Governo autoriza empréstimo de 902 mil euros a transportadora aérea cabo-verdiana
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Governo de Cabo Verde autorizou um empréstimo bancário de “emergência”, na ordem de 100 milhões de escudos (902 mil euros), para o pagamento de salários em atraso para trabalhadores da Cabo Verde Airlines (CVA), apurou a PANA, quarta-feira, na cidade da Praia, de fonte oficial.
Na resolução do Conselho de Ministros, que aprova o aval do Estado para o empréstimo a conceder pelo banco estatal Caixa Económica de Cabo Verde (CECV), o Governo justifica a sua decisão pelo facto da CVA, parada há alguns meses, “continuar a ter compromissos a honrar, como é o caso das manutenções regulares das aeronaves, o pagamento dos salários aos seus colaboradores, o cumprimento dos seus compromissos com créditos bancários, entre outros.”
A companhia aérea, privatizada em março de 2019, com a venda da posição de 51 por cento a investidores islandeses, está, há mais de sete meses, sem atividade comercial, devido às restrições impostas para conter a pandemia da covid-19.
O Governo admite o “contexto de dificuldades financeiras” na CVA, recordando que o Estado ainda detém uma participação “de responsabilidade direta” de 39 por cento na companhia.
“O Estado de Cabo Verde reconhece o manifesto interesse nacional em criar condições para apoiar a empresa a enfrentar as consequências impostas pelo atual contexto de pandemia, e considera que estão reunidas todas as condições exigíveis para a concessão de um aval”, acrescenta o docfumento.
O Governo sublinha que a CVA “não é exceção” à crise que afeta as companhias aéreas em todo mundo, devido à pandemia.
Em março último, antes da suspensão dos voos internacionais para Cabo Verde, a CVA contava com cerca de 330 trabalhadores e uma frota de três Boeing.
A CVA não realiza voos comerciais desde 18 de março última, quando o arquipélago encerrou a ligações internacionais, para conter a pandemia da covid-19, por decisão do Governo.
Estes voos foram retomados a 12 de outubro último, com a reabertura de fronteiras, mas a administração da CVA não tem ainda planos para retomar a operação, sendo conhecidas, desde maio último, negociações com o Governo, para um apoio financeiro, ainda sem conclusão.
“Muito brevemente, nós teremos um anúncio sobre a companhia CVA, com aposta do Governo. Objetiva e obviamente que o Governo terá que intervir neste processo, tendo em conta que, da noite para o dia, a Cabo Verde Airlines deixou de ter vendas, mas continuou a ter custos. Inevitavelmente terá que haver uma intervenção do Estado”, afirmou o ministro cabo-verdiano do Turismo e dos Transportes, Carlos Santos.
O governante intervinha na Assembleia Nacional num debate sobre os transportes e os seus impactos no desenvolvimento do país, agendado pela oposição e visando especialmente a CVA.
Em março de 2019, o Estado cabo-verdiano vendeu 51 por cento da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70 por cento pela Loftleidir Icelandic EHF, grupo Icelandair, que ficou com 36 por cento da CVA, ao passo que os restantes 30 por cento são detidos por empresários islandeses com experiência no setor da aviação.
O Governo concluiu este ano a venda de 10 por cento das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39 por cento restantes, que deveriam ser alienados em bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo executivo devido aos efeitos da pandemia.
A administração da companhia, nas mãos da Icelandair, assume, há cerca de um ano, a necessidade de um empréstimo de longo prazo para viabilizar a operação da CVA, com apoio do Estado.
Este novo aval, que autoriza mais um financiamento bancário a uma empresa resultante da privatização dos antigos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), está a ser alvo de criticas tanto por parte da oposição como da de muitos setores da sociedade cabo-verdiano que colocam em duvida a viabilidade futura da transportadora aérea.
No entanto, o Governo garante continuar a apostar na CVA, sublinhando que esta companhia deve recentrar os seus objetivos no curto prazo, olhar para a diáspora e para o turismo, o que deve redimensionar a empresa.
O ministro dos Transportes, depois de várias críticas e perguntas da oposição sobre o negócio envolvendo a CVA, disse que este redimensionamento é justificado por haver “retração na procura” em todo o mundo.
“Não é o Governo que está a induzir isto, mas sim esta realidade”, concluiu.
-0- PANA CS/DD 04nov2020