Agência Panafricana de Notícias

MPLA pressiona Eduardo dos Santos a deixar liderança do partido em Angola

Luanda, Angola (PANA) - O Comité Central do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) chumbou sexta-feira uma proposta do seu líder, José Eduardo dos Santos, de adiar para dezembro próximo ou abril de 2019 a decisão sobre a sua retirada da vida política ativa.

Em vez disso, o Comité Central (CC) propôs um horizonte mais curto para resolver a questão, começando com uma reunião de reflexão em abril próximo para definir uma nova data para a realização de um congresso extraordinário consagrado à escolha de um novo líder do partido.

De acordo com o comunicado final da quinta sessão ordinária do CC do MPLA realizada sexta-feira, em Luanda, o encontro de reflexão de abril próximo será a nível do Bureau Político ao que se seguirá uma reunião extraordinária do CC, no mês de maio deste ano.

A referida reflexão tem como fim único o "fortalecimento do MPLA e o reforço da sua coesão interna, privilegiando sempre os interesses do Partido e da Nação", refere o documento.

Contrariando a sua promessa anterior de deixar a liderança do partido e a vida política ativa em abril de 2018, Eduardo dos Santos apareceu, na abertura da reunião de sexta-feira, com uma nova proposta em que procura dilatar o horizonte temporal para a discussão da questão da sua sucessão à frente do partido que governa o país desde a Independência nacional, em 1975.

Segundo fontes próxima do encontro, esta nova ideia do antigo chefe de Estado angolano (1979-2017) gerou um clima de tensão e divergências, chegando inclusive a ser admitida a possibilidade da apresentação de uma proposta de moção de censura ao líder.

Eduardo dos Santos, que alegou ter-se comprometido a coordenar pessoalmente a estratégia do partido para as eleições autárquicas previstas para 2022, teria depois flexibilizado para aceitar a ideia da discussão do assunto em datas diferentes das que ele inicialmente propôs.

A ideia é definir uma data para a realização de um congresso extraordinário para escolher um novo presidente do partido no poder em Angola, uma vez que, em condições normais, tal só podia acontecer em 2021, ano do próximo congresso ordinário do MPLA.

No entender do diário estatal Jornal de Angola (JA), esta sessão "não foi como o passeio habitual que tem caraterizado as reuniões (...) do partido no poder, geralmente rápidas e com comunicados em que a semântica esconde os verdadeiros problemas discutidos".

O jornal cita fontes que garantem que as últimas reuniões "têm sido tensas, bastante demoradas e com abordagens profundas sobre os reais problemas que afetam o partido e o país, procurando-se uma aproximação entre o discurso partidário e de Estado".

"No conclave desta sexta-feira, tal como na reunião do BP de segunda, o clima foi de divergências que significam a pluralidade de ideias existente no partido. Por isso não espanta que o encontro de ontem tenha consumido nove horas de discussões", comentou.

O diário destaca que foi pela primeira vez, em mais de 40 anos de poder, que uma proposta de José Eduardo dos Santos é rejeitada pelo Comité Central, "que remeteu a decisão para uma reunião de reflexão".

Muitos militantes históricos do MPLA foram igualmente citados na imprensa local e nas redes sociais a defender a saída imediata, sem mais delongas, de José Eduardo dos Santos da chefia do partido para ser substituído pelo atual chefe de Estado e vice-presidente do partido, João Lourenço.

O general na reforma Santana André Pitra “Petroff”, primeiro comandante-geral da Polícia Nacional, defendeu a transferência “urgente” da liderança do partido de Eduardo dos Santos para João Lourenço, lembrando que "nunca houve no MPLA uma liderança a duas cabeças".

“Desde o tempo de Agostinho Neto (1975-1979), isso nunca foi assim”, disse em entrevista ao JA o antigo consultor do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos e um dos quadros militares mais respeitados do país, sentenciando que “se fosse já, seria melhor”.

Petroff foi o primeiro comandante-geral da Polícia Nacional depois da Independência do país e mais tarde ministro do Interior, dirigindo atualmente a Comissão Nacional Interministerial de Desminagem e Assistência Humanitária.

Segundo ele, “a bicefalia é prejudicial para o MPLA, porque os tempos mudaram”, razão pela qual "a maioria defende uma liderança única para o partido".

-0- PANA IZ 19março2018