Escalada da violência nos Camarões preocupa altos responsáveis das Nações Unidas
Yaoundé, Camarões (PANA) – Quatro altos responsáveis onusinos apelaram sexta-feira para uma melhor proteção dos civis, nomeadamente das mulheres e crianças, nas províncias do sudoeste e do noroeste dos Camarões.
"Estamos profundamente preocupados com as informações que deram conta de violências, nomeadamente o ataque de 14 de fevereiro último perpetrado contra a aldeia de Ngardbuh, na província do noroeste, que fez 23 mortos dos quais 15 crianças”, declararam.
Segundo um comunicado das Nações Unidas, entre estes quatro responsáveis onusinos figura a representante especial do Secretário-Geral para as Crianças e Conflitos Armados, Virginia Gamba.
Os outros são a representante especial do Secretário-Geral sobre a Violência Sexual nos Conflitos, Pramila Patten; a representante especial do Secretário-Geral sobre a Violência contra as Crianças, Najat Maalla M’jid; e o conselheiro especial para a Prevenção do Genocídio, Adama Dieng.
Eles deploraram as informações segundo as quais ataques contra os civis teriam sido perpetrados, nomeadamente homicídios extrajudiciais, atos de tortura, detenções arbitrárias e destruições de bens bem como represálias, raptos, violações e outras formas de violência sexual, afetando de maneira desproporcionada as mulheres e as crianças nessas localidades.
Estes ataques obrigaram grande parte da população a abandonar as suas casas.
"As crianças continuam particularmente afetadas pela crise nos Camarões”, constataram.
Informações dão conta de ataques perpetrados contra escolas, encerramentos de estabelecimentos escolares nas províncias afetadas e várias milhares de crianças fora do sistema de ensino.
As informações recebidas sobre o recrutamento e a utilização de crianças por atores armados e a detenção de crianças devido à sua associação real ou suposta com atores armados “levantam outros problemas de proteção”, disseram os altos responsáveis onusinos.
Além disso, várias centenas de milhares de pessoas teriam sido deslocadas nas províncias afetadas e a falta de segurança agravou ainda o futuro dos grupos marginalizados e vulneráveis.
"É urgente prevenir nova onda de violência e proteger todas as mulheres e raparigas e todos os rapazes e homens contra as violências graves do direito internacional humanitário e dos direitos humanos”, sublinharam Gamba, Patten M’jid e Dieng.
Nos Camarões, um acesso humanitário muito restrito e recursos limitados para os prestadores de serviços reduziram a disponibilidade dos tratamentos de saúde sexual e reprodutiva para as mulheres, incluindo o tratamento urgente para os sobreviventes de violências sexuais”.
Segundo o comunicado, os quatro altos responsáveis onusinos apelaram ao Governo camaronês para assumir a sua responsabilidade principal de proteger a sua população ao atacar as causas profundas da violência e ao velar para que as vítimas dos ataques beneficiem da proteção e da assistência apropriadas.
Eles apelaram, além disso, às autoridades para investigar de forma aprofundada e fazer com que os responsáveis das graves violações e dos abusos cometidos respondem pelos seus atos em Tribunal.
"Exortamos o Governo dos Camarões a garantir o respeito total dos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres e das crianças, e a velar para que as necessidades humanitárias dos civis sejam satisfeitas”, disseram.
Eles lembraram ao Governo que as crianças associadas a grupos armados devem ser consideradas principalmente como vítimas e que a sua detenção só deve ser utilizada em último recurso e para a duração mais curta.
"Também lembramos que todas as formas de violência sexual estão categoricamente proibidas em virtude do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, afirmaram.
A ONU lembrou que ela oferece o seu apoio e a sua assistência às autoridades camaronesas para remediar a esta situação e melhorar a proteção e a prestação de serviços para os civis nas zonas afetadas e aqueles para foram deslocados à força.
-0- PANA MA/NFB/JSG/SOC/FK/IZ 23fev2020