Governo admite incerteza de sobrevivência da transportadora aérea cabo-verdiana
Praia, Cabo Verde (PANA) – O ministro cabo-verdiano do Turismo e Transportes, Carlos Santos, admitiu, esta quarta-feira, que o futuro da transportadora aérea nacional, a Cabo Verde Airlines (CVA), é ainda incerto, pelo que não se descarta a possibilidade de a empresa vir a fechar as portas devido às implicações do Covid-19 (coronavírus) no setor dos transportes aéreos, apurou a PANA de fonte segura.
Em entrevista à Radio de Cabo Verde (RCV), Carlos Santos, que passou a fazer parte do elenco governativo chefiado pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, em janeiro do ano em curso, explicou que os transportes aéreos são um dos setores mais atingidos, embora de forma indireta, pela pandemia, uma vez que, frisou, vem criando dificuldades a todas as companhias ao nível mundial, que tiveram as suas atividades suspensas, devido ao encerramento das fronteiras em todo mundo.
“Só para terem uma ideia. Para o terceiro trimestre de 2020, a IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) prevê que haverá cerca de um prejuízo de 39 mil milhões de euros para todas as companhias do mundo e a CVA não irá ficar de fora deste quadro, precisamente porque é uma companhia que estava num processo de descolagem”, precisou.
Carlos Santos salientou que, embora as contas aos prejuízos ainda não tenham sido feitas, só o facto dos aviões de CVA, que são alugados, estarem quase trinta dias sem realizarem voos, já deixa entender que a situação é complicada.
“A companhia tem os seus compromissos junto da IATA, junto da empresa de leasing que aluga os aviões e junto dos cerca das três centenas de trabalhadores. Portanto, já dá para ver que haverá um impacto grande ao nível dos resultados da empresa”, disse, frisando que, apesar dos aviões estarem imobilizados, os custos continuam, deixando um grande buraco financeiro.
O futuro ainda é incerto, até porque, salientou, a crise está ainda no inicio e não se sabe até quando a pandemia vai demorar. Por isso, as previsões não são encorajadoras, adiantou.
“Há projeções que, nos próximos três meses, a companhia poderá não voar e isso terá um impacto estrondoso nos resultados. Por isso, neste momento, não poderemos dizer de forma séria o que é que vai acontecer com a companhia CVA. É um risco que corremos, que tem de ser analisado porque isto está a acontecer com outras companhias”, alertou, quando questionado se a empresa corre o risco de fechar as portas.
Entretanto, adiantou que neste momento há instrumentos financeiros que o Banco Mundial (BM) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) estão a apresentar com soluções que podem ser destinadas ao setor aéreo.
“Estamos também a estudar essas soluções…Agora, caberá termos a capacidade de analisar as perdas, ver os caminhos que podemos trilhar e sobrevoar essa situação”, disse o governante, indicando que uma equipa já está a trabalhar nesta matéria e numa possibilidade de revisão do contrato assinado com a Icelandair, a empresa islandesa que faz a gestão da CVA.
Entretanto, Carlos Santos salientou que, para este momento, o pagamento dos salários aos trabalhadores da CVA está garantido.
Ele adiantou que, por outro lado, o Hub (plataforma) aéreo do Sal não estará em risco, dado que, disse, há estudos que demonstram que aquela ilha continua a ser o epicentro de uma estratégia de desenvolvimento de uma plataforma logística aérea em Cabo Verde.
Em março último, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisse Correia, afirmou que a CVA será uma das empresas objeto de medidas de apoio à economia e que a alienação dos 39 por cento que o Estado ainda detém na companhia será adiada, por considerar que “este não é o momento de o fazer."
A companhia aérea de bandeira, TACV, que antecedeu à CVA, foi privatizada em março de 2019, com a venda de 51 por cento do capital social a investidores islandeses, liderados pela Icelandair.
Durante o ano de 2019, avançou-se ainda com a venda de 10 por cento a trabalhadores e emigrantes, e estava prevista a venda da restante participação que o Estado detém (39 por cento) a investidores institucionais.
A CVA suspendeu temporariamente todas as atividades de transporte em 18 de março último, por pelo menos 30 dias, devido à pandemia de Covid-19 (cornavírus).
Alguns destinos da companhia aérea foram vedados, preventivamente, por decisões dos respetivos países, como forma de contenção da pandemia.
Além disso, por decisão do Governo cabo-verdiano, e pelo menos até 9 de abril, estão proibidas as ligações aéreas oriundas de 26 países, incluindo Portugal e Brasil, deixando a transportadora sem atividade, lamentou o responsável.
-0- PANA CS/DD 08abril2020