Agência Panafricana de Notícias

Imprensa africana lamenta morte de Alcino da Costa como "formador inigualável"

Paris , França (PANA) – O jornalista senegalês de origem cabo-verdiana Alcino Luís da Costa, cujos restos mortais foram a enterrar quarta-feira em Dakar, no Senegal, formou durante uma carreira ininterupta de 50 anos tantos jornalistas africanos como várias escolas e faculdades de jornalismo juntas.

De Nairobi a Dakar, de Joanesburgo a Túnis, passando por Kinshasa, Niamey e Addis Abeba, ele passeou a sua silhueta reconhecível da sua cor de filho de imigrantes caboverdianos, para orientar um seminário aqui, garantir uma sessão de aperfeiçoamento acolá ou ainda apresentar uma conferência sobre os desafios do jornalismo.

Não é mais senão justiça sublinhar, numa altura em que se acaba de lhe acompanhar para a sua última morada, que vários discípulos de Alcino Luís da Costa são hoje citados como referência na profissão.

Antigo jornalista do semanário « Jeune Afrique », Tidiane Dioh, atual responsável dos Programas de Imprensa da Organização Internacional da Francofonia (OIF), transmitiu à PANA um testemunho comovente sobre aquele que todo o bureau pariense da Agência Pan-africana de Notícias (PANAPRESS) chama afetuosamente « O Boss ».

« Tive a honra de tê-lo ao meu lado a partir de 2004, na qualidade de consultor do Programa da Imprensa da OIF. Desde 2005, eu confiava-lhe diversas missões das quais a elaboração e a execução do Plano de Reabilitação e Modernização das agências de notícias públicas da África Francófona para o qual ele deslocou-se ao Togo, ao Burkina Faso, ao Senegal, ao Níger, ao Congo e à República Democrática do Congo », escreveu.

Dioh que representou o secretário-geral da OIF, Abdou Diouf, terça-feira na exposição do corpo de Alcino Luís da Costa, afirma que em várias outras ocasiões este antigo chefe de Redação da Agência Senegalesa de Notícias (APS) e antigo diretor do semanário católico « Afrique Nouvelle » contribuiu para a profissionalização da imprensa africana.

« Num outro registo, sempre ao serviço da OIF, ele ajudou o Sindicato dos Jornalistas do Burundi a negociar a sua primeira convençao coletiva. No Tchad, ele realizou, ao meu lado diversas sessões de formação em cobertura eleitoral. Na Côte d'Ivoire, e depois na Guiné, ele trabalhou, a pedido do Presidente Abdou Diouf a quem estava ligado por uma verdadeira amizade, como encarregado de Comunicação das Missões de Observação Eleitoral da OIF», prosseguiu Dioh.

Imunizado contra « o vírus » do conflito de gerações que pode atravessar uma profissão tão aberta como o jornalismo, Da Costa possuía vários amigos entre os jornalistas africanos de todas as idades.

« Do jornalismo e jornalistas africanos, ele sabia tudo sobre todo o mundo – Um meio século de prática sem descanso deu-lhe, da cartografia da imprensa do continente, um conhecimento de topógrafo. A caixa negra escondida num canto do seu cérebro fazia com que ele pudesse traçar o itinerário do menor jornalista e a história de cada órgão de imprensa », recorda-se Dioh, certamente um dos seus mais fiéis herdeiros espirituais juntamente com o responsável do Bureau da PANAPRESS em Paris.

Dominado pela sua generosidade lendária, Da Costa nunca recusava gente às suas formações, preferindo dar a cada uma oportunidade de êxitar nesta profissão.

Mas com ele, o mais difícil não é ser aceite entre os estagiários mas poder manter um ritmo articulado em torno do rigor na aprendizagem e do respeito estrito dos horários.

« Neste registo, ele sabia ser intransigente a ponto de irritar os seus amigos. Ele sabia ser, na realidade meticuloso, o que me leva a uma confissão, que não será para alguns uma revelação: vários colegas temiam a sua presença durante os encontros internacionais. Durante as sessões de formação que nós realizámos juntos nos quatro cantos do mundo, nunca deixara de velar pelo estrito respeito dos horários », relata o responsável dos Programas de Imprensa da OIF, depois de percorrer 15 países com o finado.

Enquanto tudo na sua trajetória profissional lhe dava um bilhete de entrada no círculo das vedetas da profissão, Alcino da Costa, consultor da PANAPRESS desde a criação desta agência, soube ser humilde até ao seu combate contra a doença que acabou por levá-lo.

« Alcino não se tornou jornalista por defeito ou por acaso. Ele entrou na profissão como outros na religião. O seu jornalismo era um sacerdócio. Ele sabia ser pedagogo. Ele sabia com a experiência que a formação demora. O seu jornalismo era relojoaria, mecânica de precisão. Era a habilidade de convencer. Era a lógica argumentativa que utiliza a arte de persuadir. São a atração da sua voz, os recursos do seu vocabulário, a justeza da sua argumentação.  Era a sua língua francesa em ação», tentou explicar Tidiane Dioh.

Formador sem fronteiras, enquadrador intransigente e rigoroso, Alcino queria formar profissionais à sua própria semelhança, quer dizer, jornalistas que não cedem aos elogios dos poderosos nem à demolição dos pequenos.

« Ao inventar novas abordagens paradigmáticas, Alcino abriu a via de que precisamos seguir. E que só isto deverá bastar para o arrancar do esquecimento coletivo », reforçou um dos milhares de discípulos de Alcino Luís da Costa que faria 72 anos a 23 de setembro corrente.

-0- PANA SEI/AAS/IBA/FK/IZ 08set2011