Dois jovens mortos durante enterro de vítimas de manifestações em Conakry
Conakry, Guiné-Conakry (PANA) – Dois jovens simpatizantes da Frente Nacional para a Defesa da Constituição (FNDC), na Guiné-Conakry, foram mortos a tiro, segunda-feira à noite, à margem da inumação dos 11 militantes, abatidos antes nas mesmas circunstâncias, reconheceu a Polícia Nacional num comunicado transmitido à PANA, terça-feira.
Os corpos sem vida de Abdramane Diallo, motorista de quase 30 anos de idade, e de Mohamed Sylla, aluno de 17 anos de idade, foram transportados para a morgue do Centro Hospitalar Universitário (CHU) de Ignace Deen, o maior do país, indica o comunicado.
A Polícia, que não explica as circunstâncias em que morreram os dois simpatizantes da FNDC, reconheceu que confrontos eclodiram entre as forças da ordem e os membros do cortejo fúnebre que se dirigia para o cemitério de Bambéto, arredores de Conakry e bastião do principal partido da oposição, a União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG), do antigo primeiro-ministro, Mamadou Cellou Dalein Diallo.
A direção da Polícia indicou que o ministro de tutela, Alpha Ibrahima Kéïra, ordenou a abertura “de inquéritos profundos e sérios”, com vista a determinar as causas exatas da morte dos dois jovens militantes.
O Presidente da República, Alpha Condé, ordenou ao seu primeiro-ministro, Ibrahima Kassory Fofana, a tomada de medidas para diligenciar os inquéritos sobre a morte, em outubro último, dos 11 membros da FNDC, todos jovens, que foram a enterrar, segunda-feira à tarde, no meio de confusões e confrontos entre as forças da ordem e os simpatizantes da FNDC, o que provocou enormes engarrafamentos até à noite.
Os 11 jovens militantes da oposição guineense morreram recentemente durante manifestações de rua organizadas pela FNDC, para protestar contra eventual modificação da Consitituição, visando permitir ao atual Presidente, Alpha Condé, disputar um terceiro mandato após o seu segundo e último de cinco anos que termina, em outubro de 2020.
Com o mesmo propósito, a FNDC decidiu organizar periodicamente manifestações "pacíficas", em todo o território nacional e também no estrangeiro.
Na cerimónia funerária, na presença dos parentes das vítimas e de um vasto público, o antigo alto representante do chefe de Estado, líder da União das Forças Republicanas (UFR) e ex-primeiro-ministro, Sidya Touré, exortou os Guineenses a levantar-se para combater o regime instituído.
"Todos esses jovens foram abatidos, porque quiseram defender a Constituição para evitar um terceiro mandato ao Presidente da República”, disse o líder político, exortando o povo guineense a continuar o combate pela instauração de uma verdadeira democracia na Guiné-Conakry.
O líder da UFDG tem lembrado que 104 pessoas, essencialmente militantes do seu partido, foram abatidas pelas forças da ordem desde a chegada de Condé ao poder, em 2010, cifra essa que teria por subido com as 11 vítimas sepultadas em Bambéto e as duas outras colhidas durante as exéquias.
Constituída de atores da sociedade civil, artistas, sindicalistas, líderes de alguns partidos da oposição, a FNDC prevê organizar, quinta-feira, uma nova marcha de protestos contra o terceiro mandato de Condé.
-0- PANA AC/JSG/FK/IZ 05nov2019