Agência Panafricana de Notícias

Dois polícias cabo-verdianos detidos em Bissau por alegada espionagem

Praia, Cabo Verde (PANA) – Dois agentes da Polícia Nacional (PN) cabo-verdiana, ligados aos Serviços de Emigração e Fronteiras (SEF), foram detidos pelas autoridades bissau-guineenses por suspeita de espionagem, apurou a PANA sábado de fonte oficial.

A detenção dos dois agentes da PN, que acompanhavam alguns cidadãos bissau-guineenses que residiam ilegalmente em Cabo Verde, terá ocorrido a 9 de julho corrente.

Ela foi confirmada pelo primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, em declarações à Rádio de Cabo Verde (RCV), recusando-se, no entanto, a posicionar-se porque "o processo é ainda confuso".

“Não temos todos os elementos que nos permitem pronunciar-nos claramente sobre esta matéria. Estamos a fazer a recolha de informações e os contactos necessários para tomar uma posição definitiva sobre a matéria e solicitar que medidas sejam tomadas no sentido de garantir o respeito escrupuloso dos direitos dos agentes”, revelou José Maria Neves.

José Maria Neves garantiu que os dois agentes se deslocaram em missão de serviço normal que tem a ver com o melhor desempenho da PN na área de fronteiras.

"Trata-se de uma deslocação de rotina que os agentes vêm fazendo não só à Guiné-Bissau mas também a outros países”, precisou.

Quando confrontado com o facto de as autoridades da Guiné-Bissau terem deixado entender que os agentes estariam em missão de espionagem, Neves disse não querer entrar em pormenores sobre tal acusação, mas recordou que o arquipélago “não tem nenhum serviço de espionagem” e muito menos “interesse em fazer espionagem em nenhum país do mundo”.

“Não queremos comentar estas desinformações", concluiu.

Na sua edição deste domingo o jornal online “A Semana” revela que, entre os agentes da PN em Cabo Verde, não restam dúvidas de que esta detenção é uma retaliação da Guiné Bissau à detenção de Bubo na Tchuto por agentes de luta antidroga americanos, que lançaram suspeitas da participação de agentes da Polícia cabo-verdiana na operação.

Numa conferência de imprensa em Bissau, o porta-voz do Governo de transição, Fernando Vaz, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Faustino Imbali, disseram ter provas de que o antigo chefe da marinha Bubo Na Tchuto, atualmente detido nos Estados Unidos, foi preso em território guineense e com a participação de polícias cabo-verdianos.

Fernando Vaz disse que o Governo de transição quer esclarecimentos cabais sobre as circunstâncias que levaram à prisão de Bubo Na Tchuto, já que "há factos novos" que indicam que a prisão do antigo militar ocorreu em território guineense e foi "realizada por agentes policiais cabo-verdianos".

O Governo "não pretende caucionar a impunidade sobre este ou qualquer outro caso dito de Polícia", disse Fernando Vaz.

Mas, ressalvou, "não deixamos de ficar surpreendidos com mais este insólito e provocatório comportamento do Governo cabo-verdiano, quando usa dois pesos e duas medidas na sua contribuição no combate à criminalidade na sub-região".

Segundo Fernando Vaz, Cabo Verde foi cúmplice "na passagem pelo seu território de armas e medicamentos destinados aos combatentes do MFDC" (independentistas da Casamança, no sul do Senegal), e o Governo de transição tem provas disso mas que até à data ainda não apresentou publicamente.

Em reação a essas acusações, o primeiro-ministro cabo-verdiano desvalorizou-as, considerando-as “descabidas de qualquer credibilidade e sem qualquer significado para o Governo cabo-verdiano”.

-0- PANA CS/IZ 14julho2013