HRW acusa Exército camaronês de massacre de civis
Yaoundé, Camarões (PANA) – As forças governamentais camaronesas e membros armados da etnia fula mataram pelo menos 21 civis dos quais 13 crianças e uma mulher grávida, a 14 de fevereiro último, na aldeia de Ngarbuh, nos Camarões, acusa a Human Rights Watch (HRW).
Segundo esta organização de defesa dos direitos humanos, eles (militares camaroneses) também incendiaram cinco casas, saquearam numerosos outros bens e agrediram vários habitantes,
Os cadáveres de algumas vítimas foram encontrados carbonizados nas suas casas, mas o Governo desmentiu que as suas tropas tivessem deliberadamente cometido crimes.
"Os assassinatos de civis, incluindo crianças, cometidos em condições horríveis, são crimes hediondos que deverão ser objeto de inquéritos efetivos e independentes e os seus responsáveis deverão ser levados a tribunal”, declarou Ilaria Allegrozzi, investigadora sénior da HRW sobre África.
De acordo ainda com Allegrozzi, negar que estes crimes tenham sido cometidos "acrescenta mais ainda ao traumatismo sofrido pelos sobreviventes e só irá encorajar as tropas governamentais a cometer outras atrocidades”.
A HRW diz ter interrogado 25 pessoas das quais três testemunhas dos crimes e sete próximos de vítimas, sobre estes acontecimentos ocorridos, em Ngarbuh, na divisão de Donga Mantung, na região noroeste dos Camarões.
A organização nota que esta zona está gravemente afetada por violências entre as forças governamentais e grupos armados que buscam obter a criação de um Estado independente nas províncias anglófonas do noroeste e do sudoeste.
Membros da etnia fula vivem, em Ngarbuh e arredores, são muitas vezes designados como "Mbororos" e formam uma comunidade essencialmente pastoril.
A HRW também obteve listas das vítimas junto de cinco fontes e avistou-se com várias pessoas, incluindo parentes das vítimas e habitantes que trataram dos enterros, que confirmaram de forma independente as identidades das vítimas.
Testemunhas afirmaram que entre 10 e 15 militares, membros do Batalhão de Intervenção Rápida (BIR), uma unidade de elite do Exército camaronês, e pelo menos 30 fulas armados penetraram primeiro a pé, em Ngarbuh 1, um bairro de Ngarbuh, a 13 de fevereiro por volta de 23 horas, saqueando várias casas.
Alguns membros destas forças dirigiram-se para o bairro de Ngarbuh 2, pilhando várias casas e agredindo numerosos habitantes.
Por volta das 05:00 horas da madrugada de 14 de fevereiro último, um grupo de militares e fulas armados atacou o bairro de Ngarbuh 3, matando 21 civis em quatro casas, que depois incendiaram.
A HRW examinou imagens satélites captadas antes e após o ataque de Ngarbuh 3.
As imagens do pós-ataque, captadas a 14 de fevereiro às 10:24 horas locais, mostram várias casas de Ngarbuh que apresentam danos que correspondem com um eventual incêndio.
Um homem de 32 anos de idade, que foi testemunha do assassinato de toda a sua família, incluindo sete crianças.
“Eu ouvi disparos e fugi imediatamente para me esconder ao lado da minha casa. De lá, vi os militares abater todos os membros da minha família um por um quando eles tentavam fugir. Eles abateram primeiro a nossa mãe. Depois mataram as crianças cujos corpos sem vida caíam sobre ela. Depois eles incendiaram a minha casa”, relatou.
A Human Rights Watch tentou por várias vezes contactar um alto responsável do Governo, mas não recebeu uma resposta.
O ministro da Defesa dos Camarões fez duas declarações, a 17 de fevereiro último, em que anunciou a abertura de um inquérito sobre o assunto com a participação das Nações Unidas.
Numa segunda declaração, mais tarde no mesmo dia, ele indicou que os resultados do inquérito governamental sobre o incidente cujos resultados seriam divulgados "em tempo oportuno.
Nas duas declarações, ele afirmou que "terroristas armados atacaram as forças de segurança do Governo" e que os confrontos provocaram a explosão de reservatórios de combustíveis, o que teria destruído várias habitações e causado a morte de uma mulher e quatro crianças.
Mas para Ilaria Allegrozzi, o Governo camaronês deverá autorizar um inquérito independente, com a participação das Nações Unidas, sobre o massacre de Ngarbuh e publicar os seus resultados.
Para se ter a certeza de que a sua assistência não facilita o cometimento de atrocidades, os parceiros dos Camarões "deverão suspender a sua cooperação militar, enquanto se aguarda pelos resultados deste inquérito”, exortou.
-0- PANA MA/NFB/JSG/FK/IZ 27fev2020