Agência Panafricana de Notícias

Jovens maratonistas angariam 80 mil euros para julgamento de ex-Presidente tchadiano

Lagos, Nigéria (PANA) – Trinta e oito estudantes neerlandeses participaram numa maratona em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a 6 de novembro corrente, que permitiu reunir 80 mil euros para a extradição do ex-ditador tchadiano no exilado no Senegal, Hissène Habré, anunciou a Human Rights Watch (HRW), organização de defesa dos direitos humanos.

Sob o lema « Corra pela Human Rights Watch », estes maratonistas obtiveram os 80 mil euros dos seus amigos e das suas famílias para apoiar as vítimas de Habré, que se batem há mais de 20 anos por julgá-lo, declarou o grupo sediado em Nova Iorque, num comunicado chegado à PANA em Lagos esta quinta-feira.

Acusado de crimes contra a humanidade enquanto esteve no poder, de 1982 a 1990, Habré vive atualmente no Senegal, que se recusa a julgá-lo, e as suas vítimas desejam doravante que seja enviado para Bélgica para ser julgado.

« É importante saber que a nossa luta atraiu a atenção de pessoas tão afastadas », declarou Clément Abaifouta, presidente da Associação das Vítimas dos Crimes de Hissène Habré.

Enquanto prisioneiro sob o regime de Hissène Habré, Abaifouta foi obrigado a escavar túmulos para mais de 500 dos seus co-reclusos.

Ele declarou que as somas reunidas ajudarão « a fazer ouvir as suas vozes ».

Os dossiês da Polícia Política de Habré, a DDS, descobertos pela HRW, revelam os nomes de mil e 208 pessoas falecidas ou mortas em detenção e de 12 mil e 321 vítimas de violações dos direitos humanos.

« Fomos comovidos pela história destes sobreviventes que se batem há muito tempo por que se faça justiça e desejamos ajudá-los », declarou Jeroen Grasveld, de 25 anos de idade, um estudante de Mestrado em Economia pela Universidade de Amsterdão (Países Baixos) que participou na maratona em nome dos sobreviventes.

Uma outra corredora, Stephanie van Rapperd, de 25 anos de idade, estudante de arquitectura na Universidade de Delft, indicou que vão acompanhar este assunto até que justiça seja feita.

Habré foi indiciado pela primeira vez no Senegal em 2000, mas os tribunais do país consideraram-se incompetentes para o julgar, e as suas vítimas queixaram-se então na Bélgica.

Após anos de inquéritos, um juiz belga pediu a sua extradição em setembro de 2005.

O Senegal exortou a União Africana (UA) a recomendar uma diligência a seguir e, em julho de 2006, a UA instou o Senegal a julgar Habré « em nome de África ».

Anos de bloqueio seguiram-se contudo, mesmo depois de os doadores internacionais financiarem inteiramente o orçamento de 11 milhões e 900 mil dólares americanos do julgamento, em novembro de 2010.

Em maio de 2011, o Senegal interrompeu as suas negociações com a UA sobre o julgamento e indicou claramente que não vai processar Habré.

Em julho de 2010, o Presidente senegalês, Abdoulaye Wade, reconsiderou uma decisão anunciada dois dias antes de expulsar Habré para o Tchad, onde ele foi condenado à morte por contumácia.

A Bélgica fez um segundo pedido de extradição, que está pendente.

A 22 de julho, o Governo do Tchad anunciou que aceitava extradir Habré para a Bélgica, mas
o Rwanda anunciou recentemente estar disposto a julgar Habré diante dos seus tribunais.

-0- PANA SEG/FJG/JSG/IBA/MAR/IZ 24nov2011