Governo anuncia parar de subsidiar importação de trigo em Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Governo de Cabo Verde anunciou, segunda-feira, não prever voltar a subsidiar a importação de trigo, como nos últimos meses devido ao impacto da guerra na Ucrânia.
Em declarações a jornalistas, na cidade da Praia, o ministro da Agricultura e do Ambiente, Gilberto Silva, alertou para os custos desta medida excecional, sublinhando que a situação é deveras preocupante, uma vez que, prosseguiu, os preços estão a aumentar a nível internacional, com a crise a continuar.
"O Governo até hoje gastou com esta política de compensação financeira cerca de 151.000 contos (151.000.000 escudos ou 1.400.000 euros)", afirmou, Gilberto Silva.
Desde o início deste ano que o Governo deixou de subsidiar a importação de trigo, o que fez disparar o preço do farinha de trigo, com o saco de 50 quilogramas a passar de 2.890 escudos (26,20 euros) para 4.600 escudos (41,70 euros), o que, por sua vez, levou as padarias a anunciar aumentos na carcaça de pão, que podem chegar a 25 escudos (22 cêntimos de euro).
De acordo com o ministro, a subsidiação da importação de milho pelo Estado vai manter-se "por mais três meses", tendo em consideração "a preparação de um novo ciclo de produção a nível da pecuária, mas o mesmo não acontecerá com o trigo."
"Temos um parecer do Secretariado Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que não recomenda a continuidade, tendo em conta o prolongamento da situação internacional e dos custos. Só para, por exemplo, mais três meses desta compensação, o Governo estaria a gastar mais 56.000 contos (56.000.000 escudos ou 507.000 euros)", afirmou Gilberto Silva.
"São recursos muito avultados", preveniu o Secretariado Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, acrescentando que "devemos reforçar as outras medidas bastante eficazes."
Ele referia-se ao apoio às cantinas escolares, à assistência alimentar às famílias e também ao emprego público que permite às famílias trabalharem e obterem rendimentos que lhes permitam acederem aos bens alimentares.
O ministro admitiu que o preço do trigo permanece "elevado", mas que "a tendência é para a sua diminuição no mercado internacional".
"E estas medidas de compensação, de acordo com a lei cabo-verdiana, não podem perdurar no tempo, tendo em consideração que constituem também uma perturbação ao funcionamento do mercado. Daí que, perante este parecer e perante a situação, o Governo vá analisar e continuar atento e ver as necessidades", disse quando respondia a jornalistas à margem da cerimónia de doação a Cabo Verde das 1.500 toneladas de arroz.
"No quadro da aprovação das medidas de mitigação dos efeitos da crise, o Governo abriu-se no sentido de regularmente analisar a situação global e tomar as medidas que se impõem, demonstrando claramente alguma flexibilidade. Mas é importante sublinhar que a compensação dos preços dos produtos não é uma medida frequente nos demais países do mundo", apontou o ministro.
Gilberto Silva sublinhou que "todos os países procuram evitar" a subsidiação, "tendo em conta que perturba, de certa forma, o bom funcionamento do mercado."
Entretanto, o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), principal partido da oposição em Cabo Verde, pediu a “reposição imediata” do subsídio da farinha de trigo como a “melhor forma” que o Governo tem para diminuir o preço do pão.
Sublinhou que se trata de “um dos principais alimentos” dos cabo-verdianos.
Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, uma deputada do PAICV, Adelsia Almeida, sublinhou que se trata de "um dos principais alimentos."
A seu ver, o Governo tem que refletir sobre a sua posição ideológica e a teoria do mercado., porque, realçou, no contexto de incerteza da economia nacional e internacional, em que as famílias cabo-verdianos ainda estão sendo atingidas pelos impactos das crises, “sem rendimentos, sem emprego e aumentos salariais residuais, os cabo-verdianos sentem anualmente a degradação seu salário real.”
“Os cabo-verdianos vêm enfrentando um aumento generalizado do custo de vida, com aumento de preços de quase todos os bens de primeira necessidade. Menosprezando a grave situação de aperto em que as famílias vivem, na qual muitas não conseguem levar a panela ao lume, neste novo ano”, alertou.
Porém, prosseguiu, o Governo decidiu “sufocar ainda mais” o poder de compra dos cabo-verdianos, retirando a subsidiação da farinha de trigo, provocando assim “um aumento brutal” deste produto, de primeira necessidade, “em quase 60 por cento.”
-0- PANA CS/DD 17jan2023