Faleceu o politico e intelectual cabo-verdiano Onésimo Silveira
Praia, Cabo Verde (PANA) - O politico, inteletual e diplomata cabo-verdiano Onésimo Silveira, faleceu quinta-feira, 29, aos 86 anos, na sua cidade natal do Mindelo, na ilha de São Vicente, vítima de doença.
Onésimo Silveira notabilizou-se na vida politica cabo-verdiana por ter sido eleito, como candidato independente, o primeiro presidente da Câmara Municipal de São Vicente, após a instauração, nos anos 90 do século passado, do regime pluralista em Cabo Verde.
Depois de frequentar o liceu em São Vicente, partiu para São Tomé e Príncipe, onde deu os primeiros passos no seu engajamento na luta pela independência de Cabo Verde, na clandestinidade, nas fileiras do PAIGC, liderado por Amílcar Cabral.
Durante a década de 1960, Onésimo Silveira, depois de ter passado um período na China, exilou-se na Suécia onde, em 1976, se doutorou em Ciência Política, pela Universidade de Uppsala (Suécia).
altura em que já se tinha desentendido com o PAIGC, então no poder em Cabo Verde, e passou a ser um dos críticos do regime de partido único.
Nesse exílio, e como cidadão sueco trabalhou diplomata pelas Nações Unidas, em Nova Iorque, antes de representar a organização em Angola, Moçambique e Somália, entre outros países.
Nessa qualidade, Silveira obteve o reconhecimento de Nélson Mandela, devido ao trabalho que realizou para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados no apoio prestado aos refugiados sul-africanos e namibianos.
Com a abertura política em 1990, regressou definitivamente no seu país onde se envolveu na campanha para as primeiras eleições democráticas de 1991, ao lado do Movimento para a Democracia (MpD), partido que venceu as eleições e do qual também se distanciou mais tarde.
Mais tarde criou o Partido do Trabalho e da Solidariedade pelo qual foi deputado n o Parlamento e candidato, sem sucesso, à Presidência da Republica.
Além de um profundo defensor da democracia, ele se empenhou na luta pela regionalização do arquipélago, como ferramenta contra o centralismo do poder na capital do país.
Em 2002, com o PAICV (herdeiro do PAIGC) no poder, é nomeado embaixador do país em Portugal, que terá sido seu último cargo público.
Escritor profícuo, publicou em 1960 “Toda a gente fala; sim, senhor”, a primeira obra e à qual se seguiram várias outras como “Hora grande; poesia caboverdiana (1962), “Consciencialização na literatura caboverdiana” (1963), “Africa South of the Sahara: Party Systems and Ideologies of Socialism” (1976) e “A saga das as-secas e das graças de nossenhor (1991).
Também escreveu “A tortura em nome do partido único: o PAICV e a sua polícia política” (1992),“Contribuição para a construção da democracia em Cabo Verde”, (1994), “Poemas do tempo de trevas: Saga (poesia inédita e dispersa) Hora grande (reedição em 2008), entre muitas outras obras.
Onésimo Silveira também traduziu vários livros, entre os quais “Obras Completas de Mao Tsé Tung”, em parceria com o angolano Gentil Viana, e colaborava regularmente, com artigos de opinião, no jornal A Semana e em revistas de Cabo Verde, Portugal, França, Suécia e Noruega.
Em 2015, recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Mindelo, em Cabo Verde.
O falecimento de Onésimo Silveira despoletou reações de pesar e de consternação nas redes sociais de inúmeras instituições públicas e de figuras públicas do país e do estrangeiro.
O Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, afirmou que foi com sentimento de “grande perda” que recebeu a notícia do falecimento de Onésimo Silveira, considerando-o uma “personalidade cabo-verdiana que foi marcante” em vários domínios.
“Como Presidente de Cabo Verde, lamento imenso o seu desaparecimento físico, envio condolências em nome da Nação cabo-verdiana a todos os familiares, amigos e companheiros de Onésimo Silveira, e curvo-me à memória da sua grandeza, como homem da política, intelectual, homem da poesia e autarca”, declarou Jorge Carlos Fonseca.
Por sua vez, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, disse que "Cabo Verde perde uma das suas maiores figuras políticas, da cultura, um grande intelectual, um importante defensor da democracia, enfim um homem de causas e convicções fortes e um verdadeiro estadista que sempre foi por Cabo Verde, e São Vicente em particular".
Também o ex-primeiro-ministro José Maria Neves, cujo Governo nomeou Onésimo Silveira para chefiar a missão diplomática em Portugal, destacou o “poeta, cientista político, académico, ensaísta, autarca, diplomata e cidadão do Mundo.
“Inteligente, libertário, humanista, emotivo – regressou comigo a São Tomé e Príncipe, para chorar, de novo, diante da pobreza em que ainda vivem os contratados – e patriota”, escreveu José Maria Neves, realçando que Onésimo Silveira “sempre esteve do lado dos mais pobres e dos excluídos, dos desafortunados e deserdados”.
-0- PANA CS/IZ 30abril2021