Gil Évora nega encontro com Nicolas Maduro como enviado de Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) – O agora demitido gestor da empresa farmacêutica cabo-verdiana (EMPROFAC), Gil Évora, negou sábado que tivesse participado num encontro, em Caracas, com o Presidente venezuelano, Nicolas Maduro, como enviado do Governo de Cabo Verde.
O encontro teria ocorrido a propósito da prisão, a 12 de junho, em Cabo Verde, do empresário colombiano Alex Saab, a pedido das autridades americanas.
Em comunicado enviado à imprensa, a partir de Lisboa (Portugal), onde disse estar de férias, o economista Gil Évora admitiu ter estado, em Saint Vincent e Grenadines, mas com outra finalidade.
Afirmou que a sua deslocação foi no âmbito de um trabalho de consultoria sobre as exigências de Cabo Verde para atender ao pedido de “voos e vistos”, um serviço solicitado pela defesa de Alex Saab.
“Não fizemos qualquer missão a mando de Governo algum e nem fomos emissários de quem quer que seja. Igualmente não estivemos em palácio presidencial algum pelo que não contactamos qualquer Presidente e muito menos entidades governamentais de um outro país.
“É globalmente falso falar-se de encontros políticos”, sublinhou Gil Évora no seu comunicado, refutando "integralmente essas informações.
Considerou que tais informações "apenas servem para alimentar o gáudio de alguns que nos querem à força metidos em qualquer enredo do qual não somos e nem queremos ser parte”.
O gestor foi demitido sexta-feira pelo Governo do cargo de presidente do Conselho de Administração da Emprofac, por causa dessa polémica viagem à Venezuela.
A imprensa internacional viu a viagem como sendo uma missão secreta do Executivo cabo-verdiano, para negociar com Maduro uma eventual não extradição de Alex Saab para julgamento nos Estados Unidos.
No comunicado, Gil Évora assegura que ele e o antigo diretor-geral do Turismo, Carlos dos Anjos, acederam "a um convite feito pelos advogados que defendem o empresário colombiano, tido com testa de ferro do Presidente da Venezuela".
“Estando nas funções enquanto PCA da Emprofac, optamos por solicitar férias, exatamente para evitar colisão ou sobreposição do que quer que fosse.
"Naturalmente que neste particular tem o Governo um outro entendimento em como, mesmo estando de férias, estaremos a exercer funções de gestor público.
"Não temos necessariamente a mesma interpretação mormente sobre a necessidade de se justificar ou de se obter anuência prévia sobre a organização de férias pessoais dos servidores públicos.
"De todo o modo não nos parece ser este o tempo de esgrimir razões sobre este quesito”, argumentou.
O gestor afirma que esteve, na Espanha, a convite de uma empresa cabo-verdiana de consultoria na área de aviação civil, que está a prestar serviços ao coletivo de advogados de Alex Saab.
O serviço em causa vai no sentido de “melhor conhecer e estabelecer os trâmites de obtenção das autorizações para a realização dos voos e obtenção dos vistos de entrada em Cabo Verde".
A gestão de outros aspetos logísticos "face à necessidade premente de o grupo ter de se deslocar ao nosso país” faz ainda parte do serviço solicitado, acrecentou Gil Évora.
O economista explica ainda que, desde junho que “esta empresa Cabo-verdiana vem tratando de forma legal e transparente estas questões, como atestam as notas trocadas com as instituições caboverdianas ligadas aos aspetos logísticos de que falamos”.
"A viagem, que por ora tanta tinta faz correr, resultou de um convite formulado pelo Grupo de advogados para um encontro de planeamento e programação dos voos e vistos previstos para os meses de setembro e outubro para a ilha do Sal.
"O objetivo da viagem à Venezuela era e foi apenas comercial, sendo todo o resto invenções sem qualquer fundamento”, insiste Gil Évora.
Acrescentou que foi nessa lógica “que se programou esta missão para Saint Vincent e Granadines, local para onde efetivamente nos deslocamos".
Disse tratar-se de uma missão "totalmente custeada pelo grupo de advogados que se prontificou a assumir os encargos da deslocação, num jato privado espanhol da Corunha, tendo em conta a inexistência de ligação em voos comerciais”.
"Hoje, olhando para trás, damos conta de que fomos metidos interesseiramente num grande turbilhão de jogos de interesse entre países e entidades que nada têm a ver com as causas que defendemos.
"Afirmar que desembarcamos com cinco malas, quando na verdade apenas viajamos com o nosso 'carry on', são artificialidades deliberadas com o propósito firme de inflamar e atacar o bom nome das pessoas.
“De uma deslocação meramente comercial alguns quiseram tirar dividendos políticos, geoestratégicos e lançar confusão apenas”, analisa o gestor.
Gil Évora diz estar “absolutamente de consciência tranquila de que nada de mal ocorreu nesta deslocação e assumimos por inteiro todas as responsabilidades e todas as consequências desta deslocação”.
Na quinta-feira, 20, a imprensa internacional escreveu que o Governo de Cabo Verde enviou dois emissários a Caracas (Venezuela), designadamente Gil Évora e Carlos dos Anjos, com a missão de encetar contactos com o Presidente Nicolás Maduro, na sequência da detenção de Alex Saab.
No dia seguinte, sexta-feira, 21, o Governo demitiu Gil Évora do cargo de PCA da EMPROFAC, alegando “violação dos deveres inerentes ao gestor público e desvio da finalidade das funções”.
-0- PANA CS/IZ 23ago2020