Agência Panafricana de Notícias

Governante angolano pede fim à "importação de experiências" em África

Mombasa- Quénia (PANA) -- O ministro angolano da Educação, António Burity da Silva, instou terça-feira os países africanos a deixar de importar experiências do exterior na busca de soluções aos diferentes problemas que estão na base de conflitos no continente.
Burity da Silva falava durante os trabalhos da conferência regional sobre "Educação para a Paz" que decorre desde segunda-feira na cidade turística queniana de Mombasa, no sudeste do país.
Segundo ele, os Africanos devem saber contar, em primeiro lugar, com o seu próprio espírito de patriotismo e unidade nacional para construir sistemas democráticos assentes na realidade continental.
"Não podemos continuar a importar experiências para o nosso continente mas devemos estudar as nossas realidades, respeitar a cultura das nossas populações e a diversidade que existe e saber dialogar com todas as forças vivas", disse.
Por outro lado, indicou que em nada servirão os esforços dos países para prevenir conflitos enquanto persistir a pobreza entre as suas populações e os fossos entre ricos e pobres, e os governos continuarem a dar tratamento desigual às suas diferentes regiões geográficas.
Na sua intervenção, Burity da Silva disse não serem as diferenças entre os homens que impedem o desenvolvimento dos países africanos mas "a intolerância dos próprios homens" ao recusarem aceitar tais diferenças.
Assim, defendeu, a construção da angolanidade e da própria africanidade terá de ser edificada com a participação de "todas as culturas em presença, fora de critérios estereotipados de exclusão e no contexto de uma lógica de complementaridade".
Advogou igualmente uma maior aproximação entre a Educação e a Cultura neste momento de "falência das ideologias" porque, argumentou, é através desta combinação que as novas gerações poderão recuperar muitos dos valores perdidos pela actual conjuntura económica.
A este propósito, referiu que "não pode haver nem deve existir uma espécie de educação universal já que cada sociedade real, em determinado momento da sua história, cria e impõe o tipo de educação de que necessita para o exercício de papéis sociais".
No encontro de Mombasa cujos trabalhos terminam quarta-feira, estão representados, para além de Angola e do país anfitrião, vários outros países africanos em situação de conflito ou pós-conflito, nomeadamente a África do Sul, a Côte d'Ivoire, a República Democrática do Congo (RDC), o Sudão e o Uganda, entre outros.
A reunião foi conjuntamente organizada pelo Ministério queniano da Educação e pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA) com o objectivo de estudar as formas de adaptar os sistemas educativos à função de prevenção e resolução de conflitos.
Esta iniciativa insere-se no quadro da implementação das recomendações saídas de uma conferência anterior realizada também em Mombasa, de 2 a 4 de Junho de 2004, que examinou os desafios da expansão da educação em situação de crise ou pós-conflito.
Na Declaração final saída desse encontro, os ministros africanos da Educação comprometeram-se a fazer dos seus sistemas educativos "verdadeiras agências e forças da paz, da prevenção e resolução de conflitos e de construção da unidade nacional".
"Os conflitos representam não só um simples freio e estagnação mas também um autêntico factor de regressão", refere a ADEA numa nota distribuída à imprensa em Mombasa, lembrando que quase metade de África foi devastada pela violência nas duas últimas décadas.
Um dos efeitos dessa situação no sector da educação, prossegue a nota, foi uma queda de 30 a 40 pontos na taxa de matrículas em muitos países africanos que já tinham praticamente atingido o acesso universal ao ensino primário.