PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
Educação para a paz "insuficiente" para prevenir sozinha conflitos em África
Kinshasa, RD Congo (PANA) – A “educação para a paz” sozinha não poderá resolver o problema dos crónicos conflitos armados e outras formas de violência em África, enquanto se mantiverem intactas as principais causas deste flagelo que são de natureza económica.
Esta foi uma das preocupações levantadas na Mesa Redonda sobre “Educação, Paz e Desenvolvimento”, decorrida de 26 a 28 de julho corrente em Kinshasa, capital da RD Congo, por iniciativa da Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA).
A ADEA tem-se destacado, ultimamente, na promoção do diálogo entre os principais atores e decisores educacionais em África para se integrar a “educação para a paz” nos currículos escolares, visando despertar nos alunos a consciência pacifista e avessa à violência.
A ideia é cultivar, desde os primeiros ciclos do ensino, uma mentalidade de tolerância universal que passe pela aceitação e pelo reconhecimento das diferenças socioculturais intra e intersocietais tidas como uma das fontes de conflitos entre povos e nações.
Porém, alguns participantes na Mesa Redonda de Kinshasa observaram que, embora a educação para a paz seja um bom começo, é imperioso resolver-se os problemas económicos que, para eles, são a origem primária dos ciclos de conflitos ou guerras civis em África.
Por exemplo, disseram, a maioria dos conflitos, das guerras civis ou das crises violentas no continente “nem sempre têm raízes étnicas ou tribais” mas que derivam da pobreza extrema e da má governação que conduz à concentração da riqueza nacional numa elite minoritária.
Esta situação cria a divisão das sociedades africanas entre os mais pobres e marginalizados, por um lado, e os mais ricos, por outro, que acabam por se convencer ou dar a impressão de serem mais cidadãos que os outros, obrigando os mais desfavorecidos a sublevarem-se para reconquistar os seus direitos.
No entender dos defensores dessa visão, estes problemas económicos são de uma perspetiva mais ampla em que os interesses das forças estrangeiras também desempenham um papel crucial de incitação ou fomento do fratricídio para tirarem proveito da fragilidade criada.
Por exemplo, Kiragu Magochi, um dos membros da delegação queniana, citou os casos do seu país, da África do Sul e de Angola, entre outros, para dizer que em todas estas nações “nunca houve problemas étnicos, tribais ou comunitários” como fonte de conflitos.
Para ele, o seu país não vive problemas de intolerância étnica e religiosa, à semelhança de Angola, onde a recém-terminada guerra civil foi imposta ou alimentada por forças estrangeiras, no quadro da Guerra Fria e dos interesses geopolíticos e económicos das potências mundiais.
“Haverá, por acaso, problemas de convivência pacífica entre as diferentes tribos, etnias ou comunidades em Angola ou no Quénia?, interrogou-se em breves declarações à PANA à margem do encontro, antes de insistir que “nunca houve problemas de intolerância étnica no Quénia nem em Angola”.
Indicou que o mesmo se aplica à África do Sul onde "todos pensávamos que quando o homem negro passasse a ter o homem branco como seu vassalo, os problemas ficariam resolvidos"
Ele afirmou que o próprio sistema de apartheid “não era tão racista como tem sido pintado mas essencialmente económico" e que só terminou porque deixou de ser viável.
“O sistema de apartheid na África do Sul foi mantido porque favorecia os interesses económicos dos seus promotores e chegou ao fim porque passou a ser muito oneroso, um fardo pesado demais para continuar, e da mesma forma que os abolicionistas acabaram com a escravatura porque perceberam que era menos barato ficar sema ela", insistiu Magochi.
Por isso, defendeu ser responsabilidade dos Governos africanos reverem os seus programas e políticas para resolverem os problemas económicos que afetam os seus cidadãos, criando a equidade e o equilíbrio.
Mas outros participantes argumentaram que os problemas económicos e os conflitos em si são antes sintomas do que causas dos sofrimentos das populações africanas, e insistiram que os alunos devem desevenvolver habilidades que lhes permitam tomar decisões acertadas quando confrontados com o dilema de alinhar ou rejeitar a violência.
Para os apoiantes desta escola de pensamento, uma vez que os conflitos e a violência são obra humana e os homens são egoístas por natureza, "os nossos sistemas de educação devem estar estruturados de tal forma que possam solucionar os nossos problemas específicos, em vez de serem copiados dos outros".
“As causas profundas são as programações emocionais e o subconsciente do homem que influenciam o seu comportamento e as suas escolhas em relação às suas necessidades e às da comunidade", considera a filósofa franco-italiana baseada na Suíça, Martine Libertino.
Sem, no entanto, contrariar totalmente a posição de Kiragu Magochi, a filósofa, escritora e pintora Martine Libertino, colocou-se entre os defensores assumidos do princípio de que, sobretudo para África, "a paz depende da educação dos seus filhos desde a sua primeira infância".
Por exemplo, ela discorda da negação do caráter racista do sistema de apartheid na África do Sul embora corrobore na sua sustentação económica à qual ela acrescenta o desvio daquilo que ela chama de "valores fundamentais da espiritualidade", tais como "o amor, a responsabilidade, o ideal, o rigor e a liberdade" .
No entender de Martine Lamartino, tanto as guerras, as injustiças sociais e a violência como a fome, a corrupção, o analfabetismo, as epidemias e a má interpretação da cultura, das religiões e do poder assim como o racismo e o fanatismo são todos "sintomas" e não causas do sofrimento das populações africanas em geral e das suas comunidades, em particular.
Entre as "programações emocionais", que ela considera como as "causas profundas", Martino define as principais como sendo "o medo, a dúvida e a desconfiança, a cólera e o sentimento de injustiça, o egoísmo e o orgulho, a indiferença e a cobardia, a incompreensão e o sentimento de inferioridade".
Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Kinshasa
-0- PANA IZ 29julho2011
Esta foi uma das preocupações levantadas na Mesa Redonda sobre “Educação, Paz e Desenvolvimento”, decorrida de 26 a 28 de julho corrente em Kinshasa, capital da RD Congo, por iniciativa da Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA).
A ADEA tem-se destacado, ultimamente, na promoção do diálogo entre os principais atores e decisores educacionais em África para se integrar a “educação para a paz” nos currículos escolares, visando despertar nos alunos a consciência pacifista e avessa à violência.
A ideia é cultivar, desde os primeiros ciclos do ensino, uma mentalidade de tolerância universal que passe pela aceitação e pelo reconhecimento das diferenças socioculturais intra e intersocietais tidas como uma das fontes de conflitos entre povos e nações.
Porém, alguns participantes na Mesa Redonda de Kinshasa observaram que, embora a educação para a paz seja um bom começo, é imperioso resolver-se os problemas económicos que, para eles, são a origem primária dos ciclos de conflitos ou guerras civis em África.
Por exemplo, disseram, a maioria dos conflitos, das guerras civis ou das crises violentas no continente “nem sempre têm raízes étnicas ou tribais” mas que derivam da pobreza extrema e da má governação que conduz à concentração da riqueza nacional numa elite minoritária.
Esta situação cria a divisão das sociedades africanas entre os mais pobres e marginalizados, por um lado, e os mais ricos, por outro, que acabam por se convencer ou dar a impressão de serem mais cidadãos que os outros, obrigando os mais desfavorecidos a sublevarem-se para reconquistar os seus direitos.
No entender dos defensores dessa visão, estes problemas económicos são de uma perspetiva mais ampla em que os interesses das forças estrangeiras também desempenham um papel crucial de incitação ou fomento do fratricídio para tirarem proveito da fragilidade criada.
Por exemplo, Kiragu Magochi, um dos membros da delegação queniana, citou os casos do seu país, da África do Sul e de Angola, entre outros, para dizer que em todas estas nações “nunca houve problemas étnicos, tribais ou comunitários” como fonte de conflitos.
Para ele, o seu país não vive problemas de intolerância étnica e religiosa, à semelhança de Angola, onde a recém-terminada guerra civil foi imposta ou alimentada por forças estrangeiras, no quadro da Guerra Fria e dos interesses geopolíticos e económicos das potências mundiais.
“Haverá, por acaso, problemas de convivência pacífica entre as diferentes tribos, etnias ou comunidades em Angola ou no Quénia?, interrogou-se em breves declarações à PANA à margem do encontro, antes de insistir que “nunca houve problemas de intolerância étnica no Quénia nem em Angola”.
Indicou que o mesmo se aplica à África do Sul onde "todos pensávamos que quando o homem negro passasse a ter o homem branco como seu vassalo, os problemas ficariam resolvidos"
Ele afirmou que o próprio sistema de apartheid “não era tão racista como tem sido pintado mas essencialmente económico" e que só terminou porque deixou de ser viável.
“O sistema de apartheid na África do Sul foi mantido porque favorecia os interesses económicos dos seus promotores e chegou ao fim porque passou a ser muito oneroso, um fardo pesado demais para continuar, e da mesma forma que os abolicionistas acabaram com a escravatura porque perceberam que era menos barato ficar sema ela", insistiu Magochi.
Por isso, defendeu ser responsabilidade dos Governos africanos reverem os seus programas e políticas para resolverem os problemas económicos que afetam os seus cidadãos, criando a equidade e o equilíbrio.
Mas outros participantes argumentaram que os problemas económicos e os conflitos em si são antes sintomas do que causas dos sofrimentos das populações africanas, e insistiram que os alunos devem desevenvolver habilidades que lhes permitam tomar decisões acertadas quando confrontados com o dilema de alinhar ou rejeitar a violência.
Para os apoiantes desta escola de pensamento, uma vez que os conflitos e a violência são obra humana e os homens são egoístas por natureza, "os nossos sistemas de educação devem estar estruturados de tal forma que possam solucionar os nossos problemas específicos, em vez de serem copiados dos outros".
“As causas profundas são as programações emocionais e o subconsciente do homem que influenciam o seu comportamento e as suas escolhas em relação às suas necessidades e às da comunidade", considera a filósofa franco-italiana baseada na Suíça, Martine Libertino.
Sem, no entanto, contrariar totalmente a posição de Kiragu Magochi, a filósofa, escritora e pintora Martine Libertino, colocou-se entre os defensores assumidos do princípio de que, sobretudo para África, "a paz depende da educação dos seus filhos desde a sua primeira infância".
Por exemplo, ela discorda da negação do caráter racista do sistema de apartheid na África do Sul embora corrobore na sua sustentação económica à qual ela acrescenta o desvio daquilo que ela chama de "valores fundamentais da espiritualidade", tais como "o amor, a responsabilidade, o ideal, o rigor e a liberdade" .
No entender de Martine Lamartino, tanto as guerras, as injustiças sociais e a violência como a fome, a corrupção, o analfabetismo, as epidemias e a má interpretação da cultura, das religiões e do poder assim como o racismo e o fanatismo são todos "sintomas" e não causas do sofrimento das populações africanas em geral e das suas comunidades, em particular.
Entre as "programações emocionais", que ela considera como as "causas profundas", Martino define as principais como sendo "o medo, a dúvida e a desconfiança, a cólera e o sentimento de injustiça, o egoísmo e o orgulho, a indiferença e a cobardia, a incompreensão e o sentimento de inferioridade".
Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Kinshasa
-0- PANA IZ 29julho2011