Governo assegura evitar quatro mil casos e 40 mortos pela Covid-19 em Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) - Cabo Verde estaria, neste momento, com quatro mil casos e cerca de 40 mortos provocados pela pandemia, se o Governo não tivesse feito nada para combater a Ccvid-19 (coronavírus), anunciou quarta-feira na cidade da Praia o ministro cabo-verdiano da Saúde e Segurança Social, Arlindo do Rosário.
O governante fez estes pronunciamentos no Parlamento, com base em projeções nacionais, mas também nas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Arlindo do Rosário, que falava durante a Sessão Ordinária da Assembleia Nacional, ressaltou que, após dois meses, desde a confirmação do primeiro caso de infeção no país, há o registo de 289 casos positivos, mas também de 61 recuperados e de apenas dois óbitos.
“Os nossos esforços para a contenção da propagação da pandemia estão, neste momento, sobretudo, voltados para a ilha de Santiago e, particularmente, para a cidade da Praia, onde se vem registando, nas últimas três semanas, um aumento gradual de número de casos”, prosseguiu.
Segundo ele, a capital cabo-verdiana, o maior centro populacional do pais, concentra cerca de 76 por cento dos casos registados no país, todos diagnosticados em contactos sem sintomas da doença, a partir da investigação epidemiológica.
Arlindo do Rosário afirmou ainda que 95 por cento das pessoas infetadas não apresentaram, até ao momento, sintomas e que as restantes têm sintomas muito leves.
Avançou que apenas 4,8 por cento apresentaram um quadro clínico que inspira cuidados e que a taxa de incidência da epidemia é, neste momento, de 0,4/1000.
O governante chamou ainda atenção para a situação do Hospital da Trindade, na cidade da Praia, onde foram diagnosticados 40 casos de Covid-19, afirmando que o mesmo é um domínio fechado e que, portanto, “é normal num vírus que se transmite, na maior parte das vezes, em situação assintomática”, propagar-se.
“É difícil muitas vezes saber-se se o vírus está presente num determinado lugar. É normal haver alguma propagação da epidemia nesse lugar”, disse Arlindo do Rosário.
Por outro lado, ele frisou que as medidas, desde cedo tomadas, “surtiram os efeitos desejados até a este momento, com o aplanamento da curva da epidemia e, sobretudo, evitando a pressão sobre as estruturas de saúde.”
O governante considera que o estado de emergência e o seu impacto sobre a epidemia permitiram também ao serviço nacional de saúde ganhar competências e capacidades.
“Melhoramos a capacidade de resposta em termos de recursos humanos, de equipamentos médico-hospitalar, de proteção individual, laboratorial e de comunicação de risco”, frisou.
Neste espaço de três meses, informou, foram recrutados cerca de 400 profissionais de saúde de diversas áreas, investidos cerca de 600 mil contos (cerca de 5,357 milhões de euros) em equipamentos, melhorou-se a capacidade de realização de testes quer moleculares, quer rápidos.
“Com efeito, o laboratório de virologia já realizou mais de dois mil testes moleculares e já começamos a massificar os testes rápidos nos bairros e nos grupos de maiores riscos”, acrescentou.
Deu ainda a conhecer que cerca de 16 mil testes já foram distribuídos por todas as ilhas e que se vai, nas próximas semanas, aumentar a distribuição para mais 50 mil testes, além de se estar a implementar a medida que estipula o uso generalizado de máscaras.
Intervindo na mesma sessão, o líder parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, principal forca da oposição), Rui Semedo, reconheceu que as medidas inicialmente tomadas pelo Governo adiaram um pouco a propagação do vírus em todo o país.
No entanto, ele defendeu que as mesmas "não foram suficientes para impedir que as ilhas da Boa Vista e de Santiago fossem duramente atingidas pela fúria da Covid-19.”
Rui Semedo disse que atualmente “as preocupações são enormes”, primeiramente “pelos efeitos reais e diretos na vida das pessoas e das famílias que passaram a viver da solidariedade alheia.”
O país está, conforme este responsável partidário, desafiado a mobilizar-se rapidamente para encontrar as melhores soluções e devolver às pessoas e às famílias novos equilíbrios com respostas que as ajudem a restabelecerem-se e a voltarem a normalidade, libertando-se desta “forte dependência” que as deixa “impotentes e totalmente expostas.”
Todas as ilhas devem, do ponto de vista deste dirigente do PAICV, merecer uma atenção particular do Estado de Cabo Verde, que, acrescentou, depois desta crise, tem de se reinventar a si próprio para enfrentar o novo contexto.
“Se o país inteiro foi duramente afetado, não se pode perder de vista que as ilhas da Boa Vista e de Santiago sofreram mais com esta crise porque foram atingidas direta e fortemente pela doença. Foram afinal as principais vítimas diretas da Covid-19”, frisou, afirmando que “as epidemias, como a que estamos a enfrentar, deixam marcas profundas na vida das pessoas afetadas.”
Na Praia, afirmou Rui Semedo, por mais que não se queira alarmar as pessoas, “a situação é muito grave”, desde logo porque, salientou, “o número de infetados é expressivo” mas também “porque não se sabe com exatidão o que poderá acontecer nos próximos dias ou nos próximos meses."
“Entendemos as posições das autoridades que não querem ver a população em pânico, mas a situação da Praia preocupa-nos a todos quando sabemos que já ultrapassamos a cifra de duas centenas de casos numa população inferior a 200 mil habitantes. O que é que não terá funcionado bem na Praia?”, questionou.
O PAICV, disse o seu líder parlamentar, está ainda preocupado com o facto de “todo este crescimento” de infetados estar a acontecer em pleno estado de emergência em que as pessoas deveriam estar confinadas a uma circulação extremamente limitada e a um contacto muito reduzido.
-0- PANA CS/DD 14maio2020