Agência Panafricana de Notícias

Desvalorização do metical moçambicano foi fenómeno negativo em 2015, diz governador

Tete, Moçambique (PANA) - A desvalorização do metical moçambicano foi um fenómeno negativo para Moçambique em 2015, ano que se revelou "atípico e de muitos desafios" apesar de todas as cautelas observadas, segundo o governador do Banco de Moçambique (BM, central), Ernesto Gove.

Gove explicou que a volatilidade cambial enfrentada em 2015 resultou de uma conjuntura internacional adversa caraterizada pelo fortalecimento do dólar americano e pela queda generalizada dos preços das principais mercadorias, com ênfase para as que o país exporta.

"Apesar de termos iniciado o ano de 2015 com redobradas cautelas em face dos sinais que se vislumbravam já em finais de 2014, o ano transato revelou-se atípico e de muitos desafios”, declarou o governador na abertura, quarta-feira, do 40º Conselho Consultivo do BM, na cidade de Tete, centro do país.

Segundo Gove, a série cronológica que o BM possui revela que os anos pós-eleitorais são particularmente afetados, sob o ponto de vista de estabilidade dos indicadores macroeconómicos, com incidência para a inflação e taxa de câmbio e 2015 foi o exemplo.

“A nossa balança de pagamentos ressentiu-se de menores receitas de exportações, num contexto em que o nível de importações praticamente se manteve igual ao do ano anterior”, disse.

Adicionalmente, prosseguiu, o BM registou em 2015 menores desembolsos de fundos de ajuda externa para o apoio direto ao orçamento, bem assim a uma queda do investimento direto estrangeiro, num contexto de acréscimo substancial do serviço de dívida pública externa.

“Estes fatores, conjugados com outros de natureza psicológica, pesaram fortemente para que a depreciação do metical moçambicano atingisse 40 porcento em finais do ano, ainda assim abaixo do nível de 70 porcento que acumulávamos até novembro”, explicou.

Ele precisou que, no último trimestre do ano e com maior incidência no mês de dezembro, o nível geral de preços suplantou as projeções do BM, ao fixar-se em 11,1 porcento, em termos acumulados, e em 10,6 porcento quando considerado o índice agregado do país.


Para o governador do BM, este quadro resultou das pressões advindas do mercado cambial, conjugadas com a decisão do Governo de ajustar os preços de alguns produtos administrados que permaneciam fixos desde 2010, assim como a ocorrência de práticas de especulação de preços por parte de alguns agentes económicos.

“A necessidade de reverter este quadro levou-nos a tomar um conjunto de medidas de política, convencionais e não convencionais, orientadas a contrariar a volatilidade cambial com impacto de curto e médio prazos na aceleração do indicador de inflação e expansão dos agregados monetários”, acrescentou.

Gove revelou que o Comité de Política Monetária do BM procedeu ao ajustamento em alta das taxas de juro das facilidades permanentes de cedência e de depósito, colocando-as em finais de dezembro em 9,75 e 3,75 porcento, respectivamente, tendo o Coeficiente de Reserva Obrigatória sido ajustado para 10,5 porcento.

Na parte final do ano, disse, o banco central moçambicano estabeleceu um limite de pagamentos ao exterior com recurso ao cartão de débito e crédito, num montante não superior a 700 mil meticais, por ano civil e por pessoa.

Isto foi depois de a instituição financeira central ter concluído ser imperioso conferir aos cartões de pagamentos internacionais maior segurança e confiança, afastando os receios de práticas suscetíveis de configurar atos ilícitos de branqueamento de capitais.

“Notamos com satisfação que, no curto prazo, estas medidas inverteram o comportamento da taxa de câmbio, tendo a cotação média do metical em relação ao dólar dos EUA passado de 54,06 meticais no último dia de novembro para cerca de 45 meticais por dólar, no fecho da primeira quinzena de janeiro de 2016", indicou.

Por outro lado, disse, esta tendência estendeu-se ao segmento dos bancos comerciais com a sua clientela, que de uma taxa média de 56,0 meticais por dólar, no último dia de novembro, recuou para os atuais 46,58 meticias por dólar.

Referiu que, mais ainda, a alta dos preços que foi generalizada em todos os mercados nas primeiras três semanas de dezembro de 2015 registou alguma moderação nos finais do ano e nas primeiras semanas de janeiro de 2016, "ainda assim insuficiente para contrariar a onda de especulação observada desde novembro".

Em 2015, mesmo perante uma conjuntura difícil, o Banco de Moçambique disponibilizou ao mercado cambial para apoiar o processo de importação e para o funcionamento regular da economia um total de um bilião e 82 milhões de dólares americanos, respeitando os compromissos estabelecidos para 2015, em termos de Reservas Internacionais Líquidas.

“A base monetária, nossa variável operacional, encerrou o ano acima das nossas previsões iniciais, (o que é) justificado pelo efeito conjugado do impacto da taxa de câmbio sobre passivos sujeitos à constituição de reservas obrigatórias, denominados em moeda estrangeira, num contexto em que o seu coeficiente foi incrementado para 10,5 porcento e pela pressão sazonal sobre as notas e moedas em circulação”, explicou.

-0- PANA AIM/IZ 28jan2016