Empresários cabo-verdianos destacam importância de acordo de livre comércio africano para Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) – Representantes das organizações da classe empresarial cabo-verdiana destacaram a importância para Cabo Verde do Acordo de Livre Comércio Continental Africano (ALCCA), em vigor desde 01 de janeiro corrente, apurou a PANA de fonte segura.
Em declarações à agencia cabo-verdiana de noticias (Inforpress), o
presidente da Câmara de Comércio do Sotavento (CCS), agremiação que representa a classe empresarial da região sul do arquipélago, sublinhando que se trata de uma “boa notícia, uma boa grande medida.”
Considerou que o ALCCA será uma “grande medida e um bom acordo” caso seja efetivamente aplicado.
No entanto, Jorge Spencer Lopes vincou que a CCS quer saber qual será a "posição política clara e real dos países”, sobretudo dos “grandes países” africanos que comandam o comércio, como a Nigéria, o Egito, a África do Sul e Angola, na aplicação deste acordo.
A aplicabilidade desta medida, segundo o presidente do CCS, depende dos poderes políticos.
Porém, assinalou que, neste momento, não existe uma unidade africana “forte e coerente”, que defenda África e princípios africanos.
“Ainda temos muitos dirigentes de países africanos dependentes de outros países (…) e enquanto isso não for ultrapassado, enquanto os Africanos não assumirem a sua africanidade e a sua pertença a um continente forte, digamos um continente com maiores projeções de crescimento e sermos nós os Africanos a decidir por nós mesmos, a pensar pelas nossas próprias cabeças, nenhum acordo vai funcionar ou vai para frente”, advertiu.
Este acordo, prosseguiu, não é mais do que a continuidade de vários acordos regionais existentes com a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), a África Central e a África Austral, que também “não funcionam ou funcionam só em termos políticos.”
Com a entrada em vigor do ALCCA, sublinhou, é necessário passar-se à parte prática, ou seja, ter-se as fronteiras abertas.
Os Estados não devem meter empecilhos na circulação de pessoas e devem, acima de tudo, respeitar as institucionais multinacionais, e não continuarem a fazer aquilo que bem entenderem no domínio dos acordos, acrescentou.
Jorge Spencer Lima disse estar convicto de que, se este acordo for realmente implementado, todo mundo sai a ganhar, inclusive, o continente e a economia africana, que, neste momento, em termos de comércio entre os países africanos, é de menos de 10 por cento.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Comércio do Barlavento (CCB), organização que reúne no seu seio a classe empresarial do norte do arquipélago, disse acreditar que uma das maiores vantagens de Cabo Verde ter ratificado o Acordo de Livre Comércio Continental Africano (ALCCA) será o alargamento do mercado para o país.
Jorge Maurício disse estar expetante quanto à implementação efetiva do ALCCA, e que, tal como outros acordos, “traz vantagens e desvantagens.”
“Mas, a priori, uma das maiores vantagens será o alargamento do mercado para Cabo Verde, um mercado com possibilidade de as empresas se internacionalizarem e aumentarem a exportação”, sustentou Jorge Maurício.
A seu ver, é “muito interessante” ter-se um acordo assinado por 54 dos 55 Estados africanos e ratificado por 40 destes.
O facto de Cabo Verde, segundo ele, ter ratificado tal acordo mostra a abertura do país para estar num mercado unido, que permita a circulação de mercadorias e serviços através da mobilidade das pessoas.
Sendo assim, acentuou, vai ser preciso, o país apostar “especialmente num sistema de transporte fiável e numa logística que funcione.”
“Cabo Verde já é um arquipélago isolado no meio do Atlântico e, por isso, precisa de um sistema de transporte muito mais eficaz e uma rede logística que abranja não somente o país, como também com ligação com o continente africano”, reiterou Jorge Maurício, apontando outras diligências a serem tomadas, entre as quais, a definição duma pauta aduaneira e de produtos considerados prioritários para exportação.
O presidente da CCB referiu ainda à “fraca capacidade produtiva” existente e que deverá ser colmatada com “apostas claras e prioritárias” como “pensar na industrialização para aumentar a exportação e diminuir a importação.”
Conforme a mesma fonte, o Estado deve pensar em indústrias para a sustentabilidade alimentar como a agro-indústria.
O responsável da agremiação, com sede em São Vicente, disse acreditar ainda que Cabo Verde tem potencialidades no que se refere às pequenas indústrias, que “precisam produzir mais”.
O ALCCA entrou em vigor oficialmente sexta-feira última por um período de mais de cinco anos de negociações para reduzir ou eliminar tarifas alfandegárias entre os países africanos, num contexto de tensões comerciais em várias partes do mundo, nomeadamente na Europa, onde o Reino Unido saiu da União Europeia no quadro de um acordo comercial pós-Brexit (saída da Grâ-Bretanha).
O acordo, não assinado apenas pela Eritreia, pretende eliminar ou reduzir tarifas alfandegárias na maior parte dos bens, facilitar o movimento de pessoas e de capitais, promover o investimento no continente e preparar o estabelecimento de uma união aduaneira no continente.
Prevê-se que esteja completamente operacional em 2030, tornando África numa região maior de comércio livre do mundo.
-0- PANA CS/DD 05jan2021