Agência Panafricana de Notícias

FMI considera níveis de inflação em Angola "inaceitáveis"

Luanda, Angola (PANA) - A inflação em Angola é uma das mais altas do mundo, de momento, tendo atingido níveis que "não são aceitáveis", declarou terça-feira a missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que se encontra no país para consultas técnicas.

De acordo com o chefe da missão, o diplomata brasileiro Ricardo Velloso, o Banco Nacional de Angola (BNA, central) tem plena consciência de que estes níveis "não são aceitáveis", estando deste modo a tomar medidas, incluindo uma forte contração monetária.

Ricardo Velloso afirmou que tais medidas vêm sendo implementadas desde maio de 2016 e cujos resultados "já são visíveis"

“É preciso persistir e continuar com essas políticas para que a inflação volte a níveis mais aceitáveis”, sugeriu o economista, cuja delegação está em Angola desde 22 deste mês, para consultas técnicas regulares ao abrigo do artigo IV dos estatutos do FMI.

Ele indicou que a conjuntura atual da situação económica e financeira do país não difere muito da informação que consta do último relatório do FMI publicado este ano sobre Angola.

“Estamos na recolha de dados e ainda não temos uma visão diferente daquela que já comunicamos no relatório do FMI, em fevereiro deste ano, que foi debatido pelo nosso Conselho de Administração”, disse Velloso em declarações à imprensa, em Luanda.

Segundo ele, este relatório nota, entre outros aspetos, que o país sofreu um grande choque externo com a redução do preço do barril de petróleo, e que há um grande desafio do ponto de vista fiscal, no âmbito dos ajustes destes embates.

O relatório refere igualmente que, no plano cambial, ainda há trabalho por fazer, visto que o sistema de alocação de moeda estrangeira "é muito intrusivo", quando deveria ser mais determinado pela fonte do mercado.

Por outro lado, prossegue o documento, também as taxas de câmbio podiam "ser mais flexíveis" do que atualmente.

Ricardo Velloso falava no termo de um encontro que a sua delegação manteve com deputados da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional (AN, Parlamento) para avaliar a situação económica e financeira do país.

Na ocasião, o deputado Diógenes de Oliveira, vice-presidente da referida Comissão, confirmou que a reunião abordou a questão da inflação e seus reflexos na economia, e que se concluíu pela continuação do trabalho, no sentido da regressão da taxa de inflação, para que o equilíbrio macroeconómico "se faça sentir no interesse dos investidores e dos assalariados”.

Ele notou que, de uma maneira geral, houve uma evolução considerável nas questões que têm sido abordadas com o FMI quanto à situação financeira e económica de Angola.

Afirmou que a missão do FMI constatou que as medidas de natureza estrutural adotadas pelo Executivo angolano "estão a produzir bons resultados" e devem ser contínuas por forma a que a diversificação da economia seja uma realidade a médio e longo prazos.

Um dos aspetos analisados prende-se com a consolidação do trabalho já em curso sobre a introdução do Imposto de Valor Acrescentado (IVA), um instrumento que poderá trazer uma evolução no âmbito da justiça tributária, disse.

Acrescentou que a importância das micro, pequenas e médias empresas no alargamento da base tributária e na estabilidade do modelo da economia, não só na ótica de política tributária, mas também na renda a gerar e dos empregos que poderão criar, mereceu igualmente uma análise.

Nesta perspetiva, disse, foi defendida a necessidade de haver atores consistentes do ponto de vista do conhecimento, para que as empresas não tenham uma vida efémera, mas que possam ser parceiras fortes do Executivo no processo de estabilização da economia do país.

A deslocação da delegação do FMI à Assembleia Nacional visou a recolha de informações para que, na próxima visita ao país, depois das eleições gerais de agosto deste ano, se possa fazer uma melhor avaliação da situação.

Na ocasião, a delegação do FMI deu nota positiva ao Plano de Reestruturação e Recapitalização do Banco de Poupança e Crédito (BPC), "que deve estar assente em bases sólidas, para contribuir no desenvolvimento do país".

Segundo Ricardo Velloso, o BPC constitui um banco “importantíssimo” para a vida do país, augurando que nada “atrapalhe” os objetivos de desenvolvimento em causa.

Banco de capitais públicos, o BPC é detido em 75 porcento pelo Estado e aumentou o seu capital social no valor de 90 biliões de kwanzas angolanos (um dólar americano equivale a cerca de 166 kwanzas), em decisão saída da sua assembleia de acionistas de 24 deste mês.

-0- PANA ANGOP/IZ 28março2017