Agência Panafricana de Notícias

Mais de 7500 comorenses morrem ao tentar chegar a Mayotte

Paris, França (PANA) – Pelo menos 7500 comorenses morreram nesta última década tentando chegar a Maiote (ilha comorense governada pela França) em embarcações improvisadas, afirmou terça-feira em Paris o ministro comorense dos Négocios Estrangeiros e Cooperação, encarregue da Diaspora e da Francofonia, do Mundo Árabe e da União das Comores, Fahmi Said Ibrahim.

Numa entrevista à PANA, Said Ibrahim qualificou esta situação de «tragédia humana» que interpela o Governo da União das Comores.

«Humanamente, não podemos aceitar esta situação. Se não agirmos, somos cúmplices», avertiu o chefe da diplomacia comorense, responsabilizando abertamente a França pela morte de mulheres, crianças e adultos candidatos à viagem para Maiote.

Ele disse ter alertado insistentemente os nossos amigos franceses para a instauração de vistos de entrada entre Maiote e as três outras ilhas das Comores, designadamente Grande Comore, Moheli e Anjouan.

"Infelizmente, cálculos eleitorais de curta duração impediram-nos de nos escutar. Infelizmente, somos hoje obrigados a gerir dramas familiares e humanos», indignou-se o ministro comorense dos Negócios Estrangeiros.

Ele considerou que "é preciso hoje abolir os vistos de entrada entre Maiote e as três outras ilhas sabendo que esta medida administrativa foi imposta em 1994 pelo então primeiro-ministro francês Edouard Balladur com a esperança de ganhar 20 a 30 mil votos de Maiote.

Para o ministro comorense das Relações Exteriores, os enormes investimentos de França na ilha de Maiote fizeram deste território "uma espécie de eldorado» que atrai milhares de pessoas em busca de um hipotético bem-estar.

«Não só estes investimentos desmedidos criaram um desequilibrio regional, mas também fizeram nascer uma miragem. Nós temos acompanhado uma espécie de corrida mortífera para o ouro. E para responder a tudo isso, a França escolhe mais uma vez fugir à frente. Quase 100 milhões de euros são gastos anualmente para expulsar os comorenses de Maiote; numa só palavra para os expulsar do seu proprio país. Enquanto apenas 10 milhões se destinam ao apoio da França às Comores», sublinhou o ex-defensor da Ordem dos Advogados de Moroni, a capital comorense.

Antecipando o desejo de França de obter da União Europeia (UE), o estatuto de «região ultramarinho» para Maiote, o chefe da diplomacia comorense advertiu fortemente da agravação do desequilibrio entre, por um lado, a ilha disputada e, por outro, as Comores, as ilhas Mauícias, Madagáscar e Seichelles.

«Se amanhã a Europa aceitar a política francesa em Maiote, ela perderá o crédito. Seria envolver-se numa aventura de consequências pesadas, não ouso imaginar outros 26 países da UE perderem a vigilância para se deixarem implicar nesta vontade de facto consumado e de desprezo do Direito Internacional", preveniu.

Na sua ótica, a França deve "aceitar discutir connosco para encontrarmos uma solução para o litígio sobre Maiote uma vez por todas».

Cerca de 29 mil estrangeiros foram reduzídos do território francês e mais de metade destas expulsões foram feitas de Mayipte para as Comores e outros países do Oceono índico, indica-se.

-0- PANA SEI/TBM/CCF/DD 01mars2011