.
O pedido consta de uma deliberação aprovada pelo Conselho Diretivo Nacional da OMC, enviada ao Ministério da Saúde e à direção do Hospital da Praia, depois de quatro profissionais da maior unidade de saúde do arquipélago, entre os quais dois médicos, contraírem o novo coronavírus.
O documento, rubricado pelo bastonário Danielson Veiga, realça que tal exigência se deve ao facto de que, para atender os doentes de risco, os profissionais de saúde devem estar protegidos com equipamento como máscaras, luvas descartáveis, avental de proteção e protetor ocular.
Neste sentido, a OMC assinala que, nos termos do plano de contingência, compete aos serviços de saúde fornecer os Equipamentos de Protecção Individual (EPI), gratuitamente e de acordo com os riscos a que estão expostos.
O documento refere ainda que, em nenhuma hipótese, estes equipamentos devem ser compartilhados entre os profissionais.
Na sua deliberação, a Ordem exige também condições de higienização com disponibilização de água, sabão e solução de álcool gel a 70 por cento para uso do pessoal médico, pacientes e acompanhantes e mais segurança nas salas de espera das clínicas e hospitais paras se cumprir o distanciamento exigido.
A OMC requer ainda que se evite que os profissionais de saúde realizem, em simultâneo, atividades entre doentes com diagnóstico de Covid-19 e doentes com qualquer outra patologia ou diagnóstico.
Em tempos da covid-19, realça a OMC na deliberação, os profissionais de saúde que cuidam de doentes com o vírus só devem voltar a cuidar de outros doentes quando testados de que não são portadores de infecção por Sars-Cov-2.
No caso das cirurgias, a OMC define que o transporte do doente deve ser levado em consideração e feito de forma segura, garantindo assim um fluxo isolado e privilegiado do paciente, assim como dos profissionais envolvidos.
Face às recomendações, a OMC assegura a todos os seus membros uma articulação permanente com as entidades de saúde local, regional e nacional, auscultar a Direção Nacional de Saúde (DNS), os médicos e profissionais de saúde em contacto direto com os casos da covid-19 e certificar-se da autenticidade e efetividade dos meios e condições de trabalho.
Esta é a segunda carta que a Ordem dos Médicos Cabo-verdianos envia ao Ministério da Saúde, no espaço de duas semanas, chamando atenção para as condições de trabalho em tempos de pandemia do novo coronavírus.
O bastonário apontou falhas na gestão de doentes, no Hospital Agostinho Neto (HAN), e preocupação em relação à classe, após a confirmação de quatro casos positivos de covid-19, entre os funcionários, incluindo dois médicos, daquela unidade de saúde.
Danielson Veiga, que falava aos jornalistas à margem de um encontro com o Presidente da República, referiu que a deteção de quatro casos de funcionários do HAN com covid-19 levantou uma certa preocupação na classe.
Recordou que esta última tem levantado dúvidas sobre questões de segurança em relação aos funcionários do hospital em si, mas também aos utentes de saúde.
“Até agora nós não estamos convencidos que haja um bom serviço, porque temos um plano de contingência, que foi elaborado pelo Governo, e que é obrigatório ser usado e aplicado em qualquer infraestrutura de saúde e também em restaurantes, hotéis e bares, para que haja uma certa forma de prevenção.
"Mas, dentro de algumas estruturas de saúde, sobretudo aqui do Hospital, não temos reparado esse rigor”, afirmou.
Por isso, considera que há falhas sobretudo na gestão de doentes, indicando que, mesmo com a separação dos pacientes com sintomas respiratórios dos outros pacientes, há situações em que um doente com queixas respiratórias entra num serviço onde não devia estar e vice-versa.
Numa referência aos casos positivos entre os médicos, disse que é preciso dar o benefício da dúvida, sobre o eventual contágio no seio familiar.
“Já temos quatro casos, não posso provar realmente se estes casos foram contraídos dentro ou fora do hospital.
"É bem possível que seja no seio familiar, mas tendo em conta que é para o hospital que vão as pessoas com sintomas, é provável também que a infecão tenha sido contraída aí.
"Temos que dar o benefício da dúvida e dar a nossa contribuição para a correção daquilo que nós achamos que deve ser corrigido”, advertiu.
-0- PANA CS/IZ 29abril2020