Agência Panafricana de Notícias

Jornalistas e Governo desentendidos sobre cobertura de Covid-19 em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) - A Associação  Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) considera a “ameaça” do Governo de responsabilizar judicialmente os órgãos de comunicação social que divulgarem "informações não verdadeiras" sobre o coronavírus (Covid-19), como uma outra intenção de silenciar e condicionar o trabalho dos jornalistas nesta matéria,  apurou a PANA, segunda-feira, de fonte segura.

Através de uma publicação inserida na sua página de Facebook, a AJOC considera “injustificável” a atitude do Governo a quem acusa de querer responsabilizar a imprensa pela "disseminação de notícias falsas"  neste momento de “estado de contingência”, em  vigor no país.

Para a organização sindical, que representa os jornalistas cabo-verdianos, “trata-se de uma acusação ligeira e sem qualquer aderência à realidade.”

Lembrou que os limites à liberdade de imprensa estão “devidamente assinalados na Constituição da Republica de Cabo Verde (CRCV) e na Lei da Comunicação Social.”

A AJOC advoga que o combate à informação não apurada “jamais” poderá fazer-se pela via da censura, apesar de concordar que “a desinformação, "fake news", boatos e rumores” minam a democracia e criam um clima de medo e de alarme social, erodindo a confiança dos cidadãos nas instituições.

No entanto, a única organização sindical da classe jornalística no arquipélago cabo-verdiano considera  que este fenómeno só se combate com uma informação verdadeira, oportuna e transparente, e com uma aposta forte na literacia mediática.

Socorrendo-se das recentes declarações do diretor-geral da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), a AJOC reafirmou que “a responsabilidade do jornalista perante o público tem precedência sobre qualquer outra responsabilidade”.

“A verdade da informação só se consegue mediante o acesso livre a informações confiáveis e, preferencialmente, pela diversificação de fontes. Por isso, a AJOC apela ao Governo para abrir todas as fontes de informação, de modo a que os jornalistas possam recolher elementos necessários e imprescindíveis que lhes permitam noticiar com confiança”, lê-se na nota.

Nessa linha, o sindicato lembra que a instauração do estado de contingência ou de outro que vier a ser declarado no quadro das sociedades modernas, não significa a suspensão ou o fim da democracia, e, logo, da liberdade de imprensa.

Assim sendo, a direção da AJOC informa ter  solicitado já  um posicionamento com carácter de urgência à Autoridade Reguladora para a Comunicação Social, em relação ao comunicado do Governo.

Na nota, a AJOC reforçou ainda o apelo aos jornalistas para que continuem a observar os princípios e valores constantes do Código Deontológico.

Domingo último, através de um comunicado, o Governo informou que veículos de informação que publicarem informações não verdadeiras, neste momento de estado de contingência ou de outro que vier a ser declarado, podem ser responsabilizados judicialmente.

A publicação de informações oriundas de chamadas “fontes não oficiais” por parte dos veículos de comunicação, sem a devida confirmação com as entidades competentes, “é uma prática danosa à sociedade, pois pode causar confusão e pânico num momento em que é preciso que a população aja com calma e serenidade.”

-0- PANA CS/DD 24março2020