FMI defende ajustamento sem comprometer recuperação económica de Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) - O chefe de missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Cabo Verde, Alex Segura, propôs ao Governo a introdução de medidas de ajustamento orçamental gradual, "que não comprometam a recuperação económica" do país, apurou a PANA de fonte oficial.
Em declarações aos jornalistas, após uma reunião de balanço da missão para o acompanhamento da situação económica do arquipélago, Alex Segura afirmou que o FMI concorda com o Executivo cabo-verdiana quanto às prioridades a serem apoiadas.
Disse ainda que o FMI reconhece que a economia do arquipélago vai atravessar um momento de dificuldade como as outras economias mundiais, por causa da pandemia da covid-19, e agora, a guerra causada pela invasão da Rússia na Ucrânia.
O representante do FMI considera que o Governo cabo-verdiano tem elementos para gerir esta nova crise de forma ótima, uma vez que mostrou uma grande capacidade de gestão da crise da pandemia.
“Pensamos que no FMI temos a obrigação de apoiar os países africanos que estão lidando com esta nova crise e, pensamos que Cabo Verde de facto vai poder contar com o nosso apoio“, enfatizou.
De acordo com Alex Segura, um dos desafios macroeconómicos mais importantes do país é a dívida elevada.
Neste sentido, ele defendeu que o Governo deveria introduzir algumas medidas de ajustamento orçamental gradual para não comprometer a recuperação económica, evitando, sobretudo, o impacto negativo sobre a despesa social.
Aliás, prosseguiu, para o FMI o país deveria tentar aumentar a despesa social, as despesas de proteção das famílias vulneráveis, das mulheres e das pessoas em situação difícil. Ou seja, reduzir a dívida, mas considerando como prioridade evitar o impacto negativo sobre a população.
Alex Segura informou que um novo programa para Cabo Verde está em preparação e que será finalizado nas próximas semanas.
“Pensamos que no mês de maio ou junho, este programa poderá ser aprovado pelo nosso conselho de administração”, afirmou.
A primeira prioridade do novo programa será manter a estabilidade macroeconómica, fazer face às dificuldades criadas pela inflação, encontrar medidas de apoio à população, medidas de apoio social para assegurar que famílias vulneráveis não sejam atingidas pelo aumento dos preços.
“Estabilidade, proteção social, melhora do ambiente de negócios e reformas estruturais para permitir que a economia cabo-verdiana a médio e longo prazo possa ter taxas de crescimento mais elevadas, mais impulsivas e seja uma economia ainda mais diversificada”, proferiu, acrescentando que ainda não foram discutidos valores específicos para o novo programa.
Durante uma conferência de imprensa conjunta para o balanço desta missão do FMI), que se encontra em Cabo Verde para o acompanhamento da situação económica do país, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, revelou que o Governo já propôs à instituição um novo programa de apoio, assente em quatro eixos e que prioriza a estabilidade de preços, a garantia da segurança alimentar, a inclusão social e equilíbrio macroeconómico.
Olavo Correia reconheceu que a situação económica do país é difícil, já que Cabo Verde está a viver os efeitos de uma tripla crise, climática, da pandemia da covid-19 e da guerra na Ucrânia, que exige respostas rápidas e a vários níveis.
Neste sentido, salientou, “é muito importante que Cabo Verde possa contar com a colaboração do FMI”.
“Nós tomamos a decisão de avançar com um novo programa com o FMI. Cabo Verde já fez vários programas com o Fundo, com financiamento e sem financiamento. Já temos uma curva de experiência boa em relação a gestão dos programas com o FMI e, portanto, nesse contexto penso que seria útil para o país que continuássemos com o programa com o FMI”, disse.
Olavo Correia explicou que esse programa está ancorado em quatro pilares, entre os quais a estabilidade financeira, a estabilidade de preços, quer internos, quer externos e estabilidade da segurança alimentar.
O objetivo, explicou o governante, é garantir não só os stocks estratégicos nos bens alimentares, mas também ter “uma boa política” de preços para que o país possa ter acesso, a todo tempo, a preços que sejam comportáveis para os rendimentos das famílias cabo-verdianos.
O programa prevê também medidas de estabilidade macroeconómica em que a estabilidade fiscal “ganha um peso importante” e também está incluído o tema da dívida pública cabo-verdiana que, segundo Olavo Correia, tem de ser olhada com sentido de responsabilidade, num cenário de médio prazo.
A questão da transparência, reformas económicas para aumentar o potencial da economia cabo-verdiana, melhorar o ambiente de negócios e a inclusão social são os outros pilares do programa proposto pelo Governo cabo-verdiano ao FMI.
Olavo Correia destacou a inclusão social como “tema-chave” deste programa, que se quer “linkado” com a questão da eliminação da pobreza extrema, em Cabo Verde.
“Nós queremos eliminar a pobreza extrema em Cabo Verde. Vamos ter uma ligação muito clara entre o novo programa do Fundo e a eliminação da pobreza extrema, mas também precisamos aumentar a cobertura ao nível do rendimento social de inclusão e ao nível da pensão social não contributiva e também ao nível do acesso à habitação condigna”, sustentou.
-0- PANA CS/IZ 25mar2022